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Folias evita academicismo em montagem de 'Otelo'
Mauro Fernando
Do Diário do Grande ABC
19/06/2003 | 18:31
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Dirigido por Marco Antonio Rodrigues, o Grupo Folias D’Arte estréia nesta sexta Otelo, de William Shakespeare (1564-1616), em sua casa, o Galpão do Folias, em São Paulo. O melodrama fincado na inveja e no ciúme como pano de fundo tem conteúdo social, político e econômico em primeiro plano. Ailton Graça (o Majestade de Carandiru) faz o papel-título. Renata Zhaneta interpreta Desdêmona e Fernando Brêtas, Iago.

“Não realçamos esse conteúdo, ele é a peça. Otelo é história do rompimento de um pacto econômico, político e social pela construção de outro e as conseqüências pessoais que isso gera. E isso atravessa a questão do público e privado”, afirma Rodrigues. O grupo, pois, investe numa leitura “reflexiva”, que se afasta do academicismo. “O olhar que se vira para a inveja e o ciúme em Otelo tenta roubar o poder de transgressão de Shakespeare”, diz.

Estranho à elite de Veneza, o general mouro Otelo se casa com Desdêmona, filha do senador Brabâncio (Paulo Bordhin), contra a vontade deste. É convocado a defender Chipre, colônia veneziana, de um ataque turco. Em meio a esse turbilhão, nomeia Cássio (Bruno Perillo) seu tenente, provocando a ira de Iago, que se considera o nome ideal para o cargo. Com uma série de ações maquiavélicas, Iago induz em Otelo o ciúme que culminará em tragédia.

Homem do povo, Otelo não é admitido, mas aturado pela aristocracia veneziana “até quando há interesse”: “Ele é um mal necessário. Com Chipre apaziguado, Veneza o manda voltar”. Rodrigues traça uma analogia com a atualidade: “Hoje no Brasil há um pacto não da burguesia com a aristocracia rural, mas da burguesia com os trabalhadores. Não acredito em pacto do capital com o trabalho. A mudança está sendo comida pelas bordas”.




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