Para a diretora executiva da Ágape – Núcleo de Apoio à Reintegração Social –, Francisca Gomes de Lira, 41 anos, o melhor tratamento para o usuário de entorpecentes é mantê-lo no lugar onde ele vive, “próximo do traficante e da droga”.
Quando o paciente consegue se afastar do vício, ela tem certeza que houve a recuperação. “Posso recuperar só três de um grupo de dez, mas eu sei que esses três estão realmente recuperados.” Em alguns casos, no entanto, ela assinala, o dependente pode ser retirado do bairro onde mora. A cura completa, Francisca esclarece, não existe. “A pessoa pode ficar 20, 30 anos em abstenção, mas pode recair novamente.”
O pastor Reginaldo Rodrigues de Oliveira, presidente do Gave (Grupo de Recuperação Amor à Vida), pensa diferente. Ele é favorável ao internamento. “O regime é de quartel: o usuário acorda cedo, trabalha, faz as refeições no horário e dorme cedo. É difícil, muito ruim no começo, mas traz benefícios incontestáveis.”
Oliveira é ex-dependente químico e decidiu abrir um centro de recuperação, em Ribeirão Pires, depois que conseguiu controlar o vício. “Fiquei em um centro de internamento e para mim foi extremamente benéfico.”
A Ágape é uma das diversas ONGs (Organizações não-Governamentais) que existem na região voltadas para o tratamento de dependentes de drogas. O termo ágape significa “amor incondicional” em grego.
A sede fica no número 139 da avenida Industrial, em Santo André. Quem entra no prédio tem a impressão de estar em um colégio. Há salas de aula, quadros-negros e funcionárias de avental, com aparência de professoras.
A Ágape existe há 12 anos e oferece 60 vagas para dependentes químicos. O tratamento é gratuito. “A pessoa só nos procura quando perde tudo. Só lhe sobrou a vida”, diz Francisca, que é formada em educação e saúde pública, com pós-graduação em dependência química.
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