Política Titulo Questão econômica
Câmaras do Grande ABC tentam driblar crise sem queimar gordura

Mesmo com cenário de retração da economia e queda na arrecadação, Legislativos evitam cortar gastos na carne e diminuem só despesas básicas

Júnior Carvalho
Do Diário do Grande ABC
19/09/2015 | 07:37
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O cenário de crise econômica e queda na arrecadação dos municípios parece não ter chegado às Câmaras do Grande ABC. Mesmo quando o momento exige dos gestores corte de gastos e uso consciente do dinheiro público, presidentes dos Legislativos da região anunciam contenção de despesas básicas como, por exemplo, redução do consumo de água, luz, telefone, ou de serviços de papelaria.

Nenhuma Câmara das sete cidades cogita enxugar radicalmente os gastos para ‘queimar gorduras’ e ajudar os prefeitos a desonerarem a máquina pública. Em alguns casos, têm elevado a lista de obrigações a pagar.

Presidente do Legislativo em Santo André, Ronaldo de Castro (PRB) disse ter exigido corte de “todas as horas extras e redução de gastos com correspondências”. “Estamos estudando novas medidas de economia”, garantiu. Em contrapartida, a Câmara andreense pagou R$ 950 mil para reforma das pilastras do prédio; contratou, por cerca de R$ 50 mil, lava-rápido para limpeza dos 27 carros oficiais, além de desembolsar R$ 2,5 milhões para reformar a Casa. O republicano gerencia R$ 60,4 milhões da receita deste ano.

O Legislativo de São Bernardo, presidido por José Luiz Ferrarezi (PT), alegou ter diminuído o gasto com gasolina, desligado as escadas rolantes do prédio e reduzido o consumo de água. A previsão de caixa da Câmara são-bernardense para 2015 é de R$ 69 milhões.

O presidente da Câmara de Diadema, José Dourado (PSDB), afirmou que a Casa “tem procurado economizar da melhor maneira possível”. “Tem coisas que não tem como mexer porque, apesar de diminuir custos, atrapalha o andamento dos trabalhos. Temos pedido que economizem luz, água e xerox”. O tucano, porém, pagou R$ 77 mil para reformar a fachada da sede do Legislativo e recentemente autorizou os vereadores a votarem aumento de quase 50% nos próximos salários. O acréscimo – saltaria de R$ 10 mil para R$ 15 mil – só não passou por conta da repercussão negativa entre eleitores. A receita a ser gerida por Dourado este ano é de R$ 31 milhões.

Na contramão dos discursos por economia, o dirigente da Câmara de Ribeirão Pires, José Nelson de Barros (PSD), reclamou que a Casa tem “apenas nove carros (da frota) para uso dos 17 vereadores”. “Preciso usar o dinheiro para algumas reformas, como, por exemplo, a colocação de ar-condicionado aqui no plenário. Daqui a pouco chega o verão e é impossível ficar sem ar”, disse o parlamentar. O repasse acumulado da Prefeitura à Casa neste ano será de R$ 9,3 milhões.

GORDURA
Além de gastar com o salário de cada um dos 142 parlamentares da região, as Casas mantêm despesas com combustível de carros oficiais, verbas para alimentação de vereadores e funcionários e gasto com folha de pagamento.

Nas Câmaras de Santo André (21 vereadores) e de São Bernardo (28), cada um dos parlamentares conta com 13 assessores, cujos salários variam entre R$ 1.600 e R$ 8.600. A Câmara de São Caetano, administrada por Paulo Bottura (Pros), paga vencimentos que chegam a R$ 10,3 mil. Em Diadema são sete por cada um dos 21 gabinetes – total de 147 servidores, com contracheques entre R$ 2.600 e R$ 3.900. O presidente do Legislativo de Mauá, Marcelo Oliveira (PT), desembolsa, em média, R$ 5.000 para os funcionários indicados pelos parlamentares. A receita de 2015 da Câmara mauaense é de R$ 25,7 milhões.

Com o tímido orçamento de R$ 3,1 milhões, a Câmara de Rio Grande da Serra é a única da região que não mantém estrutura de profissionais à disposição de vereador, já que a sede da Casa é pequena e não tem gabinetes.

O presidente da Abracam (Associação Brasileira das Câmaras Municipais), Rogério Rodrigues da Silva, defendeu que a redução de gastos, insistentemente cobrados aos prefeitos, também seja adotado pelos vereadores. “Pode cortar assessores, diminuir salários, reduzir as verbas indenizatórias, gastos com gasolina ou rever algum contrato. Tudo isso pode ser revisto”, explicou. “É preciso pisar no freio”, sugeriu Rodrigues.




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