Alta nos atendimentos nos Cras da região chega a 55% entre 2014 e 2015, no caso de Diadema
Aos 52 anos, a dona de casa Josefina Santos de Oliveira acolhe em sua residência, no Sítio Joaninha, em Diadema, dois dos quatro filhos, sua nora e genro, além de oito netos. Os dois cômodos erguidos em área de risco ganharam mais dois quartos, um para cada filho e sua família, neste ano. O motivo: o desemprego gerado pela grave crise econômica que assola o País.
A situação vivenciada pela família da jovem senhora de cabelos grisalhos e saúde debilitada – já teve sete infartos e passou a usar marcapasso – é uma das que levam ao aumento da demanda por serviços nos Cras (Centros de Referência em Assistência Social) na região. Entre 2014 e 2015, houve alta nos atendimentos em quatro cidades (São Bernardo e Rio Grande da Serra não informaram e Santo André não soube precisar se a procura cresceu).
Foi justamente em Diadema onde a busca foi maior nos quatro Cras espalhados pelo município: 55% (passou de 2.555 atendimentos em setembro do ano passado para 3.960 no mesmo mês de 2015). A cidade é seguida por São Caetano, onde foram registrados 951 suportes no último mês, número 30% maior em relação a 2014. Em Ribeirão Pires, os dois equipamentos realizaram 12,03% mais assistências (subiu de 353 para 399) e em Mauá, os sete espaços destinados ao serviço social registraram 1.485 atendimentos, alta de 12,41%.
O secretário estadual de Desenvolvimento Social, Floriano Pesaro, destaca que a demanda maior pelos serviços de assistência social é reflexo do aumento da pobreza e já representa 25% mais atendimentos nos Cras em todo o Estado. Conforme as administrações, há maior procura por inscrição no Cadastro Único e em programas vinculados, seja para transferência de renda ou recebimento de alimentos. “Estamos vivendo uma crise sem precedentes. A população teve seu poder de compra praticamente zerado e estamos batendo níveis de pobreza pré-2005”, considera.
Para a faxineira desempregada Graziela Santos, 29, a possibilidade de ser incluída em programa que garanta renda fixa mensal representa tranquilidade enquanto o marido, também desempregado, tenta encontrar novo trabalho. “Nos mudamos para um cômodo aqui na casa da minha mãe porque perdemos o emprego e não estávamos mais conseguindo pagar os R$ 350 de aluguel no porão onde morávamos em Mauá”, revela a mãe de três filhos (com 3, 6 e 8 anos) e grávida de seis meses.
A família se divide em um quarto de oito metros quadrados e dorme em uma cama de casal. “Infelizmente o material de construção está muito caro. Não dá para construir outro cômodo. Minha esperança é que as coisas melhorem até o bebê nascer”, espera Graziela, que concluiu apenas o Ensino Fundamental. “Tive de parar de estudar porque fiquei grávida.”
Mãe e filha ressaltam as dificuldades para conseguir manter as contas de água e luz em dia e comprar o básico no mercado. “A gente desliga a geladeira à noite e não usa mais a máquina de lavar, só o tanquinho. Só assistimos TV aqui na casa da minha mãe para economizar energia, porque tem meses que ainda temos que comprar remédios que não conseguimos pegar no posto de Saúde”, revela Graziela.
Dona Josefina diz só ter uma preocupação na vida: o futuro dos 24 netos. “Dormiria sossegada se soubesse que todos estariam com estudo e um lugar digno para morar. Meu medo é morrer e deixar todos desamparados”, emociona-se a baiana, que chegou em Diadema aos 4 anos.
Gestores devem estruturar redes básicas
Toda crise econômica tem impacto na rede de assistência básica de um município, o que gera sobrecarga e exige, por parte dos gestores, a manutenção de redes estruturadas e fortalecidas para acolher a população, conforme explicam os especialistas.
Na visão da coordenadora do curso de Serviço Social da FSA (Fundação Santo André), Marlene Bueno Zola, o bem-estar social depende de tripé formado pelo trabalho, políticas básicas como Saúde, Educação, Habitação, Lazer e Cultura, e assistência social. “Quando há a fragilização do trabalho, as demais áreas acabam sendo impactadas. O papel do Serviço Social é evitar que haja o aumento da vulnerabilidade e a violação dos vínculos familiares.”
Já a coordenadora do curso de Serviço Social da Faculdade Anhanguera de São Bernardo, Glauciane Mont Serrate, chama atenção para a necessidade de romper com as práticas “assistencialistas”. Para isso, o Estado deve assegurar direitos sociais com o objetivo de fazer com que o cidadão passe do estado de assistido para emancipado. “A transferência de renda, quando necessária, é direito da pessoa e não uma ajuda financeira”, considera.
Para Marlene, uma das formas mais eficazes de fortalecer os serviços é começar pelo trabalho. “É preciso uma articulação nas três frentes – emprego, políticas básicas e assistência social – para que o cidadão consiga sair da vulnerabilidade”, diz.
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