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Um sonho impossível

Um sonho. Ou pesadelo. Num país imaginário, em que quadrilhas vorazes disputavam o poder, o Grande Mestre Fazedor de Rainhas decidiu enviar ao Frigorífico de Formol a Rainha dos Maus Bofes

Por Do Diário do Grande ABC
06/12/2015 | 07:00
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Um sonho. Ou pesadelo. Num país imaginário, em que quadrilhas vorazes disputavam o poder, o Grande Mestre Fazedor de Rainhas decidiu enviar ao Frigorífico de Formol a Rainha dos Maus Bofes, que ousara, com palavras incoerentas e gestão incompetenta, colocar em risco os projetos futuros do bando.

Um sábio, o Grande Mestre. Primeiro, declarou-se favorável à Rainha dos Maus Bofes, para que ninguém dele suspeitasse. Seu grupo, religiosamente obediente, duramente controlado, até com expulsão de quem votasse contra a linha justa, passou a mostrar sinais de divisão. A Guerra das Quadrilhas envolvia chantagens mútuas, que mantinham paralisados a Rainha dos Maus Bofes e seu principal adversário, o Coisa Ruim. Pois não é que o grupo do Grande Mestre anunciou que destruiria o Coisa Ruim? Com isso, livrou-o da chantagem – já que não lhe faria diferença ficar quieto ou reagir – e permitiu que ele contra-atacasse em grande estilo, mobilizando sua quadrilha para destruir a Rainha.

Nesse país imaginário, os seguidores do Grande Mestre jamais o desobedeceriam. Se desobedeceram, foi porque ele mandou. E até seu gavião amestrado, o Pequeno Rapinão, capaz de qualquer coisa, qualquer coisa mesmo, para agradar o chefe, agiu contra suas ordens oficiais. Só o faria se recebesse ordens secretas em contrário. E a Rainha dos Maus Bofes tinha certeza de que mandava!

O título Um Sonho Impossível vem do musical O Homem de la Mancha. Aqui, pela fama do pessoal, melhor seria Os Homens e Mulheres de Las Manchas.

Café frio
A ordem para os ativistas petistas da área de comunicação é dizer que o pedido de impeachment perdeu força, pela participação de Eduardo Cunha. Mas a impressão que vem do governo é outra: o ministro-chefe da Casa Civil, Jaques Wagner, normalmente habilidoso, tranquilo e discreto, está tão nervoso que entrou num agressivo bate-boca com o deputado Eduardo Cunha. Contra seus hábitos, revelou em seguida aos jornalistas trechos de conversas particulares com o vice-presidente Michel Temer. E, pior, foi desmentido por Temer. É grave: Temer pensa duas vezes antes de dizer “bom dia”, pensando nas implicações que a expressão possa ter. Para ele, desmentir alguém é quase inimaginável. Mas Wagner lhe atribuiu uma frase absurda sobre a “falta de lastro” para o pedido de impeachment – Temer, educadíssimo, jamais diria isso do trabalho de colegas como Hélio Bicudo, Janaína Paschoal e Miguel Reale Júnior. Temer teve também de desmentir Edinho Silva, que lhe atribuiu a disposição de oferecer assessoria jurídica a Dilma. Como disse, essa não é a função do vice-presidente da República.

A primeira vítima
Na frase eterna do senador norte-americano Hiram Johnson, em tempo de guerra a primeira vítima é a verdade. Mas o ministro Jaques Wagner está exagerando: inventou um abaixo-assinado em favor de Dilma incluindo o nome do governador pernambucano Paulo Câmara, do PSB. Que Paulo Câmara jamais assinou.

Caminho da roça
O processo de erosão do poder de Dilma começou há muito tempo – tanto que o PMDB, especialista em colocar-se nas proximidades de quem tem a caneta das nomeações, foi-se aos poucos afastando dela. Com o impeachment – e especialmente se houver manifestações nas ruas – a tendência é que até os fiéis entre os fiéis prefiram mudar de lado. Até Paulo Paim, que parecia ter PT no nome, está descobrindo insuspeitadas simpatias ecológicas e buscando abrigo com Marina Silva. O que se comenta é que, dos 171 deputados de que Dilma precisa para não ser afastada durante o julgamento do impeachment, ela tem no máximo 140. Se ela mostrar força, o número cresce. Mas até agora mostrou apenas inabilidade. E a cada uma das delações premiadas a margem de manobra de Dilma se reduz.

Onde estão os generais?
O chefe supremo do PT é Lula, que tem capacidade de manobra e liderança – restando saber se quer mesmo usá-las. Mas boa parte de seu Estado-Maior está fora de combate, a começar pelo “capitão do time”, José Dirceu, ex-presidente do PT, preso em Curitiba. Outro ex-presidente José Genoino, foi condenado, cumpriu pena e parece afastado da política. Dois tesoureiros do partido foram atingidos: Delúbio Soares e João Vaccari Neto. João Paulo Cunha, ex-presidente da Câmara Federal, está condenado no processo do Mensalão. Delcídio do Amaral, próximo de Lula, líder do governo no Senado, está preso pela Lava Jato. Delcídio é um risco: abandonado por PT e Lula, pode sentir-se tentado à vingança.

Só eles?
O presidente da CBF, Marco Polo del Nero, se licenciou do cargo após ter sido indiciado pela Justiça norte-americana. Seu antecessor, José Maria Marin, está preso nos Estados Unidos. O antecessor de Marin, Ricardo Teixeira, foi indiciado pela Justiça norte-americana. Segundo a secretária de Justiça dos Estados Unidos, “por décadas esses acusados usaram seu poder (...) para criar uma rede de corrupção e ganância (...)”. Não são só os brasileiros: há também dirigentes esportivos de outros países. A quantia envolvida em pagamentos ilegais supera os US$ 200 milhões.

A dúvida: só os dirigentes da CBF estavam envolvidos? E os clubes, nenhum? 




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