A Polícia Civil de São Paulo prendeu um suspeito pelo assassinato do empresário José Nelson Schincariol, baleado na garagem de casa, em Itu (interior do Estado), na noite de segunda-feira. Dono da segunda maior cervejaria do país, Schincariol recebeu os primeiros socorros na Santa Casa da cidade e foi transferido de helicóptero para o Hospital Israelita Albert Einstein (zona Sul de São Paulo), onde faleceu durante a madrugada desta terça-feira. Benquisto e admirado em toda a cidade, José Nelson, 60 anos, foi velado na fábrica da Schincariol em Itu. O enterro aconteceu no fim da tarde, no Cemitério da Saudade (Itu).

O suspeito detido é Valdinei Sabino da Silva, um garçom de 25 anos que foi reconhecido por testemunhas do assassinato. Ele já tem passagem por porte ilegal de arma e homicídio. O suspeito chegou à sede da Polícia Civil da capital no fim da noite desta terça-feira. Silva será interrogado nesta quarta-feira.

Apesar da prisão do suspeito, a polícia não tem muitas pistas sobre a motivação do assassinato. O Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), que assumiu as investigações, ainda trabalha com todas as hipóteses. Vingança e tentativa de assalto são as possibilidades mais consideradas.

O ataque a Schincariol ocorreu por volta das 22h30 de segunda-feira. O empresário chegava ao sobrado da rua Santa Cruz (centro de Itu) dirigindo o próprio carro, um Audi A6, sem seguranças ou motorista. Depois de guardar o veículo na garagem, o empresário foi abordado e baleado três vezes, sem que nada fosse roubado. Testemunhas relataram ter visto dois homens vestidos com roupas pretas correndo em fuga por uma rua que fica ao lado da residência.

Um vigia que esperava o ônibus num ponto próximo ao local e uma vizinha do empresário foram os primeiros a socorrê-lo. A costureira Dulce Inês de Souza Ferreira, 49, acionou em casa o Resgate da Polícia Militar. Alexandre Schincariol, filho de José Nelson, saiu do sobrado correndo e também foi acudir o pai.

Sangrando muito na cabeça e nas costas, o empresário ainda conseguiu tocar algumas palavras com as pessoas que o socorriam. Baleado no crânio (duas vezes) e na nuca (uma), José Nelson Schincariol não resistiu aos ferimentos e morreu no Albert Einstein. O corpo passou quase toda a manhã no Instituto Médico Legal (IML) de São Paulo e seguiu para Itu, onde ocorreram as últimas homenagens e o sepultamento.

A fábrica da Schincariol na cidade ficou fechada durante toda esta terça-feira. O velório, realizado num auditório da planta ituana, foi visitado por parentes, amigos e funcionários da fábrica. Homenagens também foram realizadas em outras unidades da cervejaria pelo país. No final da tarde, José Nelson foi enterrado com salva de palmas.

Simples e poderoso - Filho do imigrante italiano Primo Schincariol, fundador da empresa, José Nelson comandou a fábrica de refrigerantes populares numa trajetória que levou a Schincariol a abocanhar 10% do mercado de cervejas do Brasil. A empresa ituana só perde para a AmBev, conglomerado que detém as marcas Brahma, Antarctica e Skoll.

A morte do empresário sensibilizou os moradores de Itu. Uma multidão esteve na frente do Cemitério da Saudade para esperar a chegada do corpo, no fim da tarde desta terça-feira. Apesar de dirigir uma grande empresa, Schincariol conservava hábitos simples e era considerado generoso.

Morador da rua Santa Cruz, numa região de casas modestas do centro da cidade, ele ajudava os vizinhos. "Todo mês era sagrado, vinha a nossa cesta básica", conta a aposentada Júlia Maria Manoela, 62 anos. Ela, as duas filhas e os netos dependiam da ajuda do empresário. "Ele era amoroso com as crianças."

Apesar de ser um dos empresários mais bem-sucedidos do país, ele mantinha hábitos simples e não se importava com segurança. "A gente alertava, mas ele gostava da vida que levava, sem essa preocupação", contou o publicitário Eduardo Fischer, que trabalha com a Schincariol. Um dos passatempos favoritos do empresário era o futebol. Ele era torcedor fanático do Ituano – clube que a Schincariol patrocina. "O Nelson era fã do Ituano, não perdia um jogo", contou radialista Paulo Figueiredo, amigo do empresário. No domingo, ele e a mulher estiveram no estádio da cidade para acompanhar o rubro-negro.

Na segunda-feira, data do crime, o empresário participou de um encontro de confraternização pelos bons resultados do grupo. "Ele tinha o hábito de conversar com todo mundo e perguntar como ia o serviço", contou o empregado Alcindo do Nascimento, que trabalha na portaria da fábrica de Itu.

O prefeito de Itu, Lázaro José Piunti (sem partido), decretou luto oficial por três dias.