Os alimentos no mundo estão cada vez menos acessíveis ao consumidor. A FAO (Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação) divulgou ontem que o índice mensal de preços desses produtos subiram 2,2% em fevereiro, frente a janeiro. É a oitava elevação seguida e a maior de toda a série histórica, iniciada há 21 anos.
Os cereais - como trigo, arroz e milho - variaram para cima 3,7% no mês passado, puxando o encarecimento geral. Esse é o maior nível desde julho de 2008. A projeção da FAO é de que os itens escasseiem neste ano, devido à fraca colheita de 2010.
Contudo, no Brasil, o cenário é o oposto, com projeções otimistas para os próximos meses. É o que reforça o técnico do setor de grãos da Bolsa de Cereais de São Paulo, Rui Roberto Russomano, especialista em feijão. Ele destacou que o mercado de insumos como milho, soja e arroz estão firmes.
"O governo tem feito leilões semanais do milho e as expectativas de vendas têm se confirmado". Tanto que o estoque desse grão já oxigena os preços, barateando-os. O feijão, que foi um dos vilões de elevação de custos em 2010, está em queda. Ele diz que a trajetória deve continuar retraindo.
Já o especialista em arroz e diretor financeiro da Bolsa de Cereais, Elias Saad José, revelou que o mercado do arroz está equilibrado. Ele estima superavit de 2 milhões de toneladas na produção do item. O maior produtor do País, o Rio Grande do Sul, deve distribuir sete toneladas - metade da estimativa para o mercado - até dezembro.
Mesmo com tanta oferta, os preços não serão abatidos para o consumidor. O governo deverá fixar valor mínimo do item, a fim de não prejudicar o produtor. "Se não garantisse ficaria bem abaixo de R$ 20 a saca do arroz de casca (não processado). O preço está muito barato, estamos com superprodução", atesta José.
PETRÓLEO - A FAO diz que a volatilidade do petróleo - mudança constante e brusca de preços do material - pode gerar uma crise de alimentos na próxima temporada, que engloba este ano e 2012. Isso devido à crise no Oriente Médio. O motivo seria a preferência de produtores mundiais pelo milho - que produz etanol - em detrimento de outras culturas, retraindo oferta e elevando os custos.
O professor de Economia da USCS (Universidade São Caetano), Francisco Rozsa Funcia, disse que é cedo para apontar os conflitos como causa para uma crise. "Não vejo sustentação muito sólida nessas especulações." Já Russomano frisou que dificilmente haverá crise de alimentos pelo petróleo, como ocorreu em 2008. "O mercado, em especial o nosso, está bem abastecido."
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