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Viagem no tempo: de Mafra a Alcobaça
Heloísa Cestari
Do Diário do Grande ABC
26/08/2010 | 07:03
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A maioria dos pacotes turísticos pela Europa que contemplam Portugal no roteiro restringe-se a Lisboa e, quanto muito, seus arredores, a exemplo de Sintra, Cascais e Estoril. Uma pena. O Oeste e Norte do país escondem recantos de beleza natural e importância histórica singulares, que jamais deveriam ficar de fora do passeio.

Castelos medievais protegidos por imensas muralhas, mosteiros gigantescos e histórias de batalhas sangrentas empreendidas entre mouros e cristãos na época das Cruzadas pontuam o percurso de quem parte da capital rumo ao Norte com lembranças de um passado marcado por glórias e lutas em nome da fé. Em um único dia, é possível visitar localidades como Mafra, Óbidos, Batalha, Alcobaça e ainda contemplar o belíssimo pôr do sol à beira do Atlântico em Peniche - segundo ponto mais ocidental da Europa, atrás apenas do Cabo da Roca.

Primeiro ponto de parada: Mafra. Eternizada por português José Saramago, Prêmio Nobel de Literatura, no livro Memorial do Convento, a cidade abriga um dos maiores símbolos da opulência da Igreja Católica: o convento de Mafra, construído em 1717 a mando de D. João V como forma de pagar a promessa que fez em troca de ter um herdeiro.

Deslumbrados com toda a riqueza advinda das jazidas de ouro brasileiras, os megalomaníacos sacerdotes transformaram o projeto, inicialmente modesto - deveria abrigar apenas 13 padres franciscanos - em um audacioso edifício barroco, com nada menos que 4.500 portas e janelas (naquela época, o imóvel era avaliado com base no número de janelas) e uma das maiores bibliotecas da Europa, servindo de residência a 300 padres e toda a família real.

As tendências megalomaníacas que imperavam no alto clero da época, aliás, brindam o turista com verdadeiras pérolas da arquitetura ao longo de todo o trajeto.

Por isso, não perca tempo. Retorne à autoestrada A8 e prossiga até a cidade medieval de Óbidos, que esbanja romantismo em suas ruas de pedras dos séculos 15 e 16, com muros floridos, igrejas seculares, ermidas góticas e casinhas brancas pintadas com cal. Tudo cercado por uma imensa muralha, de aproximadamente 2 quilômetros, que ‘protege' os cerca de 200 habitantes e confere um charme todo especial à vila.

Não à toa, tantos reis portugueses ofertavam Óbidos como presente de casamento a suas mulheres, que garantiram vários benefícios à região. Hoje, o que se vê são turistas vendo suas mulheres torrarem o cartão de crédito internacional nas dezenas de lojinhas de artesanato da Rua Direita depois de um romântico passeio de charrete pela vila-museu.

Eventos culturais, museus e restaurantes encantadores, a propósito, não faltam para entreter os casais de pombinhos à noite. Depois de mergulhar no tempo com as atrações do Mercado Medieval e ser embalada pelos acordes da Semana Internacional de Piano e do Festival de Ópera, a vila se prepara agora para a Temporada de Cravo (de 31 de outubro a 21 de novembro).

ÁGUAS
Quem prefere o som das águas, por sua vez, pode dar uma esticadinha até as termas da vizinha Caldas da Rainha - indicadas ao tratamento de doenças de pele e problemas respiratórios - ou praticar esportes náuticos na Reserva Natural da Ilha de Berlenga, a única do gênero no país e, sem sombra de dúvida, um dos mais belos cartões-postais da costa Oeste lusitana.

Cerca de 30 empresas partem do Porto de Recreio, em Peniche, para passeios de barco pela região de Berlenga, com direito a pesca, mergulho (com visibilidade a 50 metros, uma das melhores da Europa) em naufrágios e até num avião inglês da Segunda Guerra.

Mas se a prioridade for mesmo o roteiro histórico-religioso, volte à A8 e siga mais cerca de 30 quilômetros até o Mosteiro de Santa Maria, em Alcobaça. Erguida em 1153, a construção - declarada Patrimônio da Humanidade pela Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura) - abriga a maior igreja de Portugal, além dos túmulos gótico-flamejantes de Pedro I e Inês de Castro, datados de 1360.

Destaque para a cozinha, com uma enorme chaminé e um tanque de onde os peixes eram pescados direto à panela. E para a estreita portinha no refeitório dos monges: quem entalasse na passagem teria de fechar a boca para evitar o pecado da gula - que os donos de spa não leiam essa dica...

Por fim, dirija-se a Batalha e visite a abadia dominicana de Santa Maria da Vitória, erguida a partir de 1388, a mando de D. João I (o filho bastardo de Pedro com Inês, eleito pelo povo), como forma de agradecer à Virgem a vitória sobre os castelhanos na batalha de Aljubarrota, mesmo possuindo exército três vezes menor que o dos rivais.

Também reconhecida como Patrimônio da Humanidade, a abadia levou quase 200 anos para ser concluída. Consequência: uma verdadeira obra-prima do estilo gótico português.




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