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Depois da gasolina, preço do etanol sobe R$ 0,23

Na esteira do aumento do derivado do petróleo, litro do álcool alcança R$ 2,23

Yago Delbuoni
Especial para o Diário
06/10/2015 | 07:19
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Ricardo Trida/DGABC:


A cada ida ao posto de combustível revela ao motorista uma surpresa desagradável. Na esteira do aumento de cerca de R$ 0,20 no preço da gasolina, que aconteceu na semana passada, o etanol subiu R$ 0,23. A equipe do Diário passou por alguns postos no Grande ABC e constatou que o álcool custa na bomba R$ 2,23, quando na semana passada tinha o valor médio de R$ 2. Já o derivado do petróleo, que custava em torno de R$ 3,05, atingiu R$ 3,25.

Considerando esses preços médios, mesmo com o encarecimento do etanol também, ele segue mais vantajoso em relação à gasolina. Para fazer a conta, basta multiplicar o valor da gasolina por 0,70, o que resulta, no caso, em R$ 2,27. Significa que, até esse custo, o álcool é mais econômico.

Maurício Pereira, 34 anos, sócio-proprietário do Auto Posto Garoupa, da BR, localizado em São Caetano, disse que o aumento foi motivado pelo preço encontrado nas refinarias. “A gente precisa elevar o preço para que o negócio se torne sustentável. Parece que não, mas é pior para nós (posto de gasolina) quando aumenta, porque o capital de giro diminui, já que o consumidor começa a utilizar mais o cartão, devido ao preço alto. É necessário investir mais para comprar o produto.”

Pereira explicou que os sucessivos aumentos nos combustíveis motivaram a queda da frequência da clientela. “O movimento está 20% abaixo. Depois do primeiro aumento em fevereiro, muitas empresas deram férias coletivas e lay-offs (suspensão temporária dos contratos de trabalho), na GM (General Motors), por exemplo, e a consequência acaba sendo a queda no abastecimento. Até que as pessoas acabam escolhendo o transporte coletivo com alternativa.”

Em São Bernardo, o incremento do preço também foi sentido. O gerente do posto Ipiranga da Avenida Senador Vergueiro, Alexandre Pereira, 30, argumentou que assim como os consumidores, os postos também sentem o encarecimento. “Na semana passada, quando teve o aumento de 6%, a gente apenas repassou para o cliente, sem ter alguma vantagem nisto. O sistema (governo) em si está tentando cobrir o rombo (da corrupção) e a gente (consumidores e postos) tem que pagar a conta.” Ele observou que a queda de movimento no local também caiu em 20%. “Até pelo fato de o consumidor não viajar mais, deixar de andar mais de carro. E isso por que 80% da clientela do posto é fiel, e eles têm falado que está complicado, por isso estão segurando os gastos.”

O gerente contou que o custo da gasolina comum para o posto está em R$ 2,98, com o preço na bomba de R$ 3,19. Já o etanol custa para o estabelecimento R$ 1,90. Ao consumidor, está em R$ 2,19.

JUSTIFICATIVA - Questionada, a Unica (União da Indústria da Cana-de-Açúcar) informou, por meio de nota, que os preços do etanol sofrem com a volatilidade por conta de uma série de variáveis, tais como oferta e procura, condições climáticas e períodos de safra e entressafra.

Segundo a Unica, neste mês, “o setor começa a sentir o impacto do encerramento da safra de cana-de-açúcar, que deve ser finalizada em dezembro”. Dessa maneira, essa é mais uma condição que pode levar ao aumento do valor cobrado pelo litro do etanol, como ocorre em todo período de entressafra. Isso, a três meses do fim da safra.

O vice-presidente do Regran (Sindicato do Comércio Varejista de Derivados do Petróleo do Grande ABC), Nicola Gravina, afirma que, segundo informações passadas pelas distribuidoras, deve vir mais aumento nas próximas semanas, para aproveitar a alta da gasolina. Para ele, a justificativa da entressafra é uma desculpa das usinas, que também vêm se beneficiando do dólar alto para exportar açúcar. “Falta política do governo para controlar a produção e a distribuição do etanol”, avalia. 


Motoristas da região reduzem o consumo de combustíveis

Além dos donos de postos, os consumidores reclamam do preço encontrado nas bombas dos postos de combustíveis. Caso da oficial administrativa Maria Aparecida da Silva, 52 anos, que ontem abasteceu R$ 50 de etanol. “O preço que vi aqui é muito caro. Mas não tenho o que fazer. Moro em Santo André e trabalho em São Paulo, gasto R$ 300 por semana de combustível. É desesperador.”

Outro motorista que reclama é o aposentado João Dias Garcia, 53, que culpa o governo federal e a elevação da cotação da moeda norte-americana por viver esta situação. “O custo do barril do petróleo puxa o preço para cima, uma vez que as compras acontecem em dólar, e a correção do preço serve também para elevar as ações da Petrobras. Outro ponto a ser lembrado é a situação do rombo da Petrobras. E somos nós que pagamos a conta”, lamentou.

O desempregado Roberto Canaan, 49, abasteceu o carro com R$ 50 de etanol. “Nesta situação, uso o carro somente para o necessário. Ainda mais com o preço que está nas bombas. Com essa fase de contenção de gastos, só tiro da garagem em extrema necessidade.”

Outro que lamenta o preço dos combustíveis é o porteiro Getúlio da Silva Leite, 64, que também só usa o automóvel em caso necessário. “Sou obrigado a deixar o carro na garagem, do contrário, o salário vai embora só no combustível.”

Para Leite, a culpa é do governo. “Eles querem pegar o dinheiro de todos os modos para cobrir o rombo da Petrobras. Se tivesse mais barato encheria o tanque, mas com esse preço dá para gastar, no máximo, R$ 50 de etanol”, explicou.

Já o autônomo Thiago Lipinski não pôde economizar e gastou R$ 150 em gasolina. “Dependo do carro para trabalhar, não posso deixar de gastar. Repasso o preço para os meus clientes, pela taxa de entrega. Alguns, inclusive, já reclamaram por causa da tarifa.”

Lipinski disse que foi obrigado a retirar a taxa de entrega para conquistar clientes. “A situação fica insustentável. O valor está muito alto.”

(Colaborou Leone Farias)
 




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