Embora o setor de táxi tenha observado oportunidade de crescimento na região ao longo dos anos, o boom de aplicativos criados para incentivar e auxiliar passageiros na utilização do serviço, e que deveriam ser ferramentas complementares, tem se tornado motivo de desgaste e da perda de clientes para outras vertentes, como o Uber.
“Há cerca de quatro anos, ganhava R$ 300 trabalhando por oito horas diárias. Hoje, mesmo cumprindo 18 horas diariamente, o máximo que lucro é R$ 150. Muita coisa mudou e o que se nota é que o poder público não tem ajudado a categoria a sair dessa situação”, desabafa o motorista de táxi Aparecido Rocha, 60 anos. “Ao mesmo tempo, taxistas não têm se unido da maneira que deveriam”, acrescenta.
Para especialistas ouvidos pelo Diário, o cenário é causado pelo fato de que taxistas pararam no tempo e não acompanharam a evolução. “Hoje, o Uber tem investido na corrida compartilhada, algo que surgiu na década de 1950, justamente com os taxistas. É preciso que eles (motoristas de táxi) se reinventem para não perder espaço. É preciso sair da zona de conforto”, avalia a professora de Mobilidade Urbana da UFABC (Universidade Federal do ABC), Silvana Zioni.
Segundo o especialista em Mobilidade Urbana e Gestão Ambiental da Universidade Presbiteriana Mackenzie, Luiz Vicente de Mello Filho, além de analisar a perda de espaço dos taxistas, é preciso que a categoria e prefeituras se atentem ao fato de que o serviço deixou de ser restrito à elite. “O que se nota é que esses aplicativos mudaram a concepção de muitas pessoas. Se antes elas julgavam um serviço caro, hoje notaram que é acessível. Acredito em mudança no sistema de Mobilidade Urbana até 2030", analisa. Para isso, ele alerta a necessidade de as prefeituras acompanharem mais atentamente esse processo. “Os governos precisam se posicionar de alguma maneira sobre o setor. Caso contrário, ambos podem afundar no mesmo barco.”
O presidente do Sindicato dos Taxistas do Grande ABC, Odemar Ferreira, reforça a ausência de interesse do poder público para com a categoria. Prova disso é a demora na discussão do reajuste de 11% na tarifa de táxi entre as sete cidades, demanda frente ao Consórcio Intermunicipal do Grande ABC que não avança. “Ninguém quer se posicionar em ano de eleição. Enquanto isso, só perdemos espaço para o Uber, que é irregular e ninguém faz nada”, afirma.
TAXA
Na região, um dos principais transtornos causados aos usuários é a cobrança da taxa de 50% para a troca de município. Na prática, a retirada desse percentual precisa passar por votação da categoria junto às administrações municipais e ser debatida no Consórcio, mas alguns profissionais revelam já não cobrar a tarifa por conta própria. “É uma forma de não perder mais clientes. Melhor ganhar menos do que não ganhar nada. Mas acredito que isso precisa ser debatido por todos para alguns taxistas não serem prejudicados”, relata o motorista de táxi Antonio de Souza Neto, 47.
Categoria ainda tem divergências sobre o excesso ou falta de veículos
Levantamento feito pelo Diário mostra que, atualmente, os sete municípios totalizam 1.553 táxis licenciados pelas prefeituras. O número equivale a média de um veículo para grupo de 1.751 pessoas. Índice superior ao observado na Capital, que possui frota de 33.974 táxis, o correspondente a um carro para cada grupo de 352 pessoas, segundo a Adetax (Associação das Empresas de Táxi do Município de São Paulo). “É muito táxi. Se tiver mais vamos acabar com os taxistas da região”, fala o presidente do Sindicato dos Taxistas do Grande ABC, Odemar Ferreira.
Entretanto, taxistas relatam ausência de veículo. “Em São Bernardo, por exemplo, temos diversos pontos em áreas de comunidade em que não tem demanda, enquanto no Centro, em horário de pico, precisa. Acho que falta táxi, mas é necessário que a Prefeitura faça um mapeamento das áreas que precisam”, avalia o taxista Ivo Aguilar Garcia, 66 anos.
Com aproximadamente 213 pontos de táxis espalhados pela região, o Grande ABC tem deixado de lado a abertura de novas concessões. Somente Mauá deve abrir nas próximas semanas edital para dobrar a sua frota de táxis.
Usuários acham que situação proporciona disputa saudável
Se por um lado taxistas e motoristas de Uber divergem sobre a concorrência do serviço, usuários comemoram os benefícios dessa disputa “saudável”. “Sinceramente, tem sido muito bom para nós, usuários, essa questão dos dois serviços. Agora temos como comparar preço e, principalmente, avaliar a qualidade”, ressalta o publicitário Jefferson Nunes, 26 anos.
Para a aposentada Regina Cassin, 63, há muitos anos ela não via um serviço de veículo individual não monopolizado. “Agora temos mais opções. Isso é maravilhoso”, celebra.
Atualmente, o valor base de taxistas na região é de R$ 4,50. Já o preço do quilômetro varia de R$ 2,70 na bandeira 1 e R$ 3,20 na 2. Entretanto, a categoria tem discutido há mais de um ano com prefeitos da região reajuste de 11% em sua tarifa. Segundo o Consórcio, a pauta ainda está em análise.
Já no Uber, além da tarifa base de R$ 2, o preço é calculado conforme a quilometragem e o tempo no veículo. Na categoria UberX, R$ 1,40 o quilômetro e R$ 0,26 por minuto. No UberBlack, R$ 2,32 o quilômetros e R$ 0,28 por minuto.
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