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Comércio faz mais barulho que indústria
André Vieira
Do Diário do Grande ABC
31/05/2010 | 07:00
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As Prefeituras do Grande ABC atestam aquilo que a população das sete cidades já sente, sobretudo nos ouvidos: as zonas comerciais, onde se instalam centros religiosos, bares e casas noturnas, são os locais mais barulhentos.

Em uma região desenvolvida a partir da chegada das indústrias, a proximidade com as fábricas poderia também incomodar, mas, embora também existam reclamações, morar perto das vias badaladas é o que mais tira o sono e o sossego.

Mesmo com níveis determinados por lei para poluição sonora e a alegação das administrações de que existe fiscalização para coibir abusos, a população ainda reclama que o volume dos ruídos no Grande ABC não respeita limites.

O exemplo do porteiro Alfredo Luis Arantes, 43 anos, do Jardim Zaíra, em Mauá, é a prova de que, atualmente, não é mais preciso morar rodeado pelos comércios que agitam a noite para sentir o poder da perturbação.

A residência da família do porteiro está separada da sede de uma igreja por apenas uma casa. Quando é dia de culto, o barulho é certo.

"É impossível conversar com minha mulher e minha filha ou ver televisão quando eles se reúnem. O salão é pequeno, mas é muito movimentado e cheio de instrumentos musicais", afirmou Arantes.

O porteiro contou que procurou o proprietário do salão, mas o dono do imóvel disse que não tinha do que reclamar, pois os inquilinos pagam o aluguel em dia. "A Prefeitura só diz que vai mandar fiscais, porém nada muda", reclamou Arantes.

Segundo a fonoaudióloga Ana Claudia Fiorini, do Departamento de Saúde Coletiva da Sociedade Brasileira de Fonoaudiologia, a medição do ruído nem sempre é eficaz porque podem faltar instrumentos ou fiscais para as prefeituras. "Vale lembrar que muitas reclamações existem não porque o bar faz muito barulho, mas pelo contexto, ou seja, o aumento do trânsito de veículos e a grande movimentação de pessoas que o estabelecimento atrai."

Nestes casos, segundo a especialista, o ruído reclamado pela população nem sempre poderá ser constatado, pois as fontes da poluição sonora são móveis.

Prefeituras - Consultadas pelo Diário, as prefeituras do Grande ABC garantiram que fazem valer as leis que impedem o excesso de barulho em seus determinados horários e disponibilizaram o canal que registra reclamações.

Segundo o Semasa (Serviço Municipal de Saneamento Ambiental de Santo André), no ano passado foram aplicadas 125 advertências e 138 multas para os que descumpriram as normas. As queixas podem ser feitas pelo número 115.

A Prefeitura de São Bernardo informou que destaca equipe de fiscalização para verificar o nível de ruído sempre que uma denúncia é feita. A administração recebe, em média, 15 reclamações por mês e oferece o telefone 0800-7708-156 aos reclamantes.

Em São Caetano, dois novos decibelímetros - equipamento que mede o volume do ruído - foram recentemente adquiridos para melhorar a fiscalização. Em 2009, a cidade aplicou 800 notificações e 50 multas. Para denunciar, basta ligar no 156.

Diadema recebe reclamações pelos telefones 4059-7612 e 4059-7611. Em 2009, o município arrecadou mais R$ 10 mil com a cobrança de multas.

Em Ribeirão Pires, a Prefeitura recebe queixas pelo 4828-9127.

Procuradas pela reportagem, as prefeituras de Mauá e Rio Grande da Serra não responderam aos questionamentos.

Poluição sonora afeta sistema nervoso
Associar somente problemas de audição aos efeitos nocivos da poluição sonora é um dos maiores erros da população. O alerta é da fonoaudióloga Ana Claudia Fiorini, do departamento de Saúde Coletiva da Sociedade Brasileira de Fonoaudiologia.

"As implicações do excesso de ruído para a saúde são gerais. Além da perda auditiva, as pessoas podem sofrer irritabilidade, nervosismo, estresse e apresentar distúrbios de atenção, de concentração e de sono", afirmou Ana Claudia.

Para a especialista, que é também professora doutora da PUC-SP (Pontifícia Universidade Católica de São Paulo), a desinformação pode prejudicar o tratamento dos males. "Às vezes, o cidadão tem algum desses problemas e não sabe que está relacionado aos efeitos danosos da exposição à poluição sonora."

Sobretudo para os mais jovens, que costumam abusar dos fones de ouvido, a fonoaudióloga faz um alerta: "Se a pessoa que estiver com os fones não for capaz de ouvir alguém falando a um metro de distância, o volume do som está alto e pode prejudicar a saúde."

Segundo a especialista, havia, no passado, uma falsa ideia de que o barulho desmedido não era motivo de incômodo para a sociedade. "A poluição sonora é hoje a terceira causa de poluição no mundo, perdendo somente para a poluição do ar e da água. As pessoas estão cada vez mais preocupadas com esse problema."

Feirantes elevam decibéis para vender mais
"Olha a laranja! Olha a banana! Leva a dúzia do ovo caipira. Tá barato! É só chegar freguesia." Se existe um lugar onde o barulho é bem-vindo, esse local é a feira livre. Ou dá para imaginar uma silenciosa, sem o grito do feirante para atrair a atenção do consumidor?

"Sem chance. Feirante mudo não ganha nada", afirmou o comerciante Leonel José Silva, que há 30 anos trabalha em barracas de feiras livres no Grande ABC.

Além do preço e da qualidade dos produtos, na feira ganhar a concorrência e a preferência do consumidor exige comunicação em alto e bom som. "Os clientes são atraídos porque ouvem a nossa voz anunciando as ofertas", contou a feirante Angela Ferreira, que há oito anos trabalha em Santo André.

Mesmo nas feiras noturnas do Grande ABC, que começam no fim de tarde, é possível ouvir a propaganda dos comerciantes, mas em volume mais baixo.

Sabendo que é na palavra que se conquista a freguesia, o experiente Edson Silva, 30 anos de feira, optou por uma forma de despertar a atenção que não requer muito esforço das cordas vocais. "Eu tenho bordões. Chamo os homens de ‘Seu Menino' e as mulheres de ‘Dona Menina'. Não preciso falar alto, basta simpatia e educação", contou Madureira, como é conhecido.

Apesar do clima descontraído que ainda predomina nas feiras livres, segundo Madueira, que ganha o pão vendendo o peixe, hoje os feirantes gritam menos e são mais comportados. "No passado era mais ôba-ôba, mais brincadeira, por isso era tudo mais barulhento. Hoje o pessoal que trabalha na feira está mais profissional."




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