Economia Titulo Empreendedorismo
Moradores da região e ex-viciados criam escola de inglês profissionalizante

Existente há 10 anos, empresa hoje tem 24 unidades espalhadas pelo País; foco é público de 11 a 18 anos

Por Soraia Abreu Pedrozo
Do Diário do Grande ABC
15/05/2016 | 07:00
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Ari Paleta


Oswaldo Segantin, 42 anos, e Denis Sá, 41, se conheceram em comunidade terapêutica da região para se recuperarem do vício de drogas, em 2001. A afinidade dos moradores de São Caetano e Ribeirão Pires fez com que, ao saírem dali, após fazer muitas palestras sobre dependência química, notassem o talento em lidar com o público e começassem a trabalhar com a divulgação dos cursos de inglês de uma escola. Foi quando perceberam que poderiam desenvolver modelo próprio de ensino do idioma aliado a cursos profissionalizantes, algo que ainda não havia no País, e criaram a Enjoy.

“Começamos de modo improvisado, após participarmos do Empretec, do Sebrae, para ter noções de empreendedorismo. Desenvolvemos livro próprio, que encomendamos para um coordenador pedagógico, e o lançamos pela Editora Yendis, de São Caetano. O proprietário gostou tanto da ideia que disse que seria exclusivamente nossa”, conta Segantin. “Queríamos atingir público de 11 a 18 anos, das classes C e D, mas para esse pessoal, ensinar o inglês por si só não era atrativo, não justificava pagar mensalidade. Era preciso ter algo a mais. Foi quando decidimos unir com cursos profissionalizantes no idioma estrangeiro”, complementa, ao lembrar como tudo começou, em 2006.

Dez anos depois, a dupla contabiliza 24 unidades, sendo nove próprias (duas no Grande ABC, em São Bernardo, onde tudo começou, e em Santo André) e 15 franquias (uma em Mauá), que começaram a ser disponibilizadas no fim do ano passado.

Na região, portanto, são três unidades, já que o perfil socioeconômico das sete cidades é mais voltado a média e alta renda. Do restante, 21 estão distribuídas por São Paulo, Osasco, Guarulhos, Campinas, Sorocaba, Tatuí, São José dos Campos, Praia Grande, São João do Meriti (Rio de Janeiro), Brasília (Distrito Federal), Fortaleza (Ceará), Ipatinga e Contagem (Minas Gerais), Cascavel (Paraná), Dourados (Mato Grosso do Sul), Porto Velho (Rondônia) e Rio Branco (Acre).

Em 2015, a Enjoy faturou R$ 15 milhões, com 15 unidades, sendo sete franquias e oito próprias. Neste ano, com nove abertas, o objetivo é atingir receita de R$ 22 milhões (alta de 46,6%) com 50 unidades (expansão de 233,3%). Só para ter ideia da evolução ano a ano, em 2006, com apenas a unidade piloto, em São Bernardo, o montante faturado atingiu R$ 500 mil. Em 2010, passou a R$ 10 milhões anuais e, em 2014, R$ 13 milhões.

EXPANSÃO

“Em agosto do ano passado fomos especulados pelo fundo de investimentos Gera Venture Capital, de Jorge Paulo Lemann, focado no setor educacional. Porém, tínhamos 8.000 alunos naquele momento, em nossas oito escolas próprias. Eles nos disseram que, quando chegássemos a 15 mil, que os procurassem”, revela Sá.

Essa sondagem fez com que os empresários despertassem os olhares para a abertura de franquias. Foi quando buscaram pela ABF (Associação Brasileira de Franchising) para orientá-los, e optaram por perfil que não comprometesse o modelo de negócios.

Com investimento inicial de R$ 180 mil e retorno estimado em 14 meses, a orientação é que a franquia opere com 200 a 700 alunos, e o faturamento mínimo inicial fica entre R$ 60 mil e R$ 100 mil, crescendo conforme a entrada de estudantes. “Tem escola que já fatura R$ 250 mil”, conta Sá.

A proposta é a de que o lucro atinja 30% do faturamento, mas, para isso, o suporte aos franqueados deve ser constante. “Todos são treinados antes. Realizamos processo seletivo para ver qual o tamanho dos sonhos dos empresários. Afinal, nossa empresa só vai crescer do tamanho que a gente crescer”, afirma Segantin. “O objetivo é, para todas as escolas, fazer uma matrícula por dia, mesmo em tempos de crise. A prospecção não para.”

Todas as unidades, inclusive as próprias, recolhem 10% do faturamento para a sede, situada em São Caetano.


Enjoy auxilia jovens a ingressar no mercado de trabalho

O chamariz da Enjoy é oferecer o curso de inglês profissionalizante em dois anos, sendo os primeiros 12 meses de introdução ao idioma e, os seguintes, de início ao curso profissionalizante. São cinco modalidades: marketing e vendas, administração, recursos humanos e departamento pessoal, webdesign e marketing digital (mídias sociais). “Muitos deles não têm ideia do que é o idioma, então não focamos tanto em gramática num primeiro momento, mas em ouvir, entender, falar e escrever”, explica Oswaldo Segantin.

São duas horas de aula, sendo a primeira para ‘colocar’ o inglês no cérebro. A segunda é feita de conversação, em três tempos: atividades em duplas que tenham o mesmo nível de conhecimento; gramática e curso modular e, por último, dinâmica com música, teatro e livro. Tudo focando na disciplina escolhida.

A mensalidade é de R$ 247 se paga em dia, com desconto. Se atrasar, vai para R$ 297. Apesar da inadimplência na casa dos 15%, Segantin conta que compensa isso com a entrada de novas turmas todos os meses. “Nossos cursos são multilevel, ou seja, numa mesma sala temos alunos com diferentes níveis de aprendizado. Isso já é pensado para evitar junção de turmas e mudanças de dias e horários de aulas.”

Para convencer os pais de que o curso vai gerar frutos para o futuro profissional dos filhos é preciso mostrar diferencial. “Tem casos em que o pai está desempregado, vivendo de bicos, e mesmo assim mostramos que ele tem como tirar recursos para pagar o curso do filho, até porque, para fazer faculdade um dia, na condição dessas famílias, os filhos terão de trabalhar para pagar sua formação. Sendo assim, todos os alunos matriculados na Enjoy são encaminhados para o mercado de trabalho após seis meses de aulas. Temos parceria com o Instituto Gesto e o Programa Jovem Trabalhador”, conta Denis Sá. Sem contar que muitos dos que se destacam durante o aprendizado são contratados como professores da própria Enjoy.

A dupla realiza, ainda, trabalho filantrópico, parceria com o Instituto Gapi (Grupo de Atendimento Psicopedagógico Integrado), escola de educação especial em São Bernardo. Há nove anos, a ONG utiliza as dependências e os professores da escola situada no município por três vezes na semana para que alunos com deficiências física e mental aprendam o inglês profissionalizante.

PILOTO

Na unidade de Santo André, a Enjoy está realizando experiência de ensinar o idioma para adultos em três meses, sem a proposta de aprender uma atividade profissional concomitantemente. “Como o nosso público-alvo são crianças e jovens, à noite a escola fica fechada. Aproveitamos então para testar esse curso, com aulas diárias”, explica Sá. 




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