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Tradição é marca do Nova Petrópolis
Fábio Munhoz
Do Diário do Grande ABC
13/02/2012 | 07:00
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Marina Brandão/DGABC


Não são apenas as ruas com nomes referentes ao período do Império no Brasil que dão ao Nova Petrópolis a característica de bairro tradicional. Localizado em São Bernardo, é arborizado e conserva muitos imóveis antigos. Quem mora por lá há mais tempo relata que a expansão vertical e o aumento no número de áreas comerciais fizeram com que mais gente circulasse pelas ruas, mas, ainda assim, sem perder a tradição de décadas passadas.

"Moro aqui desde que nasci e, se puder, vou continuar até morrer", garante Pedro Camargo Júnior, 48 anos. Para ele, o padrão dos que residem no Nova Petrópolis aumentou desde sua infância. Júnior também elogia a infraestrutura do bairro, que, além do comércio variado, possui diversas opções de lazer, como os campos de futebol na Avenida Imperatriz Leopoldina e o recém-inaugurado Parque Chácara Silvestre, na Avenida Wallace Simonsen.

Pelas ruas, há disponibilidade de serviços que não são encontrados com tanta facilidade em bairros mais novos, como tapeçarias, sapatarias e açougues. Tais características mantêm os habitantes mais antigos. A conservação da memória está presente também nos patrimônios tombados, que somam três dentro dos quase dois quilômetros quadrados de área. Além da Chácara Silvestre, a região também conta com a Igreja Presbiteriana Independente, na Rua Doutor Fláquer, e a antiga chaminé da Avenida Pery Ronchetti.

Apesar dos aspectos positivos, também existem as reclamações. A professora aposentada Mirtes de Campos França, 82, elogia o lugar onde mora há 48 anos, mas demonstra preocupação com a verticalização. Na opinião dela, a Prefeitura deveria limitar a construção de prédios. "Ergueram um aqui atrás da minha casa e acabaram com o sol que batia no meu quintal", lamenta.

Outra reclamação frequente diz respeito aos congestionamentos. "O trânsito é ruim, além de ser difícil chegar ao bairro nos horários de pico". critica o tapeceiro Marco Almeida do Nascimento, 49. Também gera insatisfação entre os moradores a falta de opções de transporte público. Apenas um itinerário municipal atende o Nova Petrópolis. A linha 56 faz trajeto circular entre o bairro, o Jardim Palermo, e o Paço Municipal.

Ruas se transformam em reduto boêmio

A calmaria nas ruas do Nova Petrópolis dá lugar ao agito da vida noturna, principalmente às quintas, sextas e sábados. Nos últimos anos, grande quantidade de bares chegou ao bairro, principalmente nas avenidas Prestes Maia, Paulo Afonso e Imperatriz Leopoldina. Apesar da migração da boemia, alguns estabelecimentos se destacam pela tradição, como o Bar do Freguês, fundado em 1947, o Bar São Judas Tadeu, de 1981 e o Bar do André, que existe há cerca de 50 anos.

Mesmo com o fortalecimento da vida noturna, moradores dizem que o sossego não acabou. "É uma relação harmoniosa. Os bares e os frequentadores respeitam os moradores. Tem alguns que ficam até de madrugada, mas sem atormentar a vizinhança", comenta a jornalista Sandra Villanova, 53 anos.

"Aqui está virando a Vila Madalena do ABC. Muitas pessoas estão trocando a Avenida Kennedy pelas opções do Nova Petrópolis", avalia o aposentado Ernesto Francisco Soares, 58, que reside no bairro desde que nasceu.
Proprietário de um bar há 30 anos, o comerciante Orlando Pinheiro, 63, não teme perder espaço com o aumento da concorrência. "Pelo contrário, minha clientela cresceu depois que começou a aumentar o número de estabelecimentos. Tem espaço e público para todo mundo. Cada um frequenta o local que achar mais adequado ao seu perfil", complementa.

O bairro das famílias Miranda, Pujol e Simonsen...

O nome homenageia a cidade histórica de Petrópolis, no Rio de Janeiro. As ruas homenageiam vultos imperiais brasileiros. A área fazia parte do sítio de Benedito Cesário do Nascimento, apelidado Miranda, que o adquiriu entre 1904 e 1905 de Antonio Piuta. Coube à Empresa Imobiliária São Bernardo (família Pujol) iniciar o loteamento na década de 1920. Em 1930, posta em leilão, foi arrematada pela família Simonsen. Duas referências: a Chácara Silvestre e o reservatório d'água que lembra um pistão de automóvel.

Nova Petrópolis fez parte de projeto voltado às três cidades que formariam o ABC que antecipou o Grande ABC. 
Quando os irmãos Pujol, paulistanos, o lotearam, assim também o fizeram com os bairros Jardim e Campestre, de Santo André, e Santa Maria e Saúde, de São Caetano.

Foram mais longe e criaram a Avenida Industrial, para receber fábricas ao longo da estrada de ferro, em Santo André. Um bondinho interligou todos os loteamentos, para facilitar o acesso dos interessados na compra de terrenos. O trajeto inclui como pontos básicos as estações férreas de São Caetano, Santo André e o Pasto do Governo, hoje Praça Lauro Gomes, em São Bernardo, com ramal adentrando o Nova Petrópolis.

Foram muitas obras de aterro, por exemplo. Mas os Pujol sucumbiram à crise do café e suas áreas foram adquiridas por outra família, a Simonsen, ligada à Cerâmica São Caetano e ao Banco Noroeste. Com os

Simonsen à frente dos negócios, as primeiras medidas tomadas foram a de extinguir o sistema de transportes representado pelo bondinho e suspender a venda de lotes em Nova Petrópolis, que seria reiniciada décadas depois, após a construção da Via Anchieta - não era viável manter o loteamento naqueles anos duros das décadas de 30 e 40. Com a Via Anchieta, um novo momento. O reinício da venda de lotes em Nova Petrópolis acompanhou o processo de urbanização de São Bernardo, com ótimas construções levantadas e boas instalações industriais dos anos 1950 em diante. Os Simonsen continuaram a frequentar a Chácara Silvestre, sua casa de campo, até ela ser desapropriada pela Prefeitura.

Prevaleceu a vocação residencial de Nova Petrópolis. As fábricas - Perkins e Koppers, por exemplo - cederam espaço a órgãos governamentais e a conjuntos habitacionais. A Chácara Silvestre manteve o seu espaço verde, graças à ação da comunidade. E os loteamentos ao redor, populares, se constituem em artérias quase satélites não apenas de Nova Petrópolis como da Nova Baeta Neves. (Ademir Medici)




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