Rendimento dos empregados do setor produtivo
corresponde a 38,8% do total do Grande ABC
A massa salarial dos trabalhadores da indústria do Grande ABC teve queda real (descontada a inflação) de 33,1% entre 2011 e 2015, segundo levantamento realizado pelo Diário com base em dados do Ministério do Trabalho e Emprego. Ou seja, encolheu em um terço durante os cinco anos do governo de Dilma Rousseff (PT), afastada por impeachment a partir deste mês, por 180 dias.
Em números absolutos, o total dos rendimentos dos empregados no setor produtivo na região passou de R$ 902,9 milhões para R$ 804 milhões, o que representa perda de R$ 98,8 milhões. O deflator utilizado foi o INPC (Índice Nacional de Preços ao Consumidor).
A diminuição é consequência direta da redução nos postos de trabalho: nesse mesmo período, segundo o Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados), do MTE (Ministério do Trabalho e Emprego), 48,2 mil pessoas com carteira assinada foram demitidas da indústria. Os cortes, por sua vez, são provocados pelo desaquecimento da economia nacional e pelo cenário de insegurança por parte de investidores e consumidores.
O resultado dessa equação é a alta ociosidade. segundo o Observatório Econômico da Universidade Metodista, as fábricas do Grande ABC encerraram 2015 utilizando apenas 56% de sua capacidade instalada, o que é considerado extremamente baixo. “A saída para esse momento seria inovar. Porém, historicamente, essa não é uma característica da indústria brasileira, por ser muito mais de reprodução de um modelo pronto do que de criação de algo novo”, comenta o professor Sandro Maskio, coordenador do departamento de estudos.
Além da falta de perspectiva atrelada à instabilidade política, outro cenário que prejudica a atividade fabril é a manutenção dos juros elevados: atualmente, a taxa básica, a Selic, está em 14,25% ao ano. Isso faz com que os fundos de aplicação fiquem bastante rentáveis. Torna-se, portanto, mais vantajoso investir no mercado financeiro do que correr riscos com produção.
De acordo com a PED (Pesquisa de Emprego e Desemprego), feita pela Fundação Seade (Sistema Estadual de Análise de Dados) e pelo Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos), em dezembro do ano passado, 24,93% de todos os ocupados na região estavam trabalhando na indústria. Entretanto, o peso dos salários pagos pelo setor produtivo é mais relevante: fechou 2015 sendo responsável por 38,81% dos rendimentos totais.
“A indústria paga os salários mais altos. Portanto, os cortes nessa área provocam consequências nos setores de comércio e serviços, já que, com menos dinheiro em circulação, também cai a demanda nesses estabelecimentos”, comenta o economista César Andaku, do Dieese.
Balanço da FecomercioSP (Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo) mostra que o faturamento do varejo teve queda real de 3,3% no acumulado do primeiro bimestre de 2016 na comparação com o mesmo período do ano anterior, passando de R$ 2,501 bilhões para R$ 2,418 bilhões – R$ 82,5 milhões a menos.
GERAL - A massa salarial total no Grande ABC retraiu 26,62% entre 2011 e 2015, considerando a inflação do período, que acumulou 33,19%, conforme o INPC. Em valores absolutos, o montante recebido pelos trabalhadores da região despencou de R$ 2,3 bilhões para R$ 2 bilhões: R$ 300 milhões a menos.
População modifica hábitos de consumo
Com menos dinheiro à disposição, a população tem de modificar os hábitos de consumo durante a crise econômica. Itens considerados supérfluos são rapidamente cortados da lista de compras. “Tive de mudar muitas coisas. Sair à noite e comer fora de casa, por exemplo, estão fora de cogitação”, relata Robson Silva, 39 anos, que está desempregado desde 2014 após trabalhar por cerca de 15 anos na montadora Scania, de São Bernardo. “Está muito difícil arrumar emprego. Inicialmente, estava tentando algo na minha área, de logística. Mas, agora, parti para o que vier. E, ainda assim, não consigo. Às vezes, até chamam para entrevista, mas é uma oportunidade para 30 candidatos. Isso quando não cancelam a vaga”, lamenta.
Silva diz ter diversos cursos técnicos na área e, apesar de a qualificação ser considerada fator de destaque, avalia que, durante o atual momento do País, pode ser um empecilho. “Imagino que os patrões pensem que, por ter um currículo melhor, o funcionário capacitado irá cair fora da empresa na primeira oportunidade quando o mercado melhorar.”
Vendedora de loja de roupas femininas no Centro de Santo André, Elizabete Maria dos Santos, 51, viu o movimento cair drasticamente no estabelecimento. “Está vindo pouca gente. E as moças que vêm, estão gastando bem menos. Quem comprava três peças, hoje compra uma. E olhe lá. E ainda parcelam.” Ela salienta que, mesmo para valores pequenos, as clientes optam por dividir o gasto no cartão de crédito. Em loja de semijoias lê-se faixa: “Precisamos de clientes com ou sem alegria”. Questionada sobre o porquê dos dizeres, vendedora que prefere não se identificar diz que é fundamental inovar e chamar atenção. “Temos que fazer de tudo para atrair consumidores.”
Crise para uns, oportunidade para outros. O comerciante Leandro Giraldi viu na recessão do País possibilidade de expandir os negócios. Proprietário de copiadora passou a vender listas com os contatos de agências de empregos no Grande ABC e no Estado a R$ 1,50 e R$ 5, respectivamente, além de tirar cópias de currículos a preços mais baixos que os da concorrência. “A procura aumentou muito nos últimos meses. Vem desde faxineiro a engenheiro”, garante.
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