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Região ganha leitos no SUS, mas oferta ainda é insuficiente

Embora as sete cidades tenham criado 106 postos
de internação entre 2012 e 2016, população sofre

Por Vanessa de Oliveira
Do Diário do Grande ABC
23/05/2016 | 07:00
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Celso Luiz/DGABC


Estudo realizado pelo CFM (Conselho Federal de Medicina) aponta que, de 2010 a 2015, o Brasil perdeu quase 24 mil leitos de internação para uso exclusivo do SUS (Sistema Único de Saúde). Na contramão do País, o Grande ABC registrou crescimento. Porém, a notícia não é plenamente satisfatória, quando comparada a oferta à demanda. Levantamento feito pelo Diário com base no Cadastro Nacional dos Estabelecimentos de Saúde do Brasil, do Ministério da Saúde, mostra que, de maio de 2012 (início da série histórica disponível para consulta) até hoje, 106 leitos entraram em operação entre as sete cidades.

O número, que era de 2.702 leitos, passou para 2.808, envolvendo as categorias cirúrgica, clínica, complementar, obstétrica, pediátrica, outras especialidades (como crônicos e psiquiatria) e Hospital Dia, abrangendo equipamentos municipais, estaduais e conveniados ao SUS, de entidades filantrópicas. A quantidade é para uma população de 2,7 milhões de pessoas e, embora a OMS (Organização Mundial de Saúde) e a OPAS (Organização Pan-Americana da Saúde) não recomendem ou estabeleçam taxas ideais de leitos por habitantes, o número está aquém do ideal.

A dona de casa Laurita Lina de Sousa, 51 anos, de São Bernardo, revela que, no ano passado, o filho Lucas, 21, que é portador de paralisia cerebral e gastrostomia (orifício para alimentação via sonda), ficou por 11 dias em uma maca no setor de emergência do PS (Pronto-Socorro) Central da cidade, com diagnóstico de choque séptico (infecção que pode se espalhar pelo organismo). Embora ele necessitasse de transferência para a UTI (Unidade de Terapia Intensiva) com urgência, a justificativa para a demora em encaminhá-lo para o HC (Hospital de Clínicas) era a de que não havia leitos disponíveis na unidade. “É um descaso com o ser humano, parece que a vida não significa nada”, lamenta.

“O problema é a má gestão do recurso público, o alto custo para manter os leitos e a verba escassa, além da falta de iniciativa por aqueles que gerem a Saúde dos municípios”, avalia o biomédico especialista em Saúde Pública e professor da Universidade Metodista Victor Hugo Bigoli.

Das cinco cidades (exceto Ribeirão Pires, que manteve 51 leitos, SUS e Rio Grande da Serra, que não possui postos de internação), São Bernardo, foi a única que, em quatro anos, apresentou queda no número de vagas: passou de 821 para 674. A maior perda está nos leitos psiquiátricos, seguindo o que ocorreu em todo o País.

A professora de Saúde Coletiva da FMABC (Faculdade de Medicina do ABC) Vânia Barbosa do Nascimento explica que realmente há a tendência de desospitalização de paciente psiquiátrico. “Com novos recursos terapêuticos, evolução da medicina e avanços tecnológicos, não é mais preciso manter esse paciente internado, só em casos de urgência. Hoje, não se tem mais internações prolongadas.”

 

OUTRAS ÁREAS

No levantamento do CFM, as maiores perdas de leitos no Brasil são nas áreas de psiquiatria, obstetrícia, pediatria e cirurgia geral. Nessas especialidades, o Grande ABC também registrou queda: em maio de 2012 eram 1.221 leitos SUS nessas categorias e atualmente são 992, perda de 229 leitos. “Tivemos redução importante da natalidade, por consequência a diminuição de leitos obstétricos. Na pediatria, conforme aumentam as ações preventivas, as crianças precisam menos de internação, mas a redução de leitos cirúrgicos não compreendo, porque temos demanda grande por cirurgia na região”, analisa Vânia. A maior perda, nessa área, foi em Santo André (de 148 para 133).

“Mesmo com o aumento nos últimos anos, a demanda por leitos é bem maior do que a oferta. É o velho hábito de trabalharmos sempre com o número mínimo de leitos exigido”, salienta Bigoli.

 

Cenário econômico de crise indica aumento da demanda

Com a crise financeira pela qual atravessa o País, faltam recursos para investimento e cresce o número de usuários que não conseguem manter plano de Saúde privado e migram para o SUS (Sistema Único de Saúde).

“A demanda está aumentando e é preciso alocar mais recursos para a Saúde, mas estou muito preocupada, porque só tenho visto cortes e isso vai gerar um caos muito grande”, destaca a professora de Saúde Coletiva da FMABC (Faculdade de Medicina do ABC) Vânia Barbosa do Nascimento.

“É o momento de se organizar e pensar na população que já utiliza, além daqueles que, por um momento de crise, estarão usufruindo também”, diz o biomédico especialista em Saúde Pública e professor da Universidade Metodista Victor Hugo Bigoli.

Algumas prefeituras da região projetam aumentar a oferta de leitos na rede pública. Em Santo André, o Pronto-Socorro do CHM (Centro Hospitalar Municipal) passa por ampliação para receber dez leitos de UTI (Unidade de Terapia Intensiva). A entrega ocorrerá ainda neste ano, segundo a Secretaria de Saúde. O Executivo informou que possui hoje 460 leitos, dos quais, 455 cadastrados e cinco do CPN (Centro de Parto Normal), serviço entregue neste ano no Hospital da Mulher, em processo de cadastramento no Ministério da Saúde.

Em São Caetano, estão previstas, em até 60 dias, novas 19 alas de apartamento e de enfermaria no Hospital Infantil e Maternidade Márcia Braido, referência em atendimento pediátrico.

A Prefeitura de Ribeirão Pires informou que, com a construção do Complexo Hospitalar, está previsto o aumento de 123 leitos, sendo dez de UTI. Porém, não há previsão de data.

Já Mauá disse que, atualmente, o Hospital Nardini trabalha com cerca de 200 leitos ativos e não há previsão de aumento. As demais cidades não responderam.

Na última semana, o recém empossado ministro da Saúde, Ricardo Barros, declarou que a falta de equilíbrio fiscal no País impacta diretamente o financiamento do SUS e de outras áreas sociais. “Sabemos das dificuldades de financiamento do SUS, que tem funcionado com os recursos disponíveis, atendendo ao máximo de pessoas com as melhores condições possíveis. Não espero ter ampliação de recursos, mas vamos buscar o que já está autorizado”, disse.




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