A identidade de Vicencia Maria Teodósio, 67 anos, foi descoberta depois de cinco vivendo apenas como ‘Dona Maria'. Desaparecida desde 2005 após a perda do marido e problemas com álcool, esta nordestina de Várzea Alegre (CE) reencontrou a família ontem de manhã por obra do acaso.
Longe dos quatro filhos e dez netos, perambulou pelas ruas de São Bernardo durante anos. Seus dias eram parecidos com o de muitos mendigos que vivem no Grande ABC, alternados entre bebida e fome. Dona Maria, como era chamada nas ruas, chegou a ser avaliada como indigente e foi internada em um dos leitos do hospital psiquiátrico Lacan, na cidade.
Enquanto isso, as buscas dos familiares eram dificultadas pela falta de informações e pistas sobre seu destino. Nenhum lugar onde procuraram - hospitais, abrigos, IML (Instituto Médico- Legal) - jamais havia ouvido ou registrado a ficha com o nome verdadeiro.
O destino dela começou a mudar em maio deste ano. A inauguração da residência psiquiátrica para mulheres do município, na Vila Euclides, possibilitou melhor atendimento e tratamento especializado no Caps (Centro de Atenção Psicossocial).
Porém, as condições adequadas não atendiam a necessidade de encontrar parentes.
Uma visita ao Poupatempo junto com um dos funcionários da casa, anteontem, para tirar fotografias revelou o paradeiro dela. Foi lá que uma vizinha da família a reconheceu e contou onde a filha mais velha morava. Com as informações, o encontro estava marcado: ontem, às 10h.
RECOMEÇO
O encontro com a primogênita, Tânia Maria Teodósio, 41, foi marcado por uma mistura de sentimentos. Insegurança e alegria contrastavam depois do longo período separadas.
Sem falar e com dificuldades motoras no braço direito, seqüelas de um possível AVC (Acidente Vascular Cerebral), Dona Maria, agora Vicencia novamente, não conseguia disfarçar com sorrisos e beijos a emoção pelo reencontro familiar.
Tânia lembrou os anos de sofrimento. "Minha mãe simplesmente sumiu da minha casa e não deixou nenhuma informação. Foram cinco anos de incerteza que quero apagar daqui para frente."
A saudade e a falta de notícias sobre o paradeiro da mãe fizeram Tânia pensar em uma tragédia, que deixará de atormentar as noites que passou em claro. "Nos momentos mais difíceis pensei que ela poderia estar morta ou nunca mais seria achada. Quero agora cuidar dela e nunca mais nos separar."
TRISTEZA
A felicidade do reencontro entre mãe e filha contrasta com a situação de outras moradoras da residência psiquiátrica. O contato com parentes após anos de procura muitas vezes não termina com um final feliz.
A psicóloga responsável pelo acompanhamento das pacientes, Edilaine Rosin, explicou que o longo tempo longe dos familiares, a falta de condições financeiras ou até a falta de vínculo dificultam a reaproximação. "Muitas vezes os parentes não querem receber a pessoa que estava desaparecida de volta. Já encontramos um empresário bem-sucedido de São Paulo que recusou o retorno da mãe."
As pacientes que deixam o local recebem R$ 851 por mês do governo federal. Os benefícios fazem parte do serviço de prestação continuada.
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