O número de atendimento de crianças de 0 a 11 anos, vítimas de algum tipo de violência sexual, subiu 287% entre os anos de 2001 e 2010 no Hospital Pérola Byington, na Capital. Isso foi o que revelou um levantamento da instituição, que é referência nesse tipo de atendimento no Estado de São Paulo.
Diariamente, cerca de 20 pessoas procuram o serviço do Núcleo de Atenção Integral à Mulher em Situação de Violência Sexual, ligado à Secretaria Estadual de Saúde. Seja encaminhada por uma delegacia de polícia de alguma cidade da Grande São Paulo para a realização do exame de corpo delito ou por conta própria – sem o registro do crime – apenas atrás de profissionais que possam ajudá-las. Todas as violentadas passam por um tratamento com um coquetel de remédios para prevenção de gravidez, infecção pelo HIV, doenças sexualmente transmissíveis não virais e hepatite B.
“O momento é de tensão absoluta, afinal muitas mulheres se culpam pelo fato (estupro)”, comentou a diretora do serviço social do Pérola Bayton, Sandra Garrido, que desde 1999 trabalha no departamento.
Até a recepcionista do centro hospitalar fica assustada com tanta crueldade no dia a dia de trabalho. Mas os funcionários (assistentes sociais, médicos e psicólogos) seguem o protocolo profissional e atenderam, em 2010, 2.552 pacientes, sendo 2.163 do sexo feminino e 389 do sexo masculino.
PEDOFILIA NA MÍDIA
As crianças e adolescentes são as maiores vítimas desse tipo de abuso, representando 83,5%, dos atendidos para ajuda médica e psicológica no hospital. Para se ter uma ideia, em 2001, 352 crianças de 0 a 11 anos ganharam os cuidados clínicos. No ano passado, esse número saltou para 1.362 casos (veja os números na tabela).
“Acreditamos que o número subiu tanto não pelo fato de novos casos, mas sim pela exposição do problema da pedofilia à sociedade, através de campanhas preventivas e da mídia. As pessoas começaram a buscar ajuda para uma coisa que, infelizmente, sempre existiu, mas que não ficava tão evidente”, disse a diretora.
Entre os pacientes mais comuns estão os bebês, em que os abusadores são os próprios pais e familiares próximos. Também mulheres que foram estupradas pelos próprios maridos ou ex-companheiros que não aceitaram o fim da relação e forçaram uma relação sexual. Além de vítimas da violência urbana, sem um perfil definido.
“Com a lei Maria da Penha, as mulheres passaram a procurar mais as delegaciais, mas ainda existe muito preconceito dentro das delegacias, inclusive nas exclusivas para mulheres. Pelo menos é o que elas se queixam”, revelou a diretora Sandra Garrido.
Uma constatação obtida entre as vítimas é que muitas não procuram ajuda médica logo após o abuso e deixam para depois. Para o efeito do coquetel de remédios ter maior eficácia e até para a coleta de possíveis provas criminais para identificar o criminoso é importante a denúncia do crime imediatamente.
“Sabemos que é um trauma, mas essa é a maneira necessária para se prevenir de doenças e até de uma gravidez indesejada”, explicou Sandra. Caso a gravidez se concretize, essas mulheres têm o direito a interromper a gestação, apiadas por lei que assegura a realização do aborto, com todo o amparo do Estado e da Justiça.
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