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Amor bandido
Eliane de Souza
Do Diário do Grande ABC
18/10/2009 | 08:15
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O primeiro capítulo da novela global Viver a Vida acompanhou a perseguição policial a Sandrinha (Aparecida Petrowky) e Benê (Marcelo Mello). A cena foi só uma pequena parcela de todos os traumas que esse amor bandido vai trazer à irmã da protagonista Helena (Taís Araújo). Sandrinha teve um filho com o namorado criminoso, que só não pediu o aborto da criança por acreditar que a gravidez serviria de atenuante para que ele aguardasse por julgamento em liberdade. O relacionamento conturbado foi seguido por ameaças à família da namorada: chegou até a fazê-la de refém com uma faca no pesçoco para fugir da polícia.

Para a infelicidade de muitas, as histórias se repetem constantemente na vida real. O autor Manoel Carlos conta que o drama de Sandrinha se assemelha ao de muitas meninas de classe média, que acabam se envolvendo com pessoas erradas. "Ela teve a mesma educação de Helena, as mesmas oportunidades, a mesma criação, mas escolheu caminhos completamente opostos. Essa é uma realidade presente em muitas famílias brasileiras atualmente."

Mas o que leva uma mulher a viver esse tipo de relação? Para o psicólogo especialista em relacionamentos amorosos, Thiago de Almeida, a procura pelo príncipe encantado ainda norteia a busca pelo companheiro em pleno século 21.

A idealização do homem perfeito pode ser um companheiro manipulador, um criminoso ou até o marido da melhor amiga. "As pessoas não procuram relacionamentos destrutivos, mas a paixão é capaz de minimizar temporariamente a capacidade crítica do raciocínio." A permanência em um relacionamento destrutivo pode ser diagnóstico de paixão patológica. Mulheres com perfil de baixa autoestima, dependência emocional do parceiro, ansiedade e depressão são as mais vulneráveis a relacionamentos perigosos. Pacientes dessa síndrome não dão ouvidos a amigos, familiares e qualquer outra pessoa que tente alertá-la sobre o caráter do parceiro.

A personagem Sandrinha acredita no amor e na possibilidade de que Benê se torne uma pessoa boa, assim como acontece do lado de cá da telinha. Manoel Carlos faz segredo sobre os desdobramentos da história da personagem. Ainda é cedo para dizer se ela sofrerá ainda mais ou se dará a volta por cima.

Para mulheres do mundo real, Thiago Almeida recomenda terapia e tratamento com medicamentos para controle da ansiedade. O Hospital das Clínicas, na Capital, presta atendimento gratuito a pacientes com síndrome de paixão patológica.

Paixão patológica tem cura

A stripper Sandra se envolve com Toninho, um assassino que mata somente motoristas de táxi. O delegado Galvão, pai de Sandra, tem a missão de capturar o assassino e se reaproximar da filha. Este é o pano de fundo do filme brasileiro Amor Bandido, de 1978. Passados 30 anos da película, os desencontros entre amor e criminalidade só ganharam novos contornos.

Simony, cantora mirim dos anos 1980, teve paixão instantânea pelo rapper Afro-X, condenado por assalto a banco. Ela o visitava na detenção toda semana, tiveram dois filhos e selaram o amor atrás das grades com casamento que durou três anos. O motoboy Francisco de Assis Pereira, conhecido nas manchetes policiais como Maníaco do Parque, recebia na penitenciária várias cartas de mulheres apaixonadas. Ele se casou com uma das correspondentes em 2002.

Esses e outros tantos casos são considerados diagnósticos de paixão patológica. A bancária Denise*, 51 anos, do Grupo Mada (Mulheres que Amam Demais Anônimas) explica que o amor bandido não é apenas quando o parceiro tem pé na criminalidade, mas todo tipo de relação em que existe intenção de prejudicar.

O tratamento do Mada é norteado pelos tópicos do livro Mulheres que Correm com Lobos, da psiquiatra Clarissa Estés. Elas procuram a cura dividindo suas histórias em reuniões que lembram as do AA.

A publicitária Glaucia*, 23 anos, participa do grupo. O namorado usava a relação para dizer que estava tentando se recuperar e, assim, atenuar o processo que sofria contra tráfico de drogas. "Eu o conheci quando ele queria se livrar da dependência química. Agora quem está em recuperação sou eu, quero me livrar desse amor que só me faz sofrer."

Para quem não reconhece o amor bandido como drama, resta fazer piada da situação. O blog Homem é Tudo Palhaço (tudopalhaço.blogspot.com) funciona como divã virtual. É lá que a advogada Paula*, 41 anos, dividiu as impressões do namoro relâmpago com rapaz que conheceu pela internet. Eles trocaram mensagens por três meses e decidiram morar juntos. Como ele não conseguia emprego na nova cidade, convenceu-a a pedir um empréstimo de R$ 2.000. "O namoro durou 28 dias, mas o empréstimo eu pago há quase um ano", conta rindo da sorte.

* os nomes foram trocados a pedido das entrevistadas




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