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'Cabocla': vitória da simplicidade
Por Renata Petrocelli
Da TV Press
13/11/2004 | 15:44
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A boa repercussão de Cabocla dá provas indiscutíveis de que é possível conquistar o público com uma história essencialmente simples, sem apelações ou reviravoltas mirabolantes. A trama de Benedito Ruy Barbosa, exibida pela primeira vez em 1979, chega ao fim na próxima sexta-feira com média de audiência sempre em torno dos 40 pontos no ibope. Adaptada pelas filhas do autor, Edmara e Edilene Barbosa, a história manteve o tom original e praticamente não sofreu alterações. Mas nem por isso soou ultrapassada ou deixou de mobilizar a atenção do público para histórias cujos desfechos já eram conhecidos. Uma lição até para a própria emissora, que tentou modernizar os remakes de Irmãos Coragem, Pecado Capital e Anjo Mau e não obteve resultados nem próximos ao de Cabocla.

Na pele dos coronéis Boanerges e Justino, Tony Ramos e Mauro Mendonça roubaram várias cenas e ajudaram a abrilhantar a disputa política que marca toda a trama. E Danton Mello, como Neco, deu ainda mais consistência ao aprendiz de coronel que acaba unindo os dois arquiinimigos no inevitável “...e foram felizes para sempre”.

Do mesmo modo que na versão original, o casal Neco e Belinha, que Danton formou ao lado de Regiane Alves, acabou despertando mais interesse que os protagonistas, Zuca e Luís Jerônimo, interpretados por Vanessa Giácomo e Daniel Oliveira. Na versão exibida em 1979, Zuca ainda ganhou corpo por ser a primeira protagonista de Glória Pires, que tinha se destacado um ano antes, em Dancin‘Days. Desta vez, Vanessa não fez feio no papel, mas dificilmente alguém diria que nasceu ali uma atriz do porte de Glória. A conseqüência é que Regiane e Danton puderam esbanjar seus talentos, já reconhecidos, e angariar a simpatia para o casal coadjuvante.

Mas o fato é que a própria estrutura da trama abre espaço para que Neco e Belinha brilhem mais que Zuca e Luís Jerônimo. Afinal, o romance respira política, assim como tudo em Vila da Mata. As contendas eleitorais dos dois coronelões da pequena cidade ocuparam muito mais espaço que a agonia do doutorzinho tuberculoso. Nada mais natural que o estilo Romeu e Julieta do romance dos filhos dos dois rendesse muito mais idas e vindas. E tudo isso ficou ainda melhor a partir do momento em que o próprio Neco começou a se empolgar com a política, provocando a ira de sua amada. Enquanto no insosso namoro de Zuca e Luís Jerônimo quase nada acontecia, Belinha chegou até a aceitar a possibilidade de se casar com o filho do Capitão Macário, interpretado por Oscar Magrini, só para fazer a vontade – totalmente política – do pai. Mas, no final da história, a persistência de Neco sai recompensada. Assim como Danton, que fica registrado como um dos grandes nomes da nova versão da novela.

Outra que deu show de interpretação em Cabocla foi Patrícia Pillar. A atriz soube aproveitar bem o clima familiar da história e criou uma Emerenciana memorável. Tanto que a personagem, tendo saído pouquíssimas vezes do universo da própria fazenda da família, foi um dos grandes destaques da trama. A atriz teve excelentes oportunidades, tanto nas cenas com Regiane, em que alternava a doçura e meiguice de mãe companheira com a rigidez de quem pretendia fazer valer as ordens do marido em casa, quanto nas vezes que contracenou com Tony, quando dobrava o coronel com aquele jeitinho de quem deixa pensar que é o outro quem manda na situação.

Com tantos grandes atores sabendo aproveitar seus bons personagens, Vanessa Giácomo e Daniel Oliveira acabaram ficando meio apagados na trama que deveriam protagonizar. Os dois até que trabalharam bem e convenceram ao dar vida ao romance dos personagens. Mas, de fato, pouca coisa interessante acontece a Zuca e Luís Jerônimo ao longo da trama. A tal ponto que tudo o que acontece em volta parece chamar muito mais a atenção do público. No fim das contas, no entanto, a produção da segunda versão de Cabocla fica como um dos grandes êxitos da Globo em 2004. E mesmo os dois atores, que dificilmente serão lembrados no futuro pelos papéis, certamente também não têm do que se arrepender com o trabalho.




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