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Arte na Sala de Estar
Por Thiago Mariano
Do Diário do Grande ABC
13/11/2010 | 07:20
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Divulgação


"Num apartamento perdido na cidade/alguém está tentando acreditar/que as coisas vão melhorar ultimamente", diz a música. Literalmente, no sétimo andar de um prédio na Capital, a cena transcorre igual à letra da canção de Rita Lee e Luiz Sérgio.
Lá, o recém-formado grupo Kunyn exibe seu primeiro trabalho, Dizer e Não Pedir Segredo, na sala do apartamento de alguns de seus integrantes, para um grupo de no máximo 20 pessoas. O espetáculo fica em cartaz até dia 4 com entrada franca. Pós-temporada, pode ser exibido na sala da casa de quem desejar vê-lo. Basta reunir 20 pessoas e desembolsar R$ 300 (R$ 15 cada um).
A montagem parte de uma investigação sobre a identidade homossexual no Brasil. Traçando um perfil histórico, com base no livro A Homossexualidade no Brasil - da Colônia à Atualidade, de João Silvério Trevisan, o grupo mesclou histórias, informações e opiniões para compor o espetáculo, que tem autoria de Ivan Kraut - morto no ano passado, Luiz Gustavo Jahjah, Luiz Fernando Marques, Paulo Arcuri e Ronaldo Serruya.
Personagens expõem-se aos pés do público. De trechos da carta de Pero Vaz de Caminha, a narrativa passa para o relato do escritor Caio Fernando Abreu, revelando que estava com Aids. Muitos outros personagens compõem um mosaico e completam um passeio pelos sentimentos. Da luta pela autoaceitação ao enfrentamento do preconceito, do deleite da descoberta às imposições que são feitas pela sociedade, tudo se cruza em ordem não cronológica no enredo.
"Queríamos nos perguntar o que acontece quando saímos da proteção da Frei Caneca (reduto gay em São Paulo). Muita gente acha que São Paulo é um local mais liberal, mas não é assim, até aqui é difícil lidar com o tema", conta Luiz Fernando Marques, o Lube, diretor do espetáculo, e também Mestre da ELT (Escola Livre de Teatro) de Santo André.
"Se nenhuma esfera pública assume esta questão, é natural que a gente o faça em um ambiente privado", completa.
AFETO
Estar na sala vendo o circo pegar fogo torna o espetáculo não apenas um evento. Assistí-lo é como se colocar no papel dos personagens, sentir-se a caça ou os caçadores da discriminação que afeta não só os homossexuais, mas toda a sociedade. Ficar omisso neste terreno onde fecundam diversas indagações, identificação e compaixão, é impossível.
"O apartamento não é um espaço cênico, mas provocação. A proximidade gera outra percepção e nesse sentido a questão do afeto é muito forte. A peça pode ser utilizada para afetar alguém. Daí a ideia de apresentarmos em outros locais. Quem for chamar, assume o espetáculo, faz dele um detonador de discussão entre as pessoas que convidar para ver", acrescenta o diretor.
Dizer e Não Pedir Segredo - Teatro. Na Rua Bela Cintra, 619, apto. 72. Reservas pelo tel.: 8564-4248. 6ª e sáb., às 21h. Grátis. Até dia 4.




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