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Corpo de Joao Cabral é enterrado no Rio
Do Diário do Grande ABC
10/10/1999 | 15:28
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Em uma cerimônia simples e discreta foi enterrado, neste domingo à tarde, no Mausoléu dos Imortais da Academia Brasileira de Letras (ABL), no Cemitério Sao Joao Batista, no Rio, o corpo de um dos maiores poetas contemporâneos brasileiros: Joao Cabral de Melo Neto. Cerca de cem pessoas, entre parentes e amigos, acompanharam o sepultamento. O poeta morreu na manha de sábado, de parada cardíaca, em sua casa, na Praia do Flamengo, zona sul do Rio, enquanto rezava de maos dadas com a mulher, Marly de Oliveira.

"Ele era, antes de tudo, um grande humanista, sua poesia era impregnada de aspectos sociais", discursou o vice-presidente da República, Marco Maciel, que compareceu ao enterro representando o presidente Fernando Henrique Cradoso. "Sua poesia era telúrica e pernambucana, mas também universal e ecumênica", disse Maciel que, como o poeta, também nasceu em Pernambuco. Na avaliaçao do vice-presidente, a morte de Joao Cabral trará para sua obra um reconhecimento maior do que teve em vida. "Isso acontece com os grandes escritores", disse.

"Morreu a única possibilidade de o Brasil conquistar o Nobel de Literatura", resumiu o pesquisador de música Ricardo Cravo Albin. Segundo o presidente da ABL, Arnaldo Niskier, a Academia Sueca havia pedido à Academia Brasileira por cinco anos consecutivos uma indicaçao de autor nacional para o Nobel. "Nas cinco vezes, o nome indicado por nós foi o de Joao Cabral", contou. Para o também poeta Ferreira Gullar, a qualidade da obra de Joao Cabral é incomparável. "É um poeta de importância mundial", afirmou.

O editor Carlos Augusto Lacerda, da Nova Fronteira, disse neste domingo nao ter conhecimento de trabalhos inéditos do poeta que ainda possam ser publicados. "Tudo o que ele quis, publicou em vida", afirmou. "Nao se deve alimentar expectativa em torno de inéditos". Ele admitiu, no entanto, que possa haver ainda algum trabalho inédito da série de tipografias e textos de crítica literária que fez em parceria com o pintor espanhol Juan Miró, entre as décadas de 40 e 60.

Velório - O corpo de Joao Cabral foi velado na Sala dos Poetas Românticos, na sede da ABL. Uma missa de corpo presente foi rezada pelo padre Fernando Bastos de Avila, também imortal. Duas de suas filhas, Inez e Isabel, leram oraçoes em intençao da alma do pai e o presidente da ABL fez um discurso em sua homenagem. No cemitério, foi a vez de o vice-presidente da República e do secretário estadual de Educaçao de Pernambuco, Éfrem Maranhao, discursarem. Em homenagem ao Estado onde nasceu, Joao Cabral foi enterrado com a bandeira de Pernambuco.

Seus cinco filhos, Inez, Luis, Isabel, Joao e Rodrigo, estiveram presentes. Sua segunda mulher, Marly de Oliveira, nao estava se sentindo bem e preferiu nao ir ao enterro. "Ele teve uma morte muito tranqüila", limitou-se a dizer.

Morte - Joao Cabral de Melo Neto morreu neste sábado, aos 79 anos, quando rezava com a mulher em casa, a ensaísta Marly de Oliveira. Ele nasceu no Recife em janeiro de 1920 e foi eleito membro da Academia Brasileira de Letras em 15 de agosto de 1968. Tomou posse da cadeira de número 37 em 6 de maio de 1969.




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