O ministro dos Hidrocarbonetos boliviano, Andrés Solíz, afirmou nesta terça-feira que São Paulo, o principal centro industrial do Brasil, pode ser afetado se a Petrobras decidir retirar seus investimentos da Bolívia, depois do anúncio do presidente Evo Morales de nacionalizar seus campos de petróleo e gás.
"Mais de 80% do gás que abastece São Paulo é boliviano, ou seja, a Petrobras não terá interesse em fechar as válvulas, já que isto afetaria diretamente o principal centro industrial do Brasil", assinalou.
A estatal brasileira continuará operando na Bolívia "porque precisa e vai continuar ganhando dinheiro, mas não a ponto de saquear o povo boliviano", estimou a autoridade boliviana.
Solíz respondeu à forte reação do presidente da estatal brasileira, Sergio Gabrielli, que declarou no Rio de Janeiro que a "Petrobras tomará todas as medidas legais necessárias para preservar seus direitos".
Gabrielli disse que a nacionalização "foi uma decisão unilateral, tomada de forma hostil e que nos obriga a analisar com muito cuidado a situação na Bolívia".
A Petrobras controla 14,5% das reservas bolivianas de gás natural e tem um contrato que lhe permite operar no país por mais 13 anos. Antes da nacionalização, Bolívia e Brasil vinham negociando o preço do gás natural, fixado em pouco mais de US$ 3, valor considerado insuficiente por La Paz.
"Quero lembrar à Petrobras que a Bolívia tem excelentes alternativas, temos um contrato com o Brasil até 2019, se quiserem não vamos mexer nesse contrato, (mas) se quiserem maior volume de gás temos que mexer no contrato anterior e melhorar os preços", disse Solíz.
Apesar da crescente demanda de seu mercado, o Brasil já anunciou que não quer mais comprar os 30 milhões de metros cúbicos diários estipulados no contrato, mas apenas a metade.
"Digo aos amigos da Petrobras, que já não querem 30, mas 15 milhões, que nós já fechamos a venda de 20 milhões de metros cúbicos de gás ao Paraguai", afirmou Solíz.
O ministro lembrou que um Tratado de Paz com o Paraguai garante à Bolívia um porto livre na fronteira paraguaio-brasileira, em Puerto Casado. "De Villamontes a Puerto Casado e em Puerto Casado, que é um lugar boliviano, a Bolívia poderia criar uma fábrica de diesel sintético de 50 mil barris diários, com um gasoduto com capacidade de 20 milhões de metros cúbicos, mais do que os brasileiros querem", explicou Solíz.
"Por isso, amigos da Petrobras, discutamos com calma e sobretudo nos concentremos nos preços", recomendou.
Cada aumento de US$ 1 no preço do gás vendido ao Brasil corresponde a US$ 50 milhões anuais de ingresso adicional para o Estado boliviano, disse o funcionário boliviano.
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