Cultura & Lazer Titulo
Paz e samba abrem novo Sesc Santo André
Cássio Gomes Neves
Do Diário do Grande ABC
10/03/2002 | 19:51
Compartilhar notícia


A pacífica noite da inauguração do Sesc Santo André foi levada na base do samba e da batucada. Ao abrir as portas de sua 28ª unidade no Estado de São Paulo, sábado, o Serviço Social do Comércio convidou uma trinca de trovadores do samba para o show de abertura do transtlântico de entretenimento na cidade. Transatlântico não só pela arquitetura inspirada na proa de um navio, mas também pela vasta área (quase 32 mil m²) que o Sesc ocupa entre a rua Tamarutaca e a avenida Prestes Maia e pela escassa oferta cultural no Grande ABC. O Sesc estima que 19 mil pessoas tenham passado pelo local no dia da inauguração.

A trinca formada por Bezerra da Silva, Beth Carvalho e Leci Brandão veio aqui no sábado para fazer sambar, e não para prosear. Bezerra foi responsável pelo show de abertura, previsto para as 20h. A entrada franca estimulava o público a passar às centenas pelas catracas do Sesc no horário determinado. E nada do show começar. Um dos espectadores exclamou: “Ih! A toca ainda tá escura!”, referindo-se ao palco montado para o sábado, cujas dimensões eram de 23m de largura, 8m de profundidade e 6m de altura.

Vinte e cinco minutos depois do horário previsto, o último dos malandros atendeu às reivindicações. Bezerra atacou de A Necessidade e o público aprovou. O sambista estava “na estica”, de boné, um asseado terno preto e caminhar paulatino, pronto para destilar os maliciosos trocadilhos de músicas como Arruda de Guiné, Tem Coca aí na Geladeira e Se Leonardo Dá Vinte. “O povo é quem manda”, afirmou Bezerra antes de tocar Seqüestraram Minha Sogra, a pedido de um espectador.

Noel Rosa certa vez disse: “Mulher e dinheiro são as únicas coisas importantes no mundo”. Que assim seja! Havia mulher aos montes entre as 6 mil pessoas que compareceram ao espetáculo noturno, segundo números divulgados pelo Sesc. Fora esses 6 mil, outras 13 mil pessoas passaram pelo Sesc durante o dia, entre as 9h e as 18h. Já foi dito que o show era gratuito e que ninguém colocara a mão no bolso para pagar por diversão. Infelizmente, dinheiro era a importância para algumas crianças que circulavam entre a platéia recolhendo latinhas de alumínio e que pouca bola davam para o que acontecia sobre o palco. Miserere pro nobis!

A apoteose chegou ao Sesc com Beth Carvalho, que emendou uma série de hits do samba, ao pedir a cumplicidade do público para cantar O Show Tem que Continuar e Samba de Arerê. E Santo André ouviu na voz da dama de vestido cintilante o que até Marte ouviu: Coisinha do Pai. De novidades, Beth cantou duas músicas do novo disco, em que homenageia Nelson Cavaquinho, Nome Sagrado.

Leci Brandão assumiu o microfone não só para cantar. Saudou os artistas anônimos, os manos da periferia, a comunidade negra de Santo André e dedicou o show ao prefeito assassinado Celso Daniel. Foi nesse espírito que Leci entoou coisas como Isso É Fundo de Quintal e um medley com canções de Martinho da Vila. A sambista saiu do palco às 23h15 e deu a deixa para que o Sesc tivesse seus sete minutos de Disneylândia com retumbantes fogos de artifício.




Comentários

Atenção! Os comentários do site são via Facebook. Lembre-se de que o comentário é de inteira responsabilidade do autor e não expressa a opinião do jornal. Comentários que violem a lei, a moral e os bons costumes ou violem direitos de terceiros poderão ser denunciados pelos usuários e sua conta poderá ser banida.


;