Nacional Titulo
Rio inspirou lei que fecha bares à 1 hora
Do Diário do Grande ABC
17/07/1999 | 15:18
Compartilhar notícia


Conhecida pela boemia de seus habitantes, o Rio acabou servindo de exemplo para a polêmica lei que determina o toque de recolher nos bares de Sao Paulo à 1 hora, sancionada na semana passada pelo prefeito Celso Pitta (sem partido). A diferença é que na capital fluminense a medida foi determinada em decreto, há seis meses, pelo prefeito Luiz Paulo Conde (PFL).

Em 7 de janeiro ele decretou o fim da "segunda sem lei" no Baixo Gávea, principal reduto boêmio da zona sul da cidade, freqüentado por cerca de mil pessoas de madrugada. A decisao obriga os oito bares e restaurantes que permanecem funcionando na regiao a fechar à 1 hora.

Essa foi a primeira de uma série de medidas tomadas por Conde, que também proibiu a apresentaçao, amplificada por caixas de som, de bandas de jazz e MPB nos quiosques da Lagoa Rodrigo de Freitas, na zona sul, vetou o samba e o chorinho nos botecos de Santa Teresa, no centro, e multou casas especializadas em forró no bairro da Lapa, sob a alegaçao de haver recebido reclamaçoes por parte de moradores desses locais. Assim como em Sao Paulo, os estabelecimentos proibidos sao aqueles que nao dispoem de isolamento acústico.

Aluno do 8.º período de publicidade da PUC do Rio, Diego Heredia, de 24 anos, que costumava ir ao Baixo Gávea antes do toque de recolher, discorda das "medidas megalomaníacas e delirantes" de Conde. "Nosso compromisso maior é com os moradores, que reclamavam da algazarra promovida nas ruas", alega o secretário de Governo, Airton Aguiar. "Foi preciso um decreto para acabar com a segunda sem lei, impondo limites." Aguiar nao quis comentar a iniciativa paulistana, de adotar medidas reguladoras semelhantes às cariocas, como aplicaçao de multas e repressao ao comércio ambulante. "O Rio continua uma cidade boêmia, o que acabou foi a prevaricaçao, e o prefeito nao é o Conde Drácula, e sim um amante da boa boemia."

Abaixo-assinado - O sócio do bar e restaurante Hipódromo que funciona há 63 anos no Baixo Gávea, Ernani Gomes, estima em 40% a queda no faturamento decorrente do toque de recolher. Segundo ele, 20 funcionários da casa foram demitidos desde janeiro. O Braseiro da Gávea, que fica ao lado, teria dispensado cinco garçons. Depois de ter sido derrotados na Justiça, os comerciantes encaminharam à Câmara Municipal um documento com 4 mil assinaturas. Os vereadores marcaram para agosto a votaçao que poderá resultar na revogaçao do decreto.

"Mas nao vamos permitir a volta da segunda sem lei e da grande orgia", alerta o diretor da Associaçao de Moradores da Gávea, René Hasenclever. Segundo ele, era impossível dormir até as 5 horas antes do decreto."Infelizmente nao houve acordo com os bares; precisou-se impor a ordem para haver respeito ao cidadao", diz. Ele cita o caso de uma moradora da Rua dos Oitis que esperava socorro médico e morreu porque a ambulância teria ficado parada na confusao. "Agora voltou a boemia; antes era baderna."




Comentários

Atenção! Os comentários do site são via Facebook. Lembre-se de que o comentário é de inteira responsabilidade do autor e não expressa a opinião do jornal. Comentários que violem a lei, a moral e os bons costumes ou violem direitos de terceiros poderão ser denunciados pelos usuários e sua conta poderá ser banida.


;