Eram 21h50 de sexta-feira, quando o vento derrubou um dos tapumes de uma pequena parte da estrutura da enorme tenda-camarote das autoridades. Os fotógrafos credenciados correram para registrar a cena. Mas uma pessoa do cerimonial começou a gritar que ninguém deixasse fotografar. "Manda parar com isso!", gritava. Homens da Polícia do Exército nao se fizeram de rogados e passaram a reprimir com violência. Por ter sido o mais rápido dos fotógrafos, Bizerra sofreu as piores agressoes. Deram-lhe uma gravata e o jogaram ao chao várias vezes, numa cena de selvageria incompatível com o clima de paz de todo o Réveillon. Cerca de 15 homens bateram no jornalista, atingindo-o principalmente na cabeça e costela.

O fotógrafo do Estado de Sao Paulo Luís Paulo Lacerda também levou uma gravata. A fotógrafa free-lancer da Editora Abril Sheila Chaves foi igualmente agredida e ainda xingada de "vagabunda."

O equipamento fotográfico de Bizerra ficou danificado. Quando tudo parecia acabado, ele caído no chao, Bizerra foi levado para o dormitório por homens com a mao no coldre, enquanto os demais repórteres gritavam nervosos para que nenhum deles sacasse a arma. Sheila também foi levada ao dormitório. Ambos voltaram a ser agredidos lá dentro. Luís Alberto Bittencourt, um dos principais assessores do Prefeito, disse ter ficado chocado ao entrar no dormitório. Bizerra, nervoso, contava o que tinha acontecido a Luiz Alberto quando um soldado acertou-lhe um soco na cabeça e aplicou-lhe um tapa. "O soldado que mais me bateu foi um chamado Selsato", testemunhou Bizerra, que foi tirado de lá finalmente por Luis Alberto .

A mulher do cerimonial (nao identificada) mandou ostensivamente os soldados baterem. O prefeito Luiz Paulo Conde foi pessoalmente até Bizerra se desculpar, comentando que o fato era lamentável e desnecessário num momento de paz. O governador Anthony Garotinho também lamentou e disse que o Exército Brasileiro pode estar preparado para a guerra, mas nao para esse tipo de situaçao. "Espero que isso nunca mais ocorra", afirmou Garotinho.

Sobre a ventania, Conde explicou que a tenda foi montada para resistir a um vento sudoeste, mas repentinamente se mostrou frágil diante de um vento leste.