Brickmann Titulo
Os dias de ira

Quando o governo chileno de Salvador Allende mais precisava de tranquilidade, um movimento que queria radicalizá-lo

Por Do Diário do Grande ABC
04/11/2015 | 07:00
Compartilhar notícia


Quando o governo chileno de Salvador Allende mais precisava de tranquilidade, um movimento que queria radicalizá-lo, o MIR, comandado por um sobrinho do presidente, ajudou a dificultar o diálogo com a oposição. No Brasil, cabos e sargentos favoráveis ao presidente João Goulart, liderados pelo cabo Anselmo, mais tarde identificado como agente duplo, rebelaram-se e dinamitaram as pontes entre governo e Forças Armadas (na ocasião, Luiz Carlos Prestes, aliado de Goulart e dirigente maior do Partido Comunista, proclamava: “Já estamos no poder, só nos falta tomar o governo”). A história se repete com outro governo de esquerda: no momento em que Lula e Dilma procuram conciliar, seus aliados petroleiros entram em greve. Não é questão de saber o que é que pretendem; mas o que conseguem é enfraquecer, por questões outras, o governo que apoiam.

Agora, somemos: à greve dos petroleiros segue-se a greve dos caminhoneiros – e, sejam quais forem suas reivindicações, geram instabilidade no País. Há a manifestação ‘Fora Dilma’ já marcada para o dia 15. A primavera promete ser quente. E hoje começa para valer o processo contra Eduardo Cunha na Comissão de Ética. Há três possibilidades: a abertura do processo é rejeitada, ou é aceita e derrubada no voto, ou é aceita e aprovada. Nas duas primeiras hipóteses, a opinião pública sentirá o inequívoco cheiro de acordo mútuo, Cunha salva Dilma, Dilma salva Cunha; na terceira, Eduardo Cunha se sentirá impelido a revidar, encaminhando o impeachment, com greves na rua e manifestações. Prepare-se.

Bola de cristal
Há chances de Cunha ficar na presidência da Câmara. Mas são escassas.

Guerra à pobreza
Lula, o ex-ministro Antônio Palocci, a ex-ministra Erenice Guerra e o governador mineiro, Fernando Pimentel, também ex-ministro, não nasceram em berço de ouro. Mas não podem se queixar: de acordo com dados do Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras), do Ministério da Fazenda, os quatro movimentaram perto de R$ 300 milhões em suas contas bancárias, nos últimos anos. As informações oficiais foram enviadas à CPI do BNDES. Lula, diz o Coaf, movimentou R$ 52,3 milhões em quatro anos, de abril de 2011 a maio de 2015, entre contas pessoais e de sua empresa de palestras, a Lils. Palocci movimentou muito mais: R$ 216 milhões entre 2008 e 2015, boa parte por sua empresa, a Projeto Consultoria. Fernando Pimentel foi bem mais modesto: R$ 3,1 milhões entre 2009 e 2014. E Erenice atingiu R$ 26,3 milhões de 2008 a 2015.

Ao chegar ao poder, o PT declarou guerra à pobreza. Foi bem-sucedido.

Os bons amigos
Da ótima coluna de Aziz Ahmed, de O Povo, do Rio: Pedro Bifano, irmão do deputado João Bifano Magalhães (PMDB-MG), foi designado diretor da Cemig Overseas – estranha subsidiária da empresa mineira de eletricidade, com sede em Barcelona. Salário: 35 mil euros, ou seja, R$ 147 mil. Mais de cinco vezes o salário de Dilma. Bifano foi diretor dos Correios, demitido por Lula quando presidente. A Cemig está na área de influência do governador Fernando Pimentel.

Os bons partidos
Corte de despesas? É preciso cortar na carne? Sim – mas o corte é na carne, não na despesa pública com os partidos políticos. Neste ano, foram R$ 608 milhões gastos com o Fundo Partidário (distribuído entre todos os partidos, tenham ou não votos). No ano que vem, a quantia chegará pertinho do bilhão. Com esse dinheiro, os partidos se dispensam de buscar apoio entre os eleitores: despesas de aluguel, telefone, aviões, jantares, recepções e pessoal são pagas pelo fundo – quer dizer, por nós. E o dinheiro é farto: em 2014, quando o volume de dinheiro não chegava a um terço disso, o deputado Levy Fidelix, do PRTB, lamentava-se de ter de manter o partido com R$ 100 mil mensais, que chamava de “merreca”.

Economizar, jamais
Corte de despesas? É preciso cortar na carne? Mas isso, naturalmente, não vale para todos. Neste ano, até setembro, a Câmara dos Deputados gastou R$ 3,6 bilhões – ou, fazendo o cálculo individual, R$ 7 milhões por parlamentar. Cada excelência gastou por mês algo como R$ 710 mil, para amenizar seus sacrifícios pessoais ao servir à população que o elegeu. Os cálculos são do ótimo portal Contas Abertas, que busca a transparência nas contas públicas. Economia?

Em 2014, neste mesmo período, as despesas tinham sido de R$ 3,25 bilhões. O aumento foi de pouco mais de 10%. Mas que é um bilhão para quem tem tantos? 




Comentários

Atenção! Os comentários do site são via Facebook. Lembre-se de que o comentário é de inteira responsabilidade do autor e não expressa a opinião do jornal. Comentários que violem a lei, a moral e os bons costumes ou violem direitos de terceiros poderão ser denunciados pelos usuários e sua conta poderá ser banida.


;