Economia Titulo Crise
Produção de carros encolhe 17% neste ano

Apesar disso, os estoques de veículos nas fábricas
apresentaram aumento, por causa das vendas fracas

Leone Farias
Do Diário do Grande ABC
05/09/2015 | 07:05
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Celso Luiz/DGABC


A produção nacional de veículos já encolheu 16,9% neste ano até agosto, em comparação com mesmo período de 2014. Com o total de 1,73 milhão de unidades (incluindo automóveis, picapes, caminhões e ônibus), as montadoras estão com o menor volume fabricado desde 2006, quando saiu das linhas de montagem das fábricas no País 1,621 milhão de unidades nos oito primeiros meses do ano.

Apesar disso, o volume de estoques do segmento, em vez de diminuir, segue crescendo, por causa da fraca demanda. Em agosto, o setor contabilizava 357,8 mil carros parados nos pátios das fabricantes e nas concessionárias, o que correspondia a 52 dias para comercialização pelo ritmo atual do mercado. Em julho, eram 345,6 mil, que levariam 50 dias para desova. Esses dados foram divulgados ontem pela Anfavea (Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores). “O ponto de equilíbrio do setor seriam 30 dias de estoque, 52 é muito alto e traz bastante dificuldade”, afirma o presidente da associação, Luiz Moan.

No mês passado, as montadoras, que já vinham puxando o freio na fabricação, reduziram mais o ritmo de produção, com diminuição de 3,5% em relação a julho. No entanto, não foi suficiente para dar conta da baixa procura. As vendas caíram 8,9% no mês passado e, no acumulado do ano, já estão 21,4% menores em relação ao mesmo período do ano passado. Moan ressalta que, pela média diária (agosto teve dois dias úteis a menos que julho) o resultado das vendas foi praticamente de estabilidade. “O que não significa que dê para o setor respirar, a situação continua complicada”, assinala.

O momento é especialmente difícil na área de caminhões – o que é particularmente ruim para o Grande ABC, que concentra 55% da produção nacional desses veículos –, em que a comercialização teve tombo de 43,5% de janeiro a agosto ante mesmo período de 2014. E, nas vendas de pesados, a queda é mais significativa: de 60,7% neste ano.

EMPREGOS - Com a produção em baixa, a indústria segue fazendo ajustes para se adequar ao ritmo das vendas. Neste ano até agosto, as fabricantes de veículos já eliminaram 10.460 empregos, de acordo com dados da Anfavea. No Grande ABC, estima-se que são 2.540 postos de trabalho fechados, dos quais 800 na Volkswagen, 608 na General Motors, 540 na Mercedes-Benz e 206 na Ford.

Ainda segundo a associação das montadoras, as fabricantes seguem utilizando ferramentas para evitar mais perdas de empregos. Há atualmente no País 27,4 mil trabalhadores em casa, de folga, seja em licença remunerada ou lay-off (suspensão temporária de contratos de trabalho), neste mês. Na região, ao todo existem 3.310 suspensos atualmente: dos quais 400 da fábrica da General Motors, 2.570 na da Volkswagen, 160 na Ford e 250 na Mercedes-Benz.

Outro instrumento que deve começar a ser adotado é o PPE (Programa de Proteção ao Emprego). A Mercedes assinou acordo com o Sindicato dos Metalúrgicos do ABC para aderir ao mecanismo legal na unidade fabril de São Bernardo – foi a primeira montadora do País a fazê-lo.

Moan destaca a importância do programa por possibilitar, nesse período de crise, a manutenção dos postos de trabalho, e por ser uma medida “pró-ajuste fiscal”. “No lay-off não se recolhem encargos sociais. Já no PPE, o dispêndio do governo é menor e pagamos encargos”, compara.


Com dólar favorável, exportações crescem 10%

Enquanto as vendas no mercado interno vão mal, as exportações de veículos reagiram, com crescimento de 10,5% de janeiro a agosto na comparação com mesmo período de 2014, apontam os números da Anfavea.

Um dos fatores favoráveis é a taxa cambial. O dólar, que em janeiro estava na casa dos R$ 2,60, atingiu ontem R$ 3,86, o que significa valorização de quase 50%. Isso representa mais competitividade para as empresas venderem produtos no Exterior, embora a volatilidade (a oscilação da cotação) preocupe. “Prejudica o planejamento das empresas”, diz o presidente da Anfavea, Luiz Moan.

Além desse fator, a associação do setor, junto com o governo federal, vem fazendo esforços para ampliar acordos comerciais entre o Brasil e outros países. Como exemplo, recentemente, foi fechada negociação com o Uruguai, que possibilitou a duplicação da cota de exportações de veículos do País para aquele mercado. Moan assinala que nas próximas duas semanas deve ser fechado entendimento na área automotiva com a Colômbia, e há boas perspectivas também de conversas com o governo peruano. A entidade espera ainda a revisão das normas do comércio com o Paraguai, país que hoje autoriza a importação de carros usados. A Anfavea é contra essa regra.
 




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