Economia Titulo Combústivel
Baixo consumo reduz preço do etanol

Nos postos da região o combustível está R$ 0,10 mais barato e custa em média R$ 1,7

Soraia Abreu Pedrozo
do Diário do Grande ABC
30/01/2012 | 07:07
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A redução da procura pelo etanol nos postos de combustível, por conta de seu alto custo - e de a gasolina estar mais vantajosa do que o álcool - fez com que o preço na bomba baixasse em torno de R$ 0,10 no Grande ABC. Hoje, já é possível encontrar o derivado da cana-de-açúcar por R$ 1,79.

Em alguns postos essa diminuição ainda não chegou porque, como a venda do combustível está ocorrendo em menor velocidade, ainda há estoque. Portanto, só no próximo pedido é que o novo preço será praticado.

O fato de o etanol estar mais barato, no entanto, não significa que vale encher o tanque com o combustível. Como os preços estão muito diversificados, é preciso pesquisar - há postos vendendo o derivado da cana até por R$ 2. Além disso, a gasolina, que normalmente tem seu custo mais padronizado, é encontrada desde R$ 2,47 até R$ 2,79.

"As vendas de etanol caíram muito. Hoje, cerca de 70% dos clientes abastecem com gasolina e 30%, com álcool. Antes, essa relação era invertida, já que a maioria optava pelo etanol", afirma Marcos Postigo, dono de um posto no Parque Novo Oratório, em Santo André.  O recomendado é que os motoristas façam as contas antes de abastecer. Basta multiplicar por 70% o valor da gasolina.

Por exemplo, no estabelecimento de Postigo, em que o etanol é vendido por R$ 1,79 e a gasolina por R$ 2,59, vale optar pelo álcool, que ao preço de até R$ 1,81 é vantajoso.

Em outro posto, no bairro andreense Vila Guiomar, o etanol custa R$ 1,77 e, a gasolina, R$ 2,47. Neste caso, o combustível fóssil é mais vantajoso, pois o álcool só seria interessante se custasse até R$ 1,72.

A gasolina é mais cara porque seu rendimento é até 30% maior do que o do etanol. Porém, é sempre importante considerar também o desempenho do veículo com cada combustível.

OFERTA E PROCURA - A redução do custo do etanol ocorre em um período de entressafra (que segue até o fim de março), o que é incomum. No entanto, como o consumo diminuiu, o preço nas usinas acabou caindo também.

O indicador do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada da Esalq/USP mostra que desde o dia 23 de dezembro o custo do álcool vem diminuindo. À época ele era vendido por R$ 1,23 o litro e, no dia 20, estava por R$ 1,16. O repasse demorou um pouco a ser feito, mas agora já começa a chegar na bomba.]

 

Litro do produto dificilmente voltará ao valor de R$ 1,29

 

Com as mudanças ocorridas no setor nos últimos anos, cada vez será mais difícil conseguir pagar R$ 1,29 no litro do etanol, como em maio de 2009. O consultor Paulo Costa explica que exatamente nessa época estava tendo início uma transição no setor sucroalcooleiro, antes dominado por usineiros e, a partir de então, dividindo o espaço com os petroleiros.

"Tivemos a consolidação desse mercado, que ganhou um olhar mais profissional, mais experiência e estrutura."

O cenário, somado ao fato de a produção de 2011 ter sido 10% menor do que o esperado, com 490 milhões de toneladas de cana, em vez de 540 milhões; a maior destinação da matéria-prima ao açúcar e ao álcool anidro e a demanda crescente de etanol hidratado fizeram com que os preços subissem.

"Para voltar àquele patamar, alguém tem de pagar por isso. É preciso mais tempo para que a produção volte a crescer", diz Sergio Prado, representante da Unica. O investimento em pesquisas que usam o bagaço da cana para fabricar o etanol  é a saída para reduzir o custo, de acordo com Prado.

Na avaliação de Costa, o momento ainda é complicado para se recuperar a safra. "O excesso de chuvas não é adequado para essa época, o que pode prejudicar a plantação. A tendência para este ano é uma repetição de 2011." A previsão oficial só será divulgada pela Unica em abril.

 

Alta da frota flex elevou procura por álcool

 

Os altos preços praticados durante todo o ano passado, fosse em meio à safra ou não, são reflexo de um conjunto de fatores. Um deles foi o crescimento expressivo da frota de carros flex, que desde 2010 vem se expandindo. Em 2011, de acordo com dados da Anfavea, dos 3,4 milhões de veículos fabricados, 83,1%, ou seja, 2,8 milhões, foram bicombustíveis. No ano anterior, dos 3,3 milhões, 86,4% (2,9 milhões) eram flex. E, no País, a maior parte das pessoas que adquirem esses automóveis inevitavelmente optam pelo etanol.

Outro ponto foi a seca de 2010, conforme explica o representante da Unica em Ribeirão Preto, Sergio Prado, que se refletiu na produção de 2011. "Houve também duas geadas. Esses contratempos climáticos geraram perda de 10%. Parte da cana floresceu e, ainda, faltou investimento na lavoura. Enquanto isso, a demanda foi crescendo."

Diante do cenário, conforme explica o consultor de agronegócios e bioenergia Paulo Costa, os produtores de cana privilegiaram a fabricação de açúcar, em vez de etanol. "Para eles é mais interessante porque eles conseguem se proteger mais. É possível travar contratos de longo prazo. Além disso, o preço do açúcar é listado em bolsa, o que dá mais rentabilidade", aponta. "A segunda prioridade das usinas foi produzir o etanol anidro (utilizado na mistura da gasolina), que dá um melhor retorno do que o hidratado CF51(o da bomba)."

 

Setor quer dobrar produção em 10 anos

 

O setor sucroalcooleiro pretende, em dez anos, dobrar a capacidade de produção. "Existe a necessidade de gerar oferta de etanol, porém, uma fábrica não fica pronta de um dia para outro", diz Sergio Prado, da Unica. No entanto, ele ressalta uma notícia que foi recebida com otimismo pelo segmento. "O BNDES disponibilizou R$ 4 bilhões em uma linha para a renovação e a ampliação da cana." De acordo com o consultor Paulo Costa, no ano passado não houve renovação dos canaviais - após cinco ou seis anos é necessário que eles sejam replantados. "Nesse período geralmente o produtor fica fora da safra, pois tem de esperar por um ano e meio até que a nova cana comece a brotar. Porém, como o setor estava passando por dificuldades, não havia como investir. A cada ano, 20% dos canaviais deveriam ser renovados."

Prado explica que esse era um crédito que estava represado. E, de fato, após ter atingido o pico de 30 novas usinas entre 2008 e 2009, para os anos de 2011 e 2012 estavam previstas apenas seis. Atualmente existem 440 fábricas.




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