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Hospital Lacan tem 40 pacientes em internação compulsória

Número equivale a menos de um terço dos indivíduos atendidos pela instituição especializada em dependentes de álcool e drogas

Yago Delbuoni
Especial para o Diário
21/09/2015 | 07:00
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Dirigentes do Hospital Lacan, localizado no mesmo prédio que abrigou o Centro Psiquiátrico São Bernardo, garantem que a única coisa que restou do antigo manicômio da cidade foi a estrutura física. Hoje, preferem chamar o complexo de espaço de reabilitação para usuários de drogas e outros transtornos mentais. Há atualmente 181 pacientes, sendo em torno de 40 em internação compulsória, ou seja, contra a vontade, mas obrigados por medida judicial.

Nos últimos dois anos, passaram pelo hospital 3.089 pacientes adultos e 365 adolescentes. Entre os compulsórios, foram 135 maiores e 66 menores. O foco da instituição são as internações para tratamento de dependentes de álcool e drogas, com duração entre 45 e 60 dias.

O diretor administrativo do Lacan, João Luiz Gama, diz que o fato de a estrutura da unidade ocupar o mesmo lugar que o Centro Psiquiátrico São Bernardo, unidade de internações de longa duração da época anterior à Luta Antimanicomial, provoca imagem ruim. “O espaço físico foi remodelado e o atendimento é diferente. Desejamos que a comunidade veja o que acontece aqui e a forma como os pacientes são tratados.”

Além do tratamento convencional, com medicamentos e terapia, os pacientes contam com terapeuta ocupacional, aulas de educação física e nutricionista.

A responsável técnica do setor de assistência social, Geisa Lane Lopes Ferreira, observa que, antes que o possível paciente entre no hospital, há conversa com a família. “A manutenção do vínculo colabora para a recuperação. Quando não há este laço, a possibilidade de uma recaída é maior.”

A professora de Educação Física Maria Elizabeth Cardoso mencionou que as práticas esportivas colaboram no tratamento terapêutico. “O paciente fica fisicamente debilitado com a dependência química. Melhorar a condição física possibilita maior eficácia no tratamento”. Os pacientes fazem aulas de basquete, vôlei, futebol, dança e alongamento.

A terapeuta ocupacional Camila Goduto destacou atividades como canto, artesanato e grupos de debates. Ela mencionou a importância das oficinas para a recuperação. “Com essas atividades, o paciente encontra sua própria forma de se recuperar. Ele se relaciona com as pessoas e produz resultados. Às vezes, até o não querer fazer as atividades é legal, porque se pode encontrar um caminho para ressignificar uma série de questões dentro de si. Só se consegue construir projetos para o futuro quando há quietude por dentro”, afirmou.

A psicóloga Maria Alice Albuquerque destaca que o comportamento do paciente compulsório e voluntário depende do temperamento de cada um. “Há alguns mais calmos e outros mais agitados, mas isso independe da forma como ele chegou aqui. Tem muito mais a ver com a personalidade individual.”

 

Período na unidade ajuda jovem a refletir

Uma das internas do Hospital Lacan é uma jovem de 16 anos que está ali há 42 dias. Ela era dependente de crack, maconha, tiner e cocaína. Hoje tenta se recuperar para voltar a ter contato com a filha de 1 ano e 8 meses. Garante que o hospital a fez refletir sobre a vida que estava levando. “Não me vejo usando drogas. Sinto que evolui. Não quero perder o contato com a minha filha por causa dos meus erros.”

Segundo a jovem, esse período no hospital a ajudou a pensar antes de tomar uma atitude. “Com as drogas só tem dois caminhos: cadeia ou cemitério. Sou guerreira, não vou desistir. Tenho muito que viver e preciso mudar”, ressalta.

O sonho da paciente é retornar ao convívio familiar. “Só quero dar orgulho aos meus pais. Vou ficar dois meses em Belo Horizonte com a minha mãe e lá buscar outros tratamentos. Meu pai e minha mãe vão se orgulhar de mim”, promete.

Outro jovem, de 18 anos, também está no hospital, mas, neste caso, houve recaída. “Na primeira vez, minha mãe queria que eu fosse internado, mas eu não queria. Fiquei com dó dela e resolvi vir para cá. Agora, vim por vontade própria.”

O jovem disse que tem passagem pela Fundação Casa e entrou no mundo das drogas por causa de amigos. “Antes eu roubava, fumava cigarro e usava maconha, cocaína, LSD e lança-perfume.”

Assim como a outra adolescente, ele vislumbra horizonte diferente depois das internações. “Pretendo mudar de vida, estudar e trabalhar, não desejo isto pra ninguém”, completou.




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