A Ford deve adiar a decisão - que seria tomada em dezembro - de produzir um novo veículo compacto popular na fábrica de São Bernardo. O presidente da Ford América do Sul e vice-presidente corporativo da Ford Motor Company, Antonio Maciel Neto, afirmou nesta quarta, na coletiva à imprensa que antecede o Salão Internacional do Automóvel (que começa nesta quinta e termina no dia 31 no Pavilhão de Exposições do Anhembi), que não há mais um prazo definido devido à dificuldade de se fechar uma equação de custos favorável à fabricação de um carro de entrada rentável.

"Estamos em fase adiantada de estudos, mas os custos em dólar estão mudando muito", disse Maciel Neto. Na última semana, a companhia anunciou aumento de 2% nos preços de toda a linha de carros da marca em função da pressão dos custos de insumos, como aço e plástico. De acordo com cálculos da Anfavea (Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores), entre janeiro de 2002 e setembro deste ano, aço e ferro foram reajustados em 123%; o plástico, em 69%, enquanto os veículos tiveram alta de 48%.

O executivo acrescentou que qualquer oscilação no segmento de entrada (os carros populares) causa problemas e, embora a indústria esteja crescendo, "na base, as margens são muito baixas". Ainda segundo o executivo, a vice-presidente do grupo Ford para América do Sul, México e Caribe, Anne Stevens (sua superiora hierárquica), volta ao Brasil em dezembro para novas reuniões em que o tema voltará a ser tratado. Anne Stevens, que também estava nesta quarta no evento do Anhembi, afirmou que outras questões também interferem na decisão, como a alta carga tributária sobre o setor, "cinco vezes superior à dos EUA", e o elevado custo do financiamento.

A fábrica do Taboão criou um comitê paritário, com representantes dos trabalhadores, para discutir os custos para viabilizar o projeto. Para o sindicalista Teonílio Monteiro da Costa, o Barba, que integra o comitê paritário, a definição deve mesmo ser postergada. "Mas o Sindicato (dos Metalúrgicos do ABC) vai fazer todos os esforços para que o projeto saia", disse Barba.

Um novo produto é considerado pelo sindicato algo importante para o futuro da unidade da região e para a manutenção dos empregos. Para a empresa, seria uma forma de endurecer a concorrência no segmento dos populares na competição com o Gol 1.0 e o GM Celta, já que o Ka tem desempenho fraco. O modelo possui apenas 1,89% de fatia das vendas de automóveis.

De acordo com o sindicalista, o que mais atrapalha é o fato de a empresa querer discutir a terceirização de diversas áreas da fábrica. "A posição do sindicato é que vai discutir (a terceirização) se houver a preservação do número de funcionários da Ford (4 mil empregos diretos)", afirmou. Ainda segundo ele, o processo do MPE (Ministério Público Estadual), que poderia interromper a atividade noturna da estamparia da unidade do Taboão, também pode ser uma pedra no caminho de viabilizar o projeto do novo popular.

A ação, para a qual a Ford obteve efeito suspensivo em relação à interrupção da operação da estamparia, foi movida pelo MPE em favor dos moradores de dois condomínios residenciais construídos ao lado da fábrica. O processo é contra a empresa, a prefeitura - que autorizou a construção dos condomínios no local - e os empreendedores, que fizeram os condomínios em área que é zona predominantemente industrial.

Camaçari - A vice-presidente do grupo Ford disse também que a fábrica de Camaçari (BA) está com sua capacidade tomada para 2005. A empresa lançou no Salão as versões bicombustíveis do Novo Fiesta Sedã e do Novo Fiesta Hatch, que serão fabricados na Bahia. Mas a executiva acrescentou que a planta foi desenhada para permitir ajustes às demandas de mercado.

Os lançamentos vêm em um bom momento para a montadora no país. As operações automotivas da Ford Motor na América do Sul registraram lucro de US$ 59 milhões no terceiro trimestre de 2004, uma melhora de US$ 85 milhões em comparação ao mesmo período de 2003. O resultado reflete aumento de volume de vendas e preços, segundo a empresa.