A trinca formada por Bezerra da Silva, Beth Carvalho e Leci Brandão veio aqui no sábado para fazer sambar, e não para prosear. Bezerra foi responsável pelo show de abertura, previsto para as 20h. A entrada franca estimulava o público a passar às centenas pelas catracas do Sesc no horário determinado. E nada do show começar. Um dos espectadores exclamou: “Ih! A toca ainda tá escura!”, referindo-se ao palco montado para o sábado, cujas dimensões eram de 23m de largura, 8m de profundidade e 6m de altura.
Vinte e cinco minutos depois do horário previsto, o último dos malandros atendeu às reivindicações. Bezerra atacou de A Necessidade e o público aprovou. O sambista estava “na estica”, de boné, um asseado terno preto e caminhar paulatino, pronto para destilar os maliciosos trocadilhos de músicas como Arruda de Guiné, Tem Coca aí na Geladeira e Se Leonardo Dá Vinte. “O povo é quem manda”, afirmou Bezerra antes de tocar Seqüestraram Minha Sogra, a pedido de um espectador.
Noel Rosa certa vez disse: “Mulher e dinheiro são as únicas coisas importantes no mundo”. Que assim seja! Havia mulher aos montes entre as 6 mil pessoas que compareceram ao espetáculo noturno, segundo números divulgados pelo Sesc. Fora esses 6 mil, outras 13 mil pessoas passaram pelo Sesc durante o dia, entre as 9h e as 18h. Já foi dito que o show era gratuito e que ninguém colocara a mão no bolso para pagar por diversão. Infelizmente, dinheiro era a importância para algumas crianças que circulavam entre a platéia recolhendo latinhas de alumínio e que pouca bola davam para o que acontecia sobre o palco. Miserere pro nobis!
A apoteose chegou ao Sesc com Beth Carvalho, que emendou uma série de hits do samba, ao pedir a cumplicidade do público para cantar O Show Tem que Continuar e Samba de Arerê. E Santo André ouviu na voz da dama de vestido cintilante o que até Marte ouviu: Coisinha do Pai. De novidades, Beth cantou duas músicas do novo disco, em que homenageia Nelson Cavaquinho, Nome Sagrado.
Leci Brandão assumiu o microfone não só para cantar. Saudou os artistas anônimos, os manos da periferia, a comunidade negra de Santo André e dedicou o show ao prefeito assassinado Celso Daniel. Foi nesse espírito que Leci entoou coisas como Isso É Fundo de Quintal e um medley com canções de Martinho da Vila. A sambista saiu do palco às 23h15 e deu a deixa para que o Sesc tivesse seus sete minutos de Disneylândia com retumbantes fogos de artifício.
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