A propaganda psolista começou a veicular ontem na televisão uma inserção que reproduz o vídeo em que o bispo da igreja Sérgio Von Helder aparece chutando uma imagem de Nossa Senhora Aparecida, em 12 de outubro de 1995. Simultaneamente, o anúncio reproduz uma gravação do adversário cantando uma música em que supostamente debocha do caso, com fotos do parlamentar. A campanha de Crivella - que já negou que a canção se refira ao incidente - afirmou que se trata de uma "montagem grosseira". Anunciou que recorrerá à Justiça Eleitoral contra a peça.
"Você se lembra do bispo que chutou a Padroeira do Brasil na TV?", pergunta um locutor, enquanto aparecem imagens de Von Helder chutando a imagem e uma foto de Crivella. "Ele foi sócio de Crivella em negócios da Universal. Mas você conhece essa música?" Em seguida, entra a canção, na voz do hoje senador, aparentemente misturada a outras, com destaque para a letra projetada na tela. "Na minha vida, dei um chute na heresia, houve tanta gritaria de quem ama a idolatria", diz a letra. A crítica à adoração de imagens, que seria feita por católicos, é uma das bases do evangelismo neopentecostal.
O locutor volta ao ataque. "Crivella gravou esse CD para defender o bispo Macedo e debochar da agressão aos católicos", afirma, enquanto surge uma foto em que Macedo, que é tio de Crivella, é preso, com a imagem da capa do CD e o título: "Como posso me calar?" Aparece nova foto de Crivella, com sua voz cantando mais um verso: "Se ela é Deus, ela mesmo me castiga". O narrador retorna, e, em tom severo, pergunta: "É isso que vc quer para o Rio?".
O incidente de 1995, que ficou conhecido como "chute na santa", ocorreu no programa televisivo Palavra de Vida, transmitido ao vivo pela TV Record, ligada à Iurd, durante a madrugada. O episódio gerou investigações e protestos de líderes religiosos. Depois dele, Von Helder foi viver no exterior, rompeu com a Universal e se aproximou da Igreja da Restauração. Voltou ao País em 2014, para representá-la.
A campanha de Freixo para tentar fazer Crivella "derreter", segundo informou o Estado anteontem, começou depois que foram contratados pelo PSOL profissionais que trabalharam antes para o PMDB e o PSDB. Eles explicaram ao candidato do PSOL que, sem uma postura mais dura, não teria chances no segundo turno. A partir daí, a propaganda de Freixo abandonou o tom ameno e passou a atacar Crivella. O senador foi acusado de ter ligações com o ex-governador Anthony Garotinho, cujo partido, o PR, integra sua coligação.
O PSOL também o acusou de ser apoiado por milicianos, depois que Carminha Jerominho, filha de Jerônimo Guimarães, o Jerominho, afirmou apoiá-lo. Outras acusações foram ser intolerante com homossexuais e integrantes de outras religiões e de ter pregado o uso da fé para obter dinheiro de fiéis.
Depois do início da campanha de desconstrução, a diferença entre os dois candidatos caiu nove pontos no Ibope. Segundo pesquisa feita pelo instituto, divulgada anteontem, Crivella ainda lidera por 46% a 29%. Na sondagem anterior, a diferença era de 51% a 25%. A distância ainda é grande: 17 pontos pró-Crivella nos votos totais e 22 nos votos válidos (excluídos brancos, nulos e indecisos): 61% a 39%.
Contra-ataque
O senador, que se aproximou de personalidades com trânsito na esquerda e no samba para tentar mudar a sua imagem, tem respondido que deu declarações infelizes no passado, quando era jovem, mas mudou e agora prega a tolerância e a liberdade. Crivella acusou o adversário de manipulação e mentiras para tentar indispô-lo com setores do eleitorado. E contra-atacou: acusou Freixo de pretender abrigar o PT em seu eventual governo e chegou a afirmar que o psolista quer criar no Rio uma "república bolchevista via impostos". Ele também acusa Freixo de ter ligações com os black blocs e suas ações violentas. As informações são do jornal O Estado de S.Paulo.
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