A longa duração da Série B do Campeonato Brasileiro levou o São Caetano a adotar medidas preventivas para tentar diminuir os riscos de lesões na região do púbis e estiramentos musculares, as mais comuns em atletas de futebol. O trabalho, explica o fisiterapeuta Bruno Brown Fontes, 30 anos, consiste no fortalecimento muscular da região abdominal e da musculatura de coxas e pernas.
Segundo Fontes, que chegou ao clube em janeiro e comandou a pré-temporada em Águas de Lindóia, a ênfase de seu trabalho é dada mais na região abdominal, porque é a que deixa o jogador em tratamento por mais tempo.
"Dividimos o time em grupos. Duas vezes por semana cada grupo chega uma hora antes para fazer as atividades. Com esse trabalho, você trata quem já teve problema e previne que outros venham a tê-lo. Com isso, reduz as chances de o atleta ir para o departamento médico", disse o especialista.
Na avaliação do profissional, a atividade traz ganhos ao atleta e ao clube. "Com a diminuição dos riscos de lesão, o atleta está cada vez mais apto a jogar, o que economicamente é ideal para o clube. Ninguém quer pagar atleta para ele ficar a todo momento se tratando."
De acordo com Fontes, as lesões abdominais podem ocorrer durante o impacto com o solo nos saltos para cabeceio, ou mesmo durante as corridas em campos pesados, duros e sem boas condições e mesmo durante o movimento do quadril nos chutes. "Esses impactos mexem muito com a região pubiana. Se o quadril não estiver bem equilibrado (com potência muscular), ocasiona dores."
Conforme explica o fisioterapeuta, no alinhamento de quadril é usada a chamada técnica de Dejarnette, na qual algumas cunhas são colocadas na cintura do jogador. Na atividade, voltada para relaxar e soltar a parte da musculatura que estiver tensa, também são usadas bolas de tênis.
Já em relação à musculatura das coxas são usadas as chamadas ventosas, equipamento que, pressionado, faz com que o ar liberado puxe os músculos para ativar a circulação sanguínea. "Com a ativação da corrente sanguínea local, é possivel colocar em circulação o sangue que possa estar estagnado."
O lateral-direito Artur e o meia Everton Ribeiro, que já tiveram problemas na região do púbis e participam do tratamento de prevenção, aprovam a medida. "Comecei a sentir no início do ano, mas agora que faço esse trabalho de fortalecimento não é mais frequente", comentou Artur.
Everton conta que convivia com as dores desde o ano passado. "Sentia um pouco sempre depois que pegávamos campos pesados, com pouca grama, ou também gramado muito alto. Quando molham o campo, já diminui um pouco o impacto. Agora, após essas atividades, já aliviou bastante."
Atividade ainda é precária, diz Fontes
Antes de ser contratado pelo São Caetano, no início de janeiro, o fisioterapeuta Bruno Brown Fontes trabalhou por seis meses no Ismaily, equipe de futebol da Primeira Divisão do Egito. Passou também uma temporada no Al Hilal, do Sudão. O fisioterapeuta diz que a estrutura profissional nestes países, e mesmo no Brasil, sobretudo nas médias e pequenas equipes, ainda é muito precária.
"Não é só a estrutura de trabalho. Nestes países faltam profissionais nesta área. Em alguns clubes, tanto fora como no Brasil, o trabalho que fazemos aqui no São Caetano é desenvolvido por preparadores físicos. No Brasil, até em clube da Série A, o trabalho é precário. Na Série B, então, nem se fala", destacou.
Segundo Fontes, a falta de profissional adequado para a atividade traz prejuízos aos clubes. "Quando não se faz o tratamento adequado, você pode estar tratando a dor e não o problema. Com isso, o jogador é entregue ao departamento médico e pode demorar mais tempo a voltar. É prejuízo para o clube, porque o atleta fica parado e não rende para o time."
Natural do Rio de Janeiro, Fontes começou a trabalhar com futebol há dois anos. Iniciou na equipe de futebol de salão do Botafogo. Em seguida, ficou três anos prestando serviços à Marinha, até que seguiu para o Al Hilal e depois para o Ismaily.
Atenção! Os comentários do site são via Facebook. Lembre-se de que o comentário é de inteira responsabilidade do autor e não expressa a opinião do jornal. Comentários que violem a lei, a moral e os bons costumes ou violem direitos de terceiros poderão ser denunciados pelos usuários e sua conta poderá ser banida.