Sorvete, massa instantânea, suco pronto, bebidas de soja e iogurte. Esses e muitos outros itens considerados supérfluos já fazem parte da cesta básica da maioria dos brasileiros. Segundo levantamento da Kantar Worldpanel, o consumo desses produtos aumentou neste ano, principalmente nas classes C, D e E. Nas camadas mais baixas da população o desembolso para comprar esses itens foi ampliado em 23%, na classe C 19% e os estratos AB tiveram alta de 17%.
No Grande ABC, a elevação acontece, segundo a diretora de pesquisas da Uscs (Universidade Municipal de São Caetano), Maria do Carmo Romeiro, porque os moradores da região têm usado menos do orçamento para suprir despesas básicas, deixando assim mais espaço no bolso para bancar pequenos luxos. "Em 2005, em média, era gasto 72,8% da renda das famílias com despesas básicas - alimentação, transporte, Educação, Saúde, vestuário, lazer e cultura. Em 2010, esse percentual já equivale a 66,9%. As pessoas têm mais acesso aos outros produtos e sobra para que comprem bens mais sofisticados", avalia.
A pesquisa da Kantar não contempla a região, especificamente, mas visita semanalmente 8.200 domicílios em todo o País para avaliar o comportamento de compras de 65 produtos, dos quais 23 básicos e 42 não básicos. Para a diretora comercial da Kantar Worldpanel, Christiane Pereira, o movimento de sofisticação do consumo é generalizado, mas ainda acontece poucas vezes por semestre. "O desafio agora é a manutenção da peridiocidade dessas compras. Esse aspiracional existe, mas precisamos estimulá-lo", afirma.
Christiane explica ainda que a mudança de postura na compra dos produtos mudou no último ano. Hoje, o consumidor escolhe o item consciente de seu benefício e alerta ao custo a mais que isso acarretará no valor final da compra. "Ele coloca no carrinho, se couber no bolso."
O diretor de economia da Apas (Associação Paulista de supermercados), Martinho Paiva Correa, diz que 2010 foi um dos melhores anos para o varejo na venda dos supérfluos. "Em 2009, os consumidores compraram com mais cautela, de olho na crise econômica e na possibilidade de recessão. Esse ano observamos maior ingresso de consumidores e também a ampliação dos gastos em alguns produtos que já estavam no carrinho."
A economista e professora da Escola de Negócios das Uscs, Marlene Cardia Laviola, explica que o aumento no consumo acontece por conta do bom momento econômico do País e da confiança na manutenção do emprego e da renda. "Na medida em que entra mais dinheiro, que se tem mais segurança com o emprego, também se incorpora produtos que não entravam na cesta e isso deve seguir forte." (com Agências)
Itens de higiene e beleza são destaque no crescimento
Além dos itens de alimentação e bebidas, os produtos de higiene pessoal e beleza são os que mais se destacam no aumento de consumo no País. O IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) divulgou dados que apontam elevação de 2,6% nas vendas deste mercado, que registrou recorde entre os meses de agosto, desde quando a pesquisa foi iniciada, em 2001.
Desodorantes, cremes corporais, sabonetes, cremes pós-xampu são alguns dos produtos que tiveram maior procura no período, segundo a diretora comercial da Kantar Worldpanel, Christine Pereira. "Entre as dez categorias que mais cresceram, seis delas são da parte de higiene pessoal", conta.
O diretor de Economia da Apas, Martinho Paiva Correa aponta, por exemplo, que hoje o consumidor gasta até R$ 19 em um xampu, enquanto no começo do década os gastos não passavam de R$ 5. "Isso ajuda também o setor e conta na mudança de postura do consumidor. Porque ele já comprava, mais agora investe mais para se cuidar", aponta.
ESPAÇO PARA CRESCER
Esmaltes, hidratantes e tinta para cabelo também passam por bom momento no consumo nacional. A procura por esmaltes é tanta, por exemplo, que o segmento nacional precisa importar embalagens para evitar falta do produto nas prateleiras.
O pólo de cosméticos do Grande ABC aproveita o bom momento e aposta no crescimento da demanda em 16% neste ano e meta ainda maior para 2011, amparado, principalmente, nos produtos básicos que se tornaram mais sofisticados e refinados, como xampus e loções corporais.
Classes mais baixas apostam na Educação para melhoria
Mais Educação, cursos e viagens. Esses são os principais sonhos da nova classe média e também dos estratos mais baixos da sociedade. Para eles, garantir aos filhos ensino de qualidade é fundamental para melhorar ainda mais a vida deles. Para as classes mais abastadas, a procura por viagens ocupa o destaque na tabela.
Além disso, gastos com tecnologia e eletrodomésticos e alimentos e bebidas aparecem com força tanto na classe C quanto na DE, o que segundo a diretora comercial da Kantar Worldpanel, Christine Pereira, mostra que ainda há necessidades primárias no abastecimento desses estratos. "Os itens consolidados que aparecem em 70% das casas brasileiras são TV a cores, fogão, geladeira e celular. Mesmo máquina de lavar não é produto consolidado em todos os níveis econômicos. Assim como muitos alimentos e bebidas não estão na classe DE", avalia.
A diretora de pesquisa da Uscs (Universidade Municipal de São Caetano), Maria do Carmo Romeiro, vê com surpresa o destaque da procura por Educação na pesquisa. "É interessante a Educação aparecer como questão importante, na frente de alimentação e bebidas. Creio que isso é compatível com o cenário que se desenrola na região."
A professora aponta que em cinco anos, o índice de pessoas nas classes mais baixas diminuiu significativamente nas cidades pesquisada pela universidade - Santo André, São Bernardo e São Caetano. "Há cinco anos, tínhamos 10,5% da população das três cidades entre as classes D e E. Agora temos 2,9%."
A mudança acontece porque com o bom momento econômico, muitos moradores aumentaram o poder de consumo e subiram degrau na escala social, migrando para a chamada nova classe média, com renda média de R$ 1.900, e muitos produtos novos, como computadores e micro-ondas, em casa. "Isso aconteceu muito neste ano por conta da isenção do IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados), o que favoreceu que clientes adquirissem mais bens e migrassem favoravelmente no estrato de consumo", explica Maria do Carmo.
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