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Na região, sebos sobrevivem à era tecnológica, com clientela cativa

Mesmo com a internet oferecendo vasto conteúdo, preço e obras raras são atrativos

Por Leonardo Santos
Especial para o Diário
13/06/2016 | 07:00
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Anderson Silva/DGABC


Com o constante avanço da tecnologia, a internet virou a principal ferramenta de absorção de conteúdo. Livros, artigos, músicas e filmes estão mais acessíveis do que nunca, fazendo com que a informação seja gratuita, mesmo isso sendo considerado por muitos a causa da crise do mercado literário, fonográfico e cinematográfico. Entretanto, o público da vanguarda que viveu a época dos discos, CDs e VHSs, e ainda gosta de comprá-los, tem seu refúgio: os sebos.

Além de serem espaços essenciais para preservação da literatura, música e cinema, os sebos compartilham histórias e memórias. O preço dos produtos, mais baratos do que nas lojas tradicionais, chama atenção do público, que pode adquirir obras raras que não estão mais em catálogo.

Casados há 11 anos, o casal Carlos Aberto e Elenita (que preferiu não informar o sobrenome e idade) é apaixonado por livros. Os dois começaram com uma banca em frente ao Paço Municipal de Santo André, mas até certo ponto. “Tínhamos tanto livro que a banca não deu mais conta, aí, em 2006, mudamos para cá”, conta Elenita, proprietária da Livraria Poesia & Arte, localizada na Rua Monte Casseros.

Hoje, com mais de 100 mil títulos cadastrados, Elenita tem clientes fiéis e ressalta que a economia que os sebos proporcionam é bem significativa. “Muitos pais procuram livros que as escolas pedem, que nas livrarias são bem mais caros. Além disso, a procura pelo vinil ainda é grande. Temos muitos colecionadores”, comenta.

Depois de trabalhar anos em um sebo, Alexandre Ribeiro, 39 anos, está há 11 na Rua Dona Elisa Fláquer, com a Livraria Alexandria, que tem mais de 16 mil títulos cadastrados. “É engraçado que quando você se envolve com sebo, não se sai mais dele”, comenta. O livreiro conta como funciona esse mercado. “Precisamos das grandes livrarias, porque elas são as fornecedoras de livros. No meu caso, a procura por best-sellers (livros que são sucesso de vendas) é com certeza maior.”

Apesar de muitos culparem a internet pela crise do mercado cultural, Ribeiro contesta. “Mesmo com a facilidade que a internet proporciona, muita gente nasceu antes desse avanço tecnológico e está acostumada a ler em folhas”, avalia. “Ler é diversão. É possível repassar conhecimento e histórias.”

Metalúrgico aposentado, Marcos Zambianco, 56, vende CDs e discos em seu comércio localizado abaixo do Viaduto Adib Chamas. Marcão (como é conhecido), perdeu o emprego por causa da idade e resolveu mudar o rumo de sua vida. Fã de rock, ele sempre gostou de comprar discos e CDs. “Tinha que dar um jeito na situação, então, arranjei esse espaço e comecei a vender parte da minha coleção para começar o negócio”, conta. Quanto a venda dos CDs, Marcão é sincero. “Tem caído um pouco, sim, mas o vinil é muito procurado ainda, e, por incrível que pareça, é a garotada que mais vem atrás.”

Simone Essi, crítica musical do Espaço 50, coletivo de cultura e arte de São Caetano, explica que os sebos passam sensações. “Nessa era de iPod, iTunes e MP3, quando se compra um vinil de 1940, com a sonoridade da época, na vitrola, vem aquela atmosfera, aquele sabor da infância, de um passado que os saudosistas e curiosos adoram”, avalia. “Esse acúmulo de vivência é um aspecto essencial na apreciação musical, para se compreender mais integralmente os processos da composição, interpretação e da produção em si.”


Jovens são frequentadores constantes

Ao contrário do que se pensa, os sebos têm clientes que sequer viveram a época de alguns produtos à venda. Muitos jovens em busca de discos, gibis, CDs e até mesmo brinquedos vão até os estabelecimentos para enriquecer suas coleções.

O estudante de Engenharia Guilherme Garcia, 20 anos, é fã da banda Rolling Stones e comenta que já achou um CD raro do grupo em um sebo. “Eu não conseguia acreditar quando vi. E consegui por um preço acessível”, comenta. “É muito bom saber que ainda há lugares para se buscar este tipo de produto.”

Já o estudante de Ciências Sociais Gabriel Machado, 20, adquiriu vários livros essenciais para sua faculdade. “O dinheiro estava curto. Fui a um sebo com esperança de conseguir economizar. Deu certo”, salienta.

Apaixonada por gibis, a estudante de Jornalismo Caroline Monaro, 26, ressalta que os espaços trazem sensação de bem-estar. “Sinto-me em casa quando estou em um sebo. Que bom que ainda podemos encontrar muita velharia.” 




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