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Telejornais sensacionalistas já não rendem tanta audiência
Renata Petrocelli
Da TV Press
25/07/2004 | 19:25
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Chamarizes de público desde meados da década de 1990, os jornalísticos policiais já viveram dias melhores. Brasil Urgente, Cidade Alerta e Repórter Cidadão, que há tempos disputam a atenção do telespectador respectivamente na Band, na Record e na Rede TV!, não atravessam bons momentos. Audiência para todo mundo – como acontecia até há dois anos – não sobra mais. Calcado na estratégia do sensacionalismo, o formato pode ter secado sua própria fonte.

Afinal, não há mundo cão que choque dia após dia e não perca a força. É um tiroteio aqui, uma agressão policial lá, um corpo mutilado acolá e em pouco tempo o telespectador fica anestesiado. Isso sem contar as exigências do mercado publicitário. Com ferramentas cada vez mais específicas à disposição, os números de audiência dizem a cada dia menos quando isolados de fatores como credibilidade e perfil da audiência.

Não à toa, os representantes do gênero vêm passando por mudanças significativas. Atualmente, só a Record permanece na disputa pelo segundo lugar. Assim mesmo, o Cidade Alerta vem ficando para trás desde que o SBT começou a exibir no horário os clássicos desenhos animados Scooby-Doo e Flintstones. O programa, que já teve índices acima dos 10 pontos na época de José Luiz Datena, marca em torno de 7 sob o comando de Marcelo Rezende. E tudo indica que a Record pretende tirá-lo do ar em breve. A emissora não confirma, mas há previsão de estréia de um jornalístico sob o comando de Paulo Henrique Amorim, Ana Hickman e Janine Borba, que deve ao ar entre 17h30 e 18h30, reduzindo em uma hora o tempo do policial. O que corre nos bastidores é que, em alguns meses, Marcelo Rezende deve sair para o Repórter Record, que seria transformado num programa de reportagens investigativas.

Já o Brasil Urgente enfrenta a concorrência dos desenhos animados até mesmo dentro de casa. O programa comandado por José Luiz Datena perdeu meia hora de duração desde que a cantora Kelly Key passou a apresentar, no início do mês, o japonês Cavaleiros do Zodíaco nas tardes da Band. E a cantora, que deve estrear um programa próprio em agosto, provavelmente ganhará mais espaço na grade.

Enquanto isso, na Rede TV!, está difícil até encontrar quem se firme no posto de apresentador do Repórter Cidadão. Desde a saída de Marcelo Rezende, o programa já passou pelas mãos de Gil Gomes, Renato Lombardi e, agora, é apresentado por Vanilton Alves Pereira, o Jacaré, que foi contratado por dois anos para comandar um programa de humor na emissora.

Fora os eventuais contratempos e a redução de audiência, sobram evidências de que o formato está desgastado. Uma delas é justamente a existência de rumores sobre a posição da própria Record, a única emissora que ainda consegue manter o programa pelo menos na disputa com o SBT.

Na Band, assim que assumiu o posto de diretora artística, Marlene Mattos logo anunciou a reformulação do Brasil Urgente. Ela queria menos sensacionalismo. Datena também nunca escondeu de ninguém que, se dependesse dele, já teria deixado o jornalismo policial há muito tempo. Só que, das mudanças previstas, pouca coisa realmente foi ao ar. O que seria um programa separado – o Brasil Verdade, debate em torno de temas sociais, políticos ou econômicos, com chances de ocupar todo o horário do policial em função dos resultados – acabou virando um bloco perdido em meio à habitual exploração das tragédias da violência urbana.

Pode ser que finalmente as emissoras estejam começando a se dar conta de que a briga pela audiência sem qualidade, pelo menos no nível da exploração da violência, não faz muito sentido. Afinal, qual seria o objetivo de se lutar pelos números senão a conquista de anunciantes? Os profissionais do mercado publicitário não se cansam de repetir que não têm como agregar a imagem de seus clientes a qualquer programa. E os exemplos que eles citam são, invariavelmente, os programas policiais. Já o público, por sua vez, pode estar imunizado contra a estranha atração pelas atrocidades.




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