Economia Titulo Crédito
Juro alto desestimula economia, diz Afif

Para presidente nacional do Sebrae, taxas
elevadas desaquecem atividade produtiva no País

Fábio Munhoz
Do Diário do Grande ABC
20/06/2016 | 07:00
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Claudinei Plaza/DGABC


O estímulo à atividade produtiva no País tem de passar, necessariamente, pela redução nas taxas de juros. A opinião é do presidente nacional do Sebrae, Guilherme Afif Domingos, que, até o ano passado, ocupou o cargo de ministro da Secretaria da Micro e Pequena Empresa. Na opinião dele, as tarifas elevadas afastam o empresário da atividade produtiva, já que passa a ser mais vantajoso aplicar os recursos no mercado financeiro.

Desde julho de 2015, a taxa básica de juros (Selic) está fixada em 14,25% ao ano. A taxa básica real de juros, que desconta a inflação, está girando em torno de 6% ao ano, o que coloca o Brasil entre os primeiros colocados no ranking mundial. “Na Europa, a maioria dos países está entrando em juro zero ou juro negativo para poder estimular a economia. Estamos seguindo no sentido contrário”, comenta Afif.

“Quando se faz as contas, percebe-se que compensa mais deixar o dinheiro parado no banco”, afirma o presidente do Sebrae, que já foi vice-governador de São Paulo entre 2011 e 2014. Por exemplo: uma aplicação no Tesouro Direto indexada à inflação oferece rentabilidade líquida, após taxas e Imposto de Renda, de 14,8% ao ano. Enquanto isso, o investimento em produção traz riscos, especialmente em épocas de desaquecimento da atividade econômica. Isso porque, em razão da baixa demanda, o retorno pode ser abaixo do esperado.

Para o cliente final, os juros altos também são prejudiciais. Isso porque o crédito se torna mais caro. Esse fator, somado à queda na renda da população, faz com que os bancos se retraiam para evitar risco de inadimplência. Dessa maneira, as instituições passam a ser mais rigorosas na aprovação financiamentos e outras operações. “Os bancos estão trancados, pois só dão prata a quem tem ouro.”

Por outro lado, Afif reconhece que a redução dos juros é um processo complexo, principalmente em razão de o País estar com a inflação em níveis elevados. O IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo), indicador oficial do Brasil, fechou o período de 12 meses encerrado em maio com acumulado de 9,32%. A meta do Banco Central é de 4,5%, com margem de dois pontos percentuais para cima ou para baixo. “Porém, a inflação deve ser combatida em cima do deficit público. Quando há esse equilíbrio nas contas públicas, deixa de haver pressão inflacionária. É aí o momento de se reduzir os juros”, acrescenta. “A nossa inflação não é de demanda”, conclui.

CRISE POLÍTICA

O ex-ministro considera que o governo provisório de Michel Temer (PMDB) tem a missão de “controlar o avião para que ele não caia”. “Estamos na primeira etapa (da resolução da crise política), que é a assunção definitiva do presidente da República de interino a presidente de fato para deixar o Brasil mais ou menos em ordem para 2018.”

“É preciso haver uma ampla reforma política, que será a maior de todas as mudanças estruturais. Sem ela, não serão possíveis as reformas fiscal, tributária e da Federação”, complementa.

O empresário acrescenta que a recuperação também deve passar pelos deputados e senadores. “Temos um comandante na área econômica (o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles) que está ao largo do problema político, mas ele depende do Congresso para votar determinadas medidas”, avalia Afif, que considera que os parlamentares estão “acuados” diante do momento de instabilidade no País.

Selic está em 14,25% ao ano desde julho

A taxa básica de juros, a Selic, está fixada em 14,25% ao ano desde julho de 2015. Desde então, o Copom (Comitê de Política Monetária) manteve a taxa neste patamar por mais sete reuniões, sendo que a última foi realizada na semana passada.

A Selic rege todas as tarifas de juros no País é elevada pelo governo em momentos de inflação acelerada, na tentativa de conter a subida dos preços. “Como a renda do brasileiro é baixa, a população precisa do crédito para fazer compras. Quando as taxas estão altas, portanto, há um desestímulo ao consumo”, explica o economista Ricardo Balistiero, coordenador do curso de Administração do Instituto Mauá de Tecnologia.

Quando há queda na demanda, os preços praticados pelo mercado tendem a cair também, o que provoca a diminuição da inflação.

Apesar de concordar que os juros cobrados no Brasil ainda são extremamente elevados, o especialista considera que ainda não é o momento de o BC (Banco Central) reduzir a Selic. “O histórico de estabilização inflacionária no Brasil é muito recente. A inflação ainda está alta no País e não podemos brincar com ela. Precisamos aguardar os próximos relatórios sobre a inflação e, se começar a ceder, o BC poderá iniciar as quedas de maneira lenta. Até porque, se a redução fosse feita de maneira abrupta, o mercado iria entender que o governo perdeu o controle sobre os preços, o que seria muito ruim”, finaliza o economista. 




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