O peso dos acordes de guitarra se transformam em harmonias caipiras, assim como os arranjos do contrabaixo, que ganham novas roupagens nas violas da dupla Moda de Rock, formada por Ricardo Vignini e Zé Helder, também integrantes do grupo Matuto Moderno. Eles são roqueiros e violeiros caminhando no mesmo universo. Sepultura e Black Sabbath para qualquer fã de moda de viola degustar à vontade e viola para qualquer roqueiro escutar com atenção.

Projeto que nasceu de uma brincadeira, rendeu um disco de estreia, DVD ao vivo e mais de 300 shows, com participação, inclusive, de nomes como Andreas Kisser (Sepultura) e Pepeu Gomes, o Moda segue a receita do primeiro disco, lançado há cinco anos, e apresenta agora novo trabalho: Moda de Rock II (Tratore, R$ 26, em média). Para sua produção e circulação, o projeto contou com o ProAC (Programa de Ação Cultural), do governo do Estado de São Paulo. Na turnê que divulga o disco, o Grande ABC não fica de fora. A dupla toca amanhã em São Bernardo, no Teatro Elis Regina, às 21h. As entradas custam R$ 10 e R$ 20.

No leque cultural do álbum, que chega às lojas ilustrado por 12 releituras instrumentais, a dupla Moda de Rock promove mergulho no universo do rock e vertentes como heavy, thrash metal e rock progressivo. A escolha do repertório, segundo Vignini, é feita de acordo com canções que marcaram a vida dele e de Zé Helder: “Depois analisamos se conseguimos imprimir a nossa personalidade”, conta ele. Ambos nasceram nos anos 1970 e tiveram os grupos ‘medalhões’ do rock como influência em sua arte.

Entre as faixas escolhidas pelos artistas estão temas como Refuse/Resist, do quarteto brasileiro Sepultura. Outra música que ganha nova cara com as violas é I Want To Break Free, clássico do grupo britânico Queen e imortalizada na voz de Freddie Mercury. Até o australiano AC/DC é relido em Thudestruck que, com Zé Helder e Vignini, tem até as partes da voz transportadas para as violas. Iron Maiden, Ramones e The Rolling Stones não ficam de fora da empreitada.

Gravado no período de uma gestação, nove meses, Moda de Rock II tem diversos tipos de viola, segundo Vignini. Entre elas rozini concertista, saraiva, tricone resonator de 12 cordas e a cabacítara, viola de cabaça que soa parecida a uma cítara. Além disso, o álbum conta com um outro instrumento, o acordeon, que ficou a cargo do convidado especial Adriano Magoo, na faixa Laguna Sunrise, lançada originalmente pelo Black Sabbath no disco Vol 4, em 1972.
Vignini explica que fazer essas transposições das guitarras pesadas, contrabaixo, bateria e voz para duas violas caipiras é algo que dá bastante trabalho. “Tem peças como Diary of Madman que nem o Ozzy (Osbourne) tocava ao vivo devido à sua complexidade, mas tem músicas com dissonâncias que ficam mais evidentes com as violas como Raining Blood, do Slayer”, explica ele.

Aliás, vale ressaltar que ver uma faixa extremamente agressiva do thrash metal como a do Slayer, transformada em outro tipo de poesia, é algo atípico. “O objetivo é mostrar o quanto essas músicas podem soar em qualquer circunstância. Quando começamos a fazer um arranjo dá para perceber o porquê de essas bandas terem tanto sucesso”, diz o músico.

Mas nem tudo fica legal na viola. Vignini conta que bossa nova, por exemplo, não dá tão certo. “E não é qualquer rock que rola bem também”, afirma. Além de releituras de faixas de peso, eles já andam testando outros caminhos com as violas. “No show brincamos com Mozart e Bethoveen”, revela.

Moda de Rock – Show – No Teatro Elis Regina – Avenida João Firmino, 900. São Bernardo. Tel.: 4351-3479. Amanhã, a partir das 21h. Ingr.: R$ 10 e R$ 20 (nas bilheterias do local).