Presidente do SindusCon-SP diz que segmento
é afetado pela crise política e falta de confiança
O setor de construção civil demitiu 2.911 trabalhadores no Grande ABC entre janeiro de 2015 e o primeiro mês deste ano. Nesse período, o estoque de mão de obra no segmento caiu de 46,8 mil para 43,9 mil, o que representa redução de 6,21%. As informações são do SindusCon-SP (Sindicato da Indústria da Construção Civil do Estado de São Paulo).
Na comparação de janeiro com dezembro, foram abertos 830 postos de trabalho nas sete cidades. O resultado foi puxado por São Caetano, que contratou 729 pessoas no mês. Apesar do saldo positivo no início do ano, a tendência é a de que haja mais desemprego no decorrer de 2016. A opinião é de Sergio Ferreira dos Santos, responsável pela diretoria do SindusCon-SP de Santo André, que abrange todo o Grande ABC. “Dezembro é um mês atípico por conta das férias, então, há mais cortes. Portanto, o que houve em janeiro foi apenas um ajuste de mão de obra.”
Santos acrescenta que o Grande ABC é proporcionalmente mais afetado pela crise do que o restante do País porque tem grande dependência do setor industrial, que é um dos mais prejudicados pela retração na economia. “Tem algumas regionais do Interior, onde existem outras atividades fortes, como agricultura, por exemplo, que estão com situação pouco melhor do que a nossa.”
Para o presidente do SindusCon-SP, José Romeu Ferraz Neto, o momento do segmento é o pior, inclusive, do que no início na década de 1990, durante o governo do ex-presidente Fernando Collor de Mello. “Naquela época, o setor estava paralisado, mas o nível de emprego subia por conta das obras públicas. Agora, nem isso tem, pois o governo não possui dinheiro para contratar.”
O diretor da regional Santo André reforça que, na região, as obras públicas estão praticamente paradas, principalmente as que dependem de recursos federais, como as do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) e do Minha Casa, Minha Vida.
Ferraz Neto avalia que a crise política é o principal fator responsável pela retração na construção civil, pois provoca queda no nível de confiança. “Na hora que a pessoa pensa em comprar um imóvel, ela fica em dúvida se vai manter o emprego e se terá renda suficiente para contrair um financiamento de 30 anos. Então, acaba não fechando negócio. O mesmo ocorre com os imóveis comerciais.”
Sobre o anúncio feito nesta semana de que a Caixa Econômica Federal irá aumentar a quota financiável dos imóveis residenciais, Ferraz Neto avalia que a medida é uma “sinalização positiva” para o setor, mas que, sozinha, não tem força para reaquecer o mercado.
Outro problema citado são as elevadas taxas de juros no País. A Selic, por exemplo, está em 14,25% ao ano. Esse indicador, somado à inflação alta (o IPCA fechou fevereiro em 10,36% no acumulado de 12 meses), desestimula as empresas da área de infraestrutura a participarem de concessões ou de PPPs (Parcerias Público-Privadas), diz o presidente.
Em todo o Brasil, cerca de 500 mil postos de trabalho foram fechados na construção no ano passado. A previsão é a de que mais 200 mil cortes sejam realizados em 2016. O estoque atual no País é de aproximadamente 2,8 milhões de pessoas. Em 2005, época que estourou a crise do Mensalão, o total de trabalhadores no setor era de cerca de 1,8 milhão de operários.
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