Os quatro controladores de vôo que trabalhavam no dia 29 de setembro do ano passado, quando um Boeing da companhia aérea Gol se chocou com um jato Legacy, matando 154 pessoas, no maior acidente aéreo da história da aviação civil brasileira, prestaram depoimento nesta segunda-feira da CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) do Apagão Aéreo no Senado Federal.
De acordo com os profissionais, houve falha nos equipamentos e esta foi a principal causa do acidente. Foram ouvidos os controladores Jomarcelo Fernandes dos Santos, Lucivando Tibúrcio de Alencar, Leandro José dos Santos Barros e Francisco Roberto Agostinho Freire.
Tensão - No momento mais tenso na sessão desta segunda-feira, o relator da CPI, Demóstenes Torres (DEM-GO), declarou que houve uma seqüência de falhas humanas. “O Jomarcelo teve culpa maior que os demais, porque tinha como rebaixar o Legacy de 37 mil para 36 mil pés”.
Segundo o senador, o inquérito da PF (Polícia Federal) sobre o caso ao qual a CPI teve acesso mostra gravação em que o controlador recebe dos pilotos do Legacy a informação de que, em Brasília, o avião estava a 37 mil pés, e não a 36 mil, como deveria para evitar a colisão com o avião da Gol.
Para Demóstenes Torres, não foi possível que os outros controladores alertassem Jomarcelo sobre o erro porque o sistema, com falha, mostrava nas telas que o avião estava a 36 mil pés. Como, minutos depois, o transponder (equipamento que previne colisões) do Legacy se desligou, os demais controladores não perceberam, naquele momento, nenhum problema.
Para o relator da CPI, a falha dos outros controladores foi não terem avisado à torre de Manaus que o Legacy voava com o transponder desligado. “ Não tenho dúvida de que Jomarcelo teve a falha mais grave, porque não determinou esse rebaixamento e quando transferiu o serviço, não comunicou aos demais controladores que o avião estava a 37 mil pés”.
No depoimento de Jomarcelo, o relator questionou o tempo de experiência do controlador, que respondeu realizar o serviço há um ano na época do acidente. Na opinião de Demóstenes, a experiência, nesse caso, é determinante.
Resposta - O advogado dos controladores, Normando Cavalcanti, ficou indignado com esta afirmação, já que o caso ainda não foi julgado. “Não concordo com a opinião do relator de culpar o controlador categoricamente. Não há provas de que o Jomarcelo foi o culpado. Temos provas, pelo contrário, de que ele adotou todas as normas da Aeronáutica”, disse.
Cavalcanti também se queixou do tratamento dado aos controladores durante o depoimento. “Ele (o relator) não deixou os controladores terminarem as respostas. Era uma pergunta atrás da outra. Quem vai julgar realmente é o poder Judiciário. Não vai ser o Senado nem a Câmara.”
O inquérito da PF que apura o caso foi concluído no início deste mês com o indiciamento dos dois pilotos norte-americanos do Legacy (Joe Lepore e Jan Paladino) e a recomendação de que houvesse mais apuração por parte da Aeronáutica quanto à eventual responsabilidade dos controladores.
Depois de ouvir os controladores, a Comissão investigativa de início a uma sessão secreta para ouvir os controladores-supervisores Alexandre Barroca e Antonio Francisco Castro. Quem também foi ouvido nesta segunda foi o coronel-aviador Eduardo dos Santos Raulino.
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