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Outra funerária estaria envolvida na 'Máfia do Óbito'
Por Sérgio Vieira e
Eduardo Reina
Do Diário do Grande ABC
03/08/2005 | 08:06
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Mais uma funerária de São Caetano é suspeita de fazer parte da 'Máfia do Óbito'. O sócio da funerária Abcel, Marcelo Foltran, é um dos indiciados no inquérito 104/04, que investiga também a venda de atestados falsos de óbito em Santo André. A informação é do delegado Marcelo Bianchi Fortunato, atual titular de Rio Grande da Serra. O inquérito foi instaurado em fevereiro de 2004 no 2º DP de Santo André. À época, Fortunato atuava na cidade e presidiu esse inquérito. Além do dono da Abcel, o médico Eduardo Agostini também foi indiciado, já que foi ele que assinou a declaração de óbito. No último dia 20, o Diário comprovou a ação da 'Máfia do Óbito' em São Caetano. Em pouco mais de uma hora, a reportagem obteve uma declaração de óbito falsa, assinada pelo cardiologista e intermediada pelo gerente da funerária São Paulo, Pedro Azevedo Gazani. Para isso, fez pagamento de R$ 200, que o funcionário classificou como "consulta".

Segundo Fortunato, a investigação começou a partir de denúncias de que a funerária tinha oferecido plano de sepultamento a uma família em Santo André, cujo parente tinha acabado de morrer no Hospital Municipal. Além do plano, teria sido cobrado da família R$ 150 para que o médico Eduardo Agostini assinasse a declaração de óbito. De acordo com o inquérito, a Abcel intermediou esse pagamento e forneceu cheque da empresa ao cardiologista. "Anexamos ao processo uma cópia do cheque usado para pagar o médico", disse o delegado. No inquérito, Agostini é acusado de falsificação de documento público (artigo 297 do Código Penal) e Foltran, de falsidade ideológica (artigo 299).

O dono da Abcel nega sua participação e diz que o responsável pela negociação foi o vendedor Marcelo Lyra, que segundo ele, à época, prestava serviços à empresa e oferecia planos funerários na região. Mesmo alegando que os vendedores da Abcel fazem atendimento de porta em porta, Foltran não soube explicar porque Lyra estava no Hospital Municipal naquele dia. "Não sei como ele teve acesso a essa família". Foltran não soube dizer de onde foi retirada a declaração de óbito em branco e nem se Agostini, de fato, foi ao local da morte. Também não informou se o médico já assinou outras declarações de óbito intermediados pela Abcel. "Não sei, porque não tenho acesso a esses documentos", justificou. Segundo Foltran, dois meses após esse episódio, Lyra deixou a empresa.

Marcelo Foltran disse, ainda, que quando o vendedor o ligou, pedindo autorização para realizar o atendimento, "já estava tudo certo", incluindo a declaração de óbito. Mas não foi consultado sobre o pagamento que seria feito a Eduardo Agostini. Perguntado como um funcionário terceirizado consegue cheque da empresa e faz o pagamento direto sem consultar o chefe, respondeu: "Nós deixamos cheques em branco cruzados e assinados para o pagamento de despesas relacionadas ao funeral". Mesmo assim, diz que não é comum a funerária intermediar pagamento de consultas médicas.

Em seguida entra em contradição, quando diz que a Abcel, às vezes, antecipa valores para os clientes. "Tem família que chega aqui e fala: 'preciso de R$ 100 para um negócio e depois posso pagar para o senhor?'. Isso acontece aqui", diz. A funerária Abcel tem sede em São Caetano e, segundo o proprietário, não há filial em Santo André.

Encaminhado à 4ª Vara Criminal de Santo André em 2005, o processo hoje está nas mãos da promotora de Justiça Iussara Brandão de Almeida, no Ministério Público.




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