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Gado contaminado no MS nao havia sido vacinado
Do Diário do Grande ABC
25/01/1999 | 15:12
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Com prejuízo diário de R$ 1 milhao provocado pela paralisaçao do abate em quatro frigoríficos e uma operaçao de guerra que mobiliza meia centena de agentes sanitários e policias, o Mato Grosso do Sul enfrenta o seu segundo foco de febre aftosa em pouco mais de um ano.

Agora com algumas certezas: o fim da doença deve estar ligado a uma atividade pecuária profissional sem sonegaçao e longe da clandestinidade, além de uma campanha que de fato puna os que desrespeitam a lei. O último foco foi em Porto Murtinho e o Estado considera que a doença veio de gado sem nota adquirido clandestinamente pelos pecuaristas no Paraguai. Dessa vez os indícios levam para uma conclusao nao muito diferente.

A Secretaria da Produçao, responsável pela coordenaçao das campanhas de combate à aftosa informou que o foco localizado em duas fazendas vizinhas no município de Naviraí, a 100 quilômetros das divisas do Mato Grosso do Sul com Sao Paulo e Paraná, "está controlado após uma rápida intervençao" que resultou no sacrifício sanitário de 420 animais até agora. Mas 800 cabeças que estao num raio de 25 quilômetros também estao sendo submetidos a exames. O trânsito de caminhoes de gado vindos de outra regiao só acontece mediante escolta policial, após contatada sanidade da carga.

Os primeiros animais contaminados estavam na Fazenda Nissei onde o proprietário nao realizou a vacinaçao obrigatória do rebanho na última campanha estadual que aconteceu em outubro do ano passado. E o motivo nao foi falta de dinheiro, já que a gleba tem quase 500 hectares de área útil e capacidade para mais de 1.500 cabeças na engorda.

Porém, mesmo que o motivo de se excluir da vacinaçao seja o financeiro, ainda assim o rebanho poderia estar a salvo. No Mato Grosso do Sul existe um programa de apoio aos pequenos produtores, onde além de oferecer a vacina de graça, o governo ainda envia uma equipe para proceder a aplicaçao do produto da forma mais correta. Essa semana o veterinário Gerson Proba Soares abandonou as férias e se apresentou para trabalhar na campanha de vacinaçao de emergência. A equipe que inclui mais três técnicos, deve visitar cerca de 80 propriedades rurais e imunizar 1.600 cabeças nas próximas duas semanas. Ninguém irá pagar nada por isso.

Osmar Bastos, coordenador da operaçao de controle do foco, descartou qualquer possibilidade de suspeitar da eficiência da vacina. Para ele o problema sao os que nao vacinam, ou compram animais sem origem de qualidade. No entanto, a diferença entre a quantidade de vacinas adquiridas pelos pecuaristas chega ser 20% inferior a quantidade real de animais que estao no pasto em todo Estado.

Gado de origem clandestina dificulta rastreamento - O Departamento de Inspeçao e Defesa Agropecuária do Mato Grosso do Sul ainda nao localizou Kuniaki Yonekura dono da fazenda onde apareceram os primeiros animais contaminados pelo vírus da aftosa. Um funcionário dele que mora na propriedade foi quem deu as informaçoes para os técnicos do governo, esclarecendo que o patrao estava em viagem pelo Japao sem data para retornar.

Embora tenha ficado claro que o gado da fazenda - cerca de 800 cabeças em 455,83 hectares- nao recebeu a última dose da vacina, Osmar Bastos disse que está com dificuldades para saber de onde a boiada veio e isso prejudica o trabalho de pesquisa. Nao há registro de procedência do gado, ou seja a compra foi feita clandestinamente e sem nota. Mesmo assim, uma comissao formada por representantes do governo e de associaçoes de criadores, avaliou cada um dos 140 animais abatidos na operaçao "Rifle Sanitário" e o governo irá indenizar o proprietário na forma da lei.

O mesmo problema ocorre na Fazenda Princesa, para onde a doença imigrou. O fazendeiro Valdir Capucci que se apresentou como dono da boiada contaminada, é também proprietário do Frigorífico Caboarí, um dos quatro que já foram interditados pela Secretaria da Produçao por causa da proximidade em que se encontram do foco de aftosa. A unidade industrial de abate de Capucci fica a menos de 10 quilômetros da fazenda onde os fiscais sanitários abateram 291 cabeças de bovinos nesse fim de semana. O pecuarista disse que vacinou o gado na última campanha, mas nao consegue provar a procedência de outros animais adquiridos após a campanha estadual de imunizaçao.

Para Osmar Bastos, o surgimento do foco pode estar ligado a uma atividade pecuária clandestina, com importaçoes de gado paraguaio feitas sem nota e sem inspeçao sanitária. Bastos considera que a campanha de combate à febre aftosa seria bem mais eficiente se contasse com ajuda de outros órgaos do governo, como secretarias estaduais e federais ligadas à fiscalizaçao fazendária.

Segundo Bastos há uma puniçao administrativa para o fazendeiro que deixa de vacinar o gado. Mas ela nao deverá ultrapassar R$ 150,00 por cabeça abatida, ou seja valor muitas vezes menor que a quantia paga pelo próprio Estado pelo sacrifício do animal.

O presidente do Fundo de Desenvolvimento de Pecuária de Corte, com sede na Capital Paulista, Pedro de Camargo Neto disse que equipes técnicas de Sao Paulo e Goiás estiveram no Mato Grosso do Sul e devem elaborar nos próximos dias, um relatório sobre a situaçao da febre aftosa naquele estado.

Segundo Camargo Neto, os focos que surgiram na semana passada podem estar ligados a um combate mal feito em Porto Murtinho, quando se localizou a doença há um ano. Para ele, o fato da doença ter surgido numa propriedade onde nao se fez a vacinaçao implica em dizer que a campanha nao vem atingindo o objetivo. Além disso, Camargo criticou o fato de nao se punir os pecuaristas que deixam de vacinar o rebanho. Para o líder ruralista de Sao Paulo, é possível que a aftosa nao esteja somente em Naviraí, mas também em outros municípios daquela regiao.




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