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Karmann britânica mostra interesse

Segundo sindicato, empresa que se diz proprietária da marca no Reino Unido quer conversar

Por Paula Oliveira
Especial para o Diário
25/11/2016 | 07:00
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André Henriques/DGABC


Empresa que se diz proprietária da Karmann Ghia no Reino Unido entrou em contato com o Sindicato dos Metalúrgicos do ABC e se demonstrou interessada em iniciar conversa sobre a situação da autopeça homônima de São Bernardo, que teve a falência decretada pela Justiça na quarta-feira, por abandono de patrimônio.

“Apareceu um sucessor da Karmann Ghia no Reino Unido querendo conversar conosco. E ele está parecendo interessado em vir para cá. Mas não quero dar esperanças. Só quero contar a vocês, relatar. Quando surgir algo consistente para haver negociação, eu vou avisá-los”, afirmou Rafael Marques ontem, durante assembleia a cerca de 100 trabalhadores da Karmann.

“Várias pessoas já nos procuraram, mas ficou claro que muitas eram parecidas com as que já passaram por aqui. Não dá para colocar outro aventureiro na Karmann. Queremos conversar com gente séria. A fábrica, existe as máquinas existem e os trabalhadores estão aqui e têm vontade de voltar a trabalhar e ter sua dignidade mantida, além de voltar a receber seus salários. Vamos trabalhar por isso”, assinalou.

Outra informação que Marques passou aos operários foi que ele também conversará com Ibrahim Elias, da Mondragón Corporação Cooperativa, da Espanha, que participou do seminário internacional ‘Experiências de Fábricas Recuperadas por Trabalhadores (as) na Argentina, Brasil, Espanha e Itália’ realizado pela entidade no início de outubro aos empregados da Karmann. O objetivo, segundo Marques, é desenvolver algumas ideias de cooperativa para voltar a produzir.

“Nós queremos conversar e sempre junto com vocês, dependendo do que conseguirmos será revertido para os trabalhadores. O próximo passo agora é analisar os bens. É necessário gente séria para assumir a empresa e não como fizeram os outros, que ainda durante esse processo descobrimos outras coisas erradas nos papéis”, explicou.

Segundo o advogado Marcelo Mauad, que está à frente da gestão da massa falida, o pedido de falência foi necessário por conta das dívidas e do não cumprimento de outras conversas. “A empresa tem vários anos de história no setor, Há, portanto, necessidade de retomada, seja com um novo investidor ou na transformação de cooperativa.”

Com a lacração da fábrica e a avaliação de bens que poderão ser vendidos para o pagamento dos credores, os funcionários seguem aguardando o processo em andamento e, mesmo que alguns permaneçam com esperança, outros seguem com medo do futuro.

“A expectativa é que não só eu, mas que todos os funcionários sejam pagos. Eu trabalhei muito tempo aqui para perder tudo e espero que a história não tenha fim aqui. O pior é que, além das dívidas, existe o desemprego. Se está ruim para todos, está pior para mim que já passei dos 35 anos. Hoje eu tenho medo do que pode acontecer”, desabafou o funileiro de São Bernardo Pedro Carvalho, 54 anos, que trabalha na empresa há 26.

O mesmo acontece com o técnico em manutenção elétrica são-bernardense, Rogério Cabral, 45, que mesmo com a expectativa de que o local vire cooperativa, destaca os prejuízos causados durante esse imbróglio. “Não recebemos desde dezembro, e espero ao menos a liberação dos meus direitos. Eu estou negativo no banco e devo quase R$ 12 mil no cartão de crédito, além das contas cotidianas e da escola das crianças. Com toda essa confusão, até a vida familiar fica mais difícil”, revelou.

“A situação é que a falência existe, e temos que esperar. Eu prefiro pensar que vai dar tudo certo e que a nossa empresa vai se reerguer, vai virar cooperativa ou virá um novo investidor”, comentou o funileiro de São Bernardo José Gonçalves, 31.

HISTÓRICO - A Karmann Ghia, fabricante dos icônicos SP1, SP2 e do Karmann Ghia coupé, foi inaugurada no município em 1960 e, nos últimos anos, realizava a estamparia e ferramentaria para montadoras e sistemistas.

Os 330 empregados estão sem salários desde fevereiro, assim como outros 250 demitidos em 2015, que a partir de dezembro pararam de receber as verbas rescisórias. Isso sem contar os fornecedores e credores. A dívida da autopeça passa dos R$ 300 milhões.

(Colaborou Soraia Abreu Pedrozo) 




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