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Carolina Ferraz emplaca de vez seu estilo descolado
Alexandre Coelho
Da TV Press
05/02/2006 | 08:22
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Na adolescência Carolina Ferraz jamais se imaginou como atriz. E até os 22 anos de idade, se dividia entre uma instável carreira de modelo e a apresentação de programas como Shock e Programa de Domingo, da extinta Rede Manchete. O rosto bonito, a voz bem-postada e o jeito descolado chamaram a atenção da emissora, e o convite para integrar o elenco da novela Pantanal (1990) foi seu passaporte para a dramaturgia. “Eu nem havia estudado teatro, mas foi uma experiência que marcou definitivamente. Ali eu decidi que queria ser atriz e me dedicar a isso”, garante Carolina, intérprete de Rebeca, em Belíssima, na Globo.

São 15 anos de uma bem-sucedida carreira. Depois de trabalhar em outras produções da Manchete, como a novela A História de Ana Raio e Zé Trovão (1990), transferiu-se para a Globo em 1993, onde se destacou em novelas como O Mapa da Mina (1993), Por Amor (1997), Pecado Capital (1998), Estrela-Guia (2001), Kubanacan (2003) e Começar de Novo (2004). Atualmente, em seu primeiro trabalho com Silvio de Abreu, ela se sente à vontade como a sócia de uma agência de modelos, um mundo com o qual ela tem intimidade de sobra, embora tenha sido uma “modelo fracassada”, admite.

Além de Belíssima, a atriz está no teatro com a peça Rim, em cartaz no Rio, da qual também é produtora. Carolina faz planos para novos espetáculos, mas o ritmo de trabalho intenso – está emendando sua terceira novela –, a faz pensar em tirar férias tão logo terminem as gravações, em julho. “É um sonho, mas eu gostaria de viajar para um lugar onde pudesse estudar algo diferente, como culinária ou cerâmica”, afirma.

PERGUNTA – O que mais a atraiu na personagem Rebeca?
CAROLINA FERRAZ – Adoro o figurino. Pode parecer superficial, mas ela é uma personagem conceitual. A maneira como se veste... Eu não usaria aquelas roupas daquela maneira. Mas acho muito bacana que ela use. Eu ainda estou descobrindo a Rebeca. Em novela, você recebe um perfil da personagem, dizendo qual será o desenvolvimento dela na história, mas, no decorrer da trama, eu começo a descobrir coisas mais importantes sobre a Rebeca.

PERGUNTA – Como foi entrar na trama depois de todo mundo?
CAROLINA – Tem um lado bom e um lado ruim. O ruim é que já está todo mundo com um controle maior sobre os personagens. E isso é difícil, mesmo que eu tenha entrado sem contracenar com outros núcleos, com exceção do núcleo da oficina, já que o meu núcleo inteiro entrou comigo. O lado bom é que você entra fresquinho, traz um ar novo para a história, que já tem um perfil. Então, você precisa ter cuidado, entrar devagar. Sem contar que novela é muito longa. Para se ter uma idéia, todo mundo começou a trabalhar em setembro e eu, em dezembro. E vou acabar junto com todo mundo.

PERGUNTA – O fato de você já ter vivido esse ambiente da moda contribuiu para a composição da personagem?
CAROLINA – Acho que não. Primeiro porque eu fui uma modelo fracassada. As pessoas não acreditam, mas eu nunca fui famosa. Comecei a fotografar mesmo – e adoro fotografar, me divirto muito – depois que virei atriz. A verdade é essa. Acho que toda a minha relação com a moda me ajudou, porque eu adoro esse universo. Coleciono fotografias, tenho muitos amigos fotógrafos, designers, estilistas e convivo muito com essas pessoas, sou interessada por isso. Acho que isso contribuiu, mas nem sei como funciona uma agência de modelos.

PERGUNTA – Você nunca tinha trabalhado com o Silvio de Abreu...
CAROLINA – Existia um namoro antigo. Sempre tive um desejo profundo de estar com o Silvio, e com ele era a mesma coisa. Sempre que a gente se via falávamos que seria legal trabalharmos juntos, mas não pensava em fazer nenhum trabalho agora. Queria tirar férias porque emendei três seguidos. Mas adoro o Silvio, e quando o autor chama você, ele escreve para você. Não importa se a personagem terá muita ou menos importância. De qualquer maneira, será sempre prazeroso, porque o cara tem uma delicadeza com você.

