Ter parentesco ou ser amigo de longa data do presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, não foi vantagem suficiente para seu sobrinho, Edison Inácio da Silva (PT), 42 anos, conseguir uma cadeira na Câmara de São Bernardo. O caso dele é só um dos exemplos de que o parentesco com Lula não foi garantia de eleição para postulantes ao Legislativo nem no Grande ABC, berço político do maior nome da história do PT, nem em Garanhuns (PE), terra do presidente.

Lula viu seu amigo e companheiro de lutas sindicais Vicente Paulo da Silva, o Vicentinho (PT), ser massacrado na disputa pela Prefeitura de São Bernardo pelo prefeito William Dib (PSB). O resultado já seria suficiente para comprovar o enfraquecimento do PT na cidade, mas o fato de parentes e grandes amigos de Lula terem obtido votações aquém do esperado reforça a tese de que o presidente não trouxe votos para ninguém.

O sobrinho de Lula, Edison Inácio da Silva, é a prova disso. Com a esperança de se eleger vereador com 3,8 mil votos, Edison alcançou a frustrante marca de 1.784 votos, ocupando o 49º lugar no ranking dos candidatos de São Bernardo. Gastando algo em torno de R$ 70 mil em sua campanha, Edison diz ter sentido falta da presença física de Lula na cidade, que só apareceu mesmo no dia da votação para acompanhar Vicentinho.

"Entendo que há um país para governar. Acho que ele agiu certo, como um presidente, mas fez muita falta na campanha", declarou Edison.

Teresa Otília (PSB), 48 anos, é irmã da primeira-dama do Brasil, Marisa Letícia. Candidata a vereadora em São Bernardo, Teresa não esperava mesmo o apoio do cunhado Lula. Motivo: ela trabalha nas campanhas eleitorais do prefeito reeleito, William Dib (PSB), desde a década de 80. Obteve apenas 787 votos, mas com apoio do rival de Vicentinho.

"Acho que fui até bem, fui a 11ªmais votada do partido", afirmou. Teresa diz ter um bom relacionamento com Lula, mas quando o assunto é política, a história é outra. "Somos parentes, mas, politicamente, cada um segue seu rumo. Não me identifico com o PT", disse ela.

Juno Rodrigues da Silva, o Gijo, é amigo de Lula e foi derrotado nas urnas em São Bernardo. Ele afirmou que Lula - admirador da chuleta feita no restaurante do companheiro - deveria ter entrado "mais para valer" na campanha do PT na cidade. "O PT nasceu aqui, acho que o Lula poderia ter vindo para a campanha. O José Alencar (vice-presidente) veio, mas não somou nada", disse Gijo, que teve 1.747 votos e associa sua derrota a uma "campanha humilde". "Eu esperava uns três mil votos." Dos quatro petistas eleitos em São Bernardo, Wagner Lino foi o menos votado, com 3.720 votos.

Garanhuns - O parentesco com Lula não foi cacife suficiente para eleger os vereadores Eraldo Ferreira dos Santos (PT) e Paulo Sérgio Teixeira de Melo (PC do B) em Garanhuns, nem José Florêncio Filho (PT), o Dudinha, em Caetés, no agreste pernambucano.

Único decepcionado com a derrota, Eraldo reclamou da falta de apoio da direção estadual do PT. "Não recebi um centavo para ajudar na campanha", disse ele, ao frisar não ter reivindicado nenhum privilégio por ser primo do presidente Lula. Ele ajudou a fundar o PT, há 25 anos.

Eraldo teve 362 votos e ficou apenas com a 57ª posição entre os 117 candidatos a vereador. Ele já havia tentado uma vaga na Câmara Municipal outras duas vezes, e uma vez a deputado estadual. Garante que vai continuar sua luta política, independentemente de mandato, como sempre fez.

Dos três primos conterrâneos do presidente Lula, Dudinha foi quem se saiu melhor, conseguindo a terceira suplência da Câmara de Vereadores de Caetés, com 394 votos. Mais conhecido como Paulo de Cazuca, o candidato do PC do B ficou satisfeito com os 258 votos obtidos na sua estréia (65ª mais votado).