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Dê chance ao bíquini
Por Marcela Munhoz
Do Diário do Grande ABC
23/01/2011 | 07:08
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O sol está bombando, a piscina e o mar chamando, e os amigos se divertindo. Hora de tirar a canga e a camiseta, se refrescar e ainda pegar uma corzinha, certo? Nem sempre. Não é fácil ficar à vontade na frente dos outros quando a vergonha em mostrar o corpo é maior do que a vontade de curtir o verão.

De acordo com estudo realizado pela Universidade de Minas Gerais, 63% dos adolescentes entrevistados estão insatisfeitos com o corpo, sendo que 80% apresentaram índice de massa corporal normal para a idade e altura. Mesmo assim, para a galera que considera o verão a pior estação do ano, os motivos para ficar escondido de bermuda e camiseta debaixo do guarda-sol são muitos: se acham gordos, magros ou branco demais, têm estrias, celulites, cicatrizes ou manchas.

Mia*, 15 anos, de São Bernardo, se encaixa no perfil encanado. "Posso estar morrendo de calor ou com vontade, mas nunca entro na piscina", diz. A garota conta que tem vergonha dos seios grandes e das manchas na pele. Além de biquíni, ela também evita usar shorts e regata. Tudo piorou depois de Mia* ter menstruado pela primeira vez. "É por isso que eu amo o inverno."

Rafa*, 14, de Santo André, também não curte ficar sem camisa na frente dos amigos, principalmente das amigas. Ele se acha magro demais. "Não quero ficar ouvindo piadinhas. Não me sinto bem, então nunca deixo de usar camiseta." Para ele, é realmente complicado sentir-se confiante em um mundo no qual o padrão de beleza está tão difícil de ser atingido. "Não dá para concorrer."

Mais do que não aceitar-se, essa galera importa-se muito com a opinião dos outros, característica comum na adolescência. "É uma fase em que tudo muda e em que tudo é comparação", explica Patricia Spada, psicóloga especializada em obesidade da Unifesp.

Segundo ela, vale lembrar que todos estão juntos no mesmo barco e com as mesmas dificuldades. "Alguns são mais tímidos, outros menos, mas os conflitos e as encanações existem."

 

É preciso desencanar para ser feliz

Não tem jeito. Se você quiser passar o verão da melhor forma possível é necessário trabalhar o psicológico. "São nesses momentos que vale a pena olhar para si e rever o que considera positivo, além de seus atributos físicos", afirma a psicóloga Patrícia Spada. Além disso, é bacana também fazer parte de uma turma que não liga para como você é fisicamente. Só assim, vai se sentir à vontade. "Caso a vergonha não passe, a dica é procurar ajuda de um profissonal", recomenda a psicóloga Leila Tardivo, do Instituto de Psicologia da USP.

Mas não adianta apenas se encher de autoconfiança. A colaboração dos outros é fundamental. Especialista em bullying, Leila Tardivo acredita que um adolescente inseguro e que ainda é ridicularizado pelos outros pode ser vítima de depressão. Portanto, pense no que o outro está sentindo antes de emitir uma opinião.

 

DISTÚRBIOS

A aparente vergonha de se expor na praia pode trazer como conseguência grave os distúrbios alimentares, como anorexia e bulimia, quando a comida passa a ser evitada ou provoca-se o vômito após a ingestão. Pesquisas indicam que pacientes que desenvolvem esses problemas são extremamente exigentes e críticos com o físico, insatisfeitos com o peso e têm excessiva preocupação com a estética. "Se o jovem não consegue superar a vergonha do próprio corpo pode ter dificuldade em se relacionar afetivamente no futuro", finaliza Patricia Spada.

 

Questão de estilo

Estilista especializada em tamanhos plus size, Derly Miranda, diz que o principal é sentir-se bem na roupa que está usando, independentemente se a causa da vergonha for as gordurinhas a mais ou as manchas na pele. "Para isso, é preciso se olhar no espelho e testar várias peças. Não adianta querer copiar a roupa da novela nem escolher um número maior ou menor. A peça deve destacar os pontos fortes e disfarçar os fracos."

Biquíni não é proibido para as gordinhas, desde que a calcinha seja mais alta e as alças laterais mais grossas. "O ideal é escolher a parte debaixo estampada e a de cima lisa. Disfaça mais", diz Derly. Há modelos lindos de maiô, como os de um ombro só, que deixam a pessoa mais à vontade. "E para finalizar, a saída de praia deve ser sempre mais larguinhas. Os camisões estão em alta e são chiques."

Para os meninos muito magros, recomenda-se bermudas ou shorts, desde que estejam na medida certa. "Senão fazem o efeito contrário e emagrecem mais." Estas peças também ficam bem nos gordinhos. Mas não adianta colocar uma roupa linda e ficar envergonhado. É preciso ter atitude.

 

+ Dicas

  • Aproveite que o retrô está em alta e invista em biquíni com cintura mais alta e laterais mais grossas. A suquine (sunga feminina) é boa opção para as gordinhas. Na parte de cima só vale usar cortininha se tiver alças reforçadas.
  • Aproveite a fase de estampas e opte pelas menores e com fundo escuro para ressaltar o que tem de melhor. Use a parte lisa para disfarçar o que não gosta muito.
  • Esqueça as camisetas e invista em saídas de banhos. Camisões e vestidos transpassados estão na moda.

 

Flúvia Lacerda é conhecida como a Gisele Bünchen número 48

 

"Coisa bonita, coisa gostosa, quem foi que disse que tem que ser magra para ser gostosa?". Roberto Carlos provou nesta canção que é um admirador das mulheres tamanho GG. Cada vez mais, o mercado pensa nisso. Várias lojas, que antes só trabalhavam com manequins pequenos, hoje investem em peças maiores.

E as modelos cheinhas também estão sendo mais valorizadas. Fluvia Lacerda, 29 anos, é considerada uma das tops brasileiras. Tem 1, 72m, usa tamanho 48 e está muito feliz assim. "Nunca tive problemas em relação à autoestima. Pode até soar como pretensioso, mas não me lembro de ter olhado para o espelho com um ar crítico."

Fluvia passou a adolescência no Nordeste e nunca privou-se de absolutamente nada. "Brinquei na rua, subi em árvores, jogava futebol com os meninos e sempre amei o mar. Nunca tive problemas em colocar biquíni. A opinião dos outros não teve importância para a minha formação."

A vida de modelo começou quando a brasileira estava dentro de um ônibus nos Estados Unidos, na época em que fazia intercâmbio. Uma olheira sugeriu que ela procurasse uma agência de modelos. "Toda minha autoconfiança é que me fez aceitar o convite de trabalhar nessa área. Na verdade, não importa que você tenha o cabelo perfeito, o corpo curvilíneo, a pele impecável. Alguém sempre vai arrumar um milhão de defeitos."

Para ela, a principal dica para quem não está satisfeita do jeito que é, é uma só: "Seja feliz, se liberte da necessidade da aprovação dos outros. Ponha biquíni, corra, pule, nade, jogue vôlei, faça o que tiver vontade. A vida é uma só e ela passa rápido

demais."

Fluvia acredita ainda que quem critica deve ter problemas também. " Aposto que a pessoa que está rindo das suas gordurinhas, daria tudo para ter a sua coragem. Pense nisso." Quer conhecer mais a Fluvia? Acesse www.fluvialacerda.com

 

* Os nomes foram trocados para preservar a identidade dos personagens




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