PERGUNTA – Você falou que vem nessa batida forte de trabalho. O que torna um convite irrecusável?
CAROLINA – Eu me interesso cada vez mais pelos projetos que eu mesma produzo. E estou muito interessada em atuar com pessoas que também queiram trabalhar comigo e estejam envolvidas com o projeto. Porque o processo todo é muito desgastante. O tratamento afetivo também é fundamental, a qualidade humana que você estabelece no seu trabalho, a qualidade da relação, do afeto. Isso é legal, facilita o trabalho. Quero trabalhar em ambientes queridos. Não quero parecer imatura ou romântica, mas eu acho que é possível fazer do ambiente de trabalho uma coisa mais agradável e mais legal para todo mundo e para você. Com quem eu vou estar é fundamental em qualquer escolha.

PERGUNTA – O que você acha da novela abordar o culto à beleza na sociedade contemporânea?
CAROLINA – Não acho que seja um mito da sociedade contemporânea. No Egito antigo ou em Roma a beleza também era cultuada da mesma maneira. Antigamente as pessoas não punham silicone porque não existia. Mas já existiam pós brancos, perucas, toda a indústria do luxo que a França inventou desde o Renascimento... O que eu acho é que o Silvio aborda a sociedade capitalista de consumo. A mitificação da beleza já existia. Mas o belo, da maneira como esses grandes artistas viram e da maneira como abordavam, não era uma coisa sem conteúdo. Eles buscavam uma forma que se aproximasse da perfeição.

PERGUNTA – Você fez trabalhos cômicos. De onde vem o humor?
CAROLINA – Eu sempre quis trabalhar com comédia. Quando o Carlos Lombardi me contou como seria a Rubi, de Kubanacan, decidi que faria de qualquer maneira. Foi minha primeira personagem cômica de construção. É muito interessante trabalhar com composição. Em novela, a coisa é mais naturalista, um universo do dia-a-dia, uma coisa normal. Fazer composição é mais complicado. Talvez seja pretensão minha dizer que sou engraçada, mas eu sou, ao menos, bem-humorada. E é difícil fazer comédia, você precisa ter um tempo diferente. Adoro drama, adoraria fazer uma maníaco-depressiva, uma louca, uma mulher profundamente triste. Mas nunca me deram oportunidade para esse tipo de personagem.

PERGUNTA – Você falou de intuição e razão. Você pensa nisso para compor um personagem?
CAROLINA – Às vezes você só trabalha. Às vezes você não consegue pensar em nada e, quando chega para gravar, o personagem acontece. No caso da Milena, de Por Amor, eu não sabia como fazer. Aí um dia eu ouvi a música O Leãozinho, do Caetano Veloso, e pensei que era a textura da personagem, que ela era essa mulher. E virei leoazinha. O Caetano nem sabe disso. Já para fazer a Rosário, que é a personagem que faço no teatro, foi um trabalho de sentar, estudar, ler muitas vezes. Cada papel é de uma maneira. Com a Rebeca eu não sabia o que fazer. Falei com a Denise Saraceni (diretora) que eu não entendia. Por exemplo, coloquei a voz no peito, para soar um pouco mais grave. São detalhes que a gente vai buscando. O resto aparece depois, mas não tenho um método.

PERGUNTA – A Globo comprou os direitos de Pantanal. Você participaria de um eventual remake da novela?
CAROLINA – Foi meu primeiro trabalho, há tanto tempo. Fui até lá, me jogaram naquele lugar com bandos de jacarés por todos os lados, acordava às quatro da manhã, tomava banho frio e dormia às seis da tarde. A gente se comunicava pelo rádio, porque telefone não funcionava. Significou um momento feliz. Foi uma delícia aquela aventura, com o Jayme Monjardim, naquele lugar maluco. Marcou minha carreira. Foi aí que realmente eu decidi que queria ser atriz e me dedicar a isso. E foi inesperado para todos nós. Foi uma conspiração de fatores favoráveis. Acho que ninguém imaginava que faria tanto sucesso. A ficha só caiu depois.




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