A desaceleração da economia mostra os primeiros sinais no Grande ABC. O desemprego na região cresceu pelo segundo mês consecutivo, após quatro meses de recuperação entre novembro de 2004 e dezembro de 2005. A taxa registrada em abril foi de 17,3%, elevando para 225 mil o número de desempregados na região – 8 mil a mais que em março, que teve índice de desemprego de 16,7%. Os dados são da pesquisa mensal da Fundação Seade (Sistema Interestadual de Dados) e do Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos). Na Grande São Paulo, o desemprego subiu de 17,3% para 17,5%.
A principal razão para o aumento do desemprego na Grande São Paulo foi a entrada de um número elevado de pessoas no mercado de trabalho (107 mil) em comparação com a geração de vagas no mês (69 mil), que também foi considerada alta. O ritmo de criação de novos também está diminuindo.
Mesmo crescendo em abril, pelo segundo mês consecutivo, a taxa de desemprego no Grande ABC é três pontos porcentuais menor que em abril do ano passado, quando a região registrava 20,3%. O tempo médio gasto na procura de trabalho diminuiu de 55 semanas em abril do ano passado para 51 semanas em abril deste ano.
O desempenho mostrado pelo consórcio Fundação Seade/Dieese diverge do levantamento de abril do Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregoados) do Ministério do Trabalho, que aponta a indústria do Grande ABC como a âncora do produção em alta na região. Foram criados nas sete cidades 1.030 novos postos de trabalho industriais, um aumento de 68% sobre as 612 contratações de março. Na soma de todos os setores da economia, foram 7.137 novos empregos em abril, 83% a mais do que ano anterior.
A diferença se explica: o Caged só registra empregos formais, enquanto que a pesquisa da Fundação Seade/Dieese inclui mais categorias de entrevistados na PEA (População Economicamente Ativa) na sua análise, aumentando, no resultado final, o número de pessoas que procuram emprego.
Analistas e pesquisadores, entretanto, concordam em um aspecto: a taxa de desemprego da PED deve diminuir em maio, mês que tradicionalmente registra bom saldo positivo de emprego, já que a geração de novos empregos, mesmo que sofra leve diminuição, deverá ser maior do que o número de novas pessoas entrando no mercado de trabalho.
Em relação ao Caged, os números de maio deverão registrar a manutenção do ritmo de criação de novas vagas no Grande ABC, sobretudo na indústria, por conta dos elevados volumes de exportações de toda a cadeia automobilística.
Serviços crescem – Na Grande São Paulo, a PED (Pesquisa de Emprego e Desemprego) indicou crescimento em serviços, com a geração de 53 mil novas vagas, e outros setores (24 mil), categoria que compreende construção civil e serviços domésticos, entre outros. O comércio perdeu 5 mil postos em abril e a indústria reduziu em 3 mil vagas o seu efetivo, com aumento do número de trabalhadores com carteira de trabalho assinada.
Segundo o Seade/Dieese, a grande entrada de pessoas no mercado de trabalho é uma característica do mês de abril, e a redução do número de vagas da indústria, considerada pequena, seria um ajuste decorrente das contratações realizadas no início do ano, quando tradicionalmente o setor reduz o seu número de postos de trabalho.
Perspectivas – Para a economista Maria do Carmo Romeiro, coordenadora do Instituto de Pesquisas do Imes (Universidade Municipal de São Caetano), a geração de postos de trabalho no Grande ABC deve continuar nos próximos meses, mas de maneira tímida.
“Apesar das expectativas dos empresários terem se reduzido pelas sucessivas altas dos juros e pela crise cambial (a desvalorização do real frente ao dólar), as contratações vão continuar, mas num ritmo mais lento. Os investimentos de peso e a geração mais forte de empregos serão retardadas”, afirma a economista.
“O empresário está tirando o pé do acelerador na hora de investir”, afirma o diretor da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo, Fernando Trincado Simon, se referindo aos empresários do Grande ABC.
“A questão cambial e os juros estão prejudicando o planejamento dos empresários. Se não houver nenhuma mudança na política econômica do governo federal nos próximos três meses, o nível de emprego pode ser reduzido drasticamente”, afirma Simon.
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