A Vila Vitória, em São Bernardo, é lugar de deliciosos bolos caseiros feitos pelas mãos de Rosa Teresa de Oliveira da Silva. 50 anos. Ela produz e vende os doces em sua própria loja, onde trabalha todos os dias das 5h45 às 23h.
Nascida em Araruna, na divisa da Paraíba com o Rio Grande do Norte, Rosa passou a adolescência em Natal. “Desde criança, brincava de fazer bolinhos. Trabalhar com doces sempre foi um sonho, assim como ter meu próprio negócio.”
Rosa trata cada bolo como um filho. “A receita começa na batedeira, peneirando a farinha e misturando os ingredientes. Quando vejo crescer no forno, a sensação é inexplicável.”
A boleira está há dois anos na Rua Leonardo Martins Neto. “Comecei a fazer pão de mel. Sempre amei cozinhar. Depois dos 45 anos é mais difícil arranjar emprego e fiquei fora do mercado. Todos diziam que meu perfil é ótimo, mas procuravam pessoas jovens. Sempre fiz bolos para meus amigos e me sugeriram produzir para vender.”
Todos os bolos da loja são caseiros. “Faço as receitas das 5h45 até as 9h. Rende, em média, 25 bolos de café por dia. Fecho a loja às 19h, mas o trabalho só termina lá pelas 23h.”
Rosa garante que já tem vários clientes cativos. “Alguns clientes pediam bolo todos os dias, agora, dia sim, dia não, mas ainda existe procura, mesmo com a crise.”
O carro-chefe da loja é o bolo de mandioca e milho verde. Questionada sobre o segredo da receita, ela se limitou a dizer que todo o processo é natural e não leva farinha e fermento. E brincou: “A Coca-Cola conta o segredo dela?”
Os bolos para café da manhã custam entre R$ 9 e R$ 10,50. Já os mais trabalhados, para festas e feitos sob encomenda, tem preço a partir de R$ 30 o quilo.
Para o funcionamento do negócio, a comerciante contou que é importante ter bom atendimento e qualidade dos produtos. “Esses dois fatores são fundamentais para que o negócio funcione. Se tiver só um bom e outro ruim, a chance de ter clientela fiel é difícil.”
Com a loja, Rosa acabou conhecendo bem os moradores da Vila Vitória. “Antes de ter o espaço, morava aqui há cinco anos, mas não conhecia ninguém. Um abraço gostoso e o reconhecimento do cliente é muito bom.”
Na loja de Rosa também são vendidos salgados, feitos por uma colega. “Eles também são caseiros.”
Ainda assim, os bolos são os mais vendidos. “Uma amiga que trabalha em uma franquia de bolos brincou que eu poderia colocar o nome de Rosiê Doces (em alusão à conhecida franquia de bolos) porque a qualidade é semelhante.”
Além dos pedidos na loja, Rosa mantém a tecnologia como aliada e aceita encomendas por WhatsApp. “Em média, recebo cinco encomendas por dia pelo celular.”
Comerciante chegou antes mesmo do asfalto nas vias
A vendedora Creuza de Castro do Prado, 54 anos, chegou à Vila Vitória antes mesmo de a Rua Leonardo Martins Neto, principal do bairro, ser asfaltada. Ela é proprietária de bomboniere e também loja de roupas. Uma das principais lembranças do início da ocupação do bairro são os atoleiros em dias de chuva. “Mas não era igual sítio, onde precisa vir todo mundo para empurrar, porque havia pedras nas ruas.”
Hoje Creuza vive no Jardim Orquídeas, mas passa boa parte do tempo na Vila Vitória. “Só vou dormir em casa. Minha vida é aqui, por isso, todos os vizinhos me conhecem.”
Apesar de ter boas lembranças do bairro, foi ali que uma de suas melhores amigas partiu. “Antes de ter a bomboniere, comecei com um carrinho de doces. Depois, meu marido comprou uma banca de zinco e coloquei na rua. Nesta época, fiz amizade com uma mulher que morava na Rua Machado de Assis. Eu ficava no carrinho e fazia tricô para passar o tempo. Não sabia fazer gola de blusa e ela me ensinou”, lembra Creuza, com carinho.
Certo dia, em uma quinta-feira, segundo a vendedora, surgiu o assunto de morte. “Eu disse que tinha medo de morrer, e ela respondeu: ‘Eu não tenho.’ No domingo seguinte, teve um infarto fulminante. Quando me passaram a informação de que ela tinha morrido. Estava tocando uma música do Chitãozinho e Xororó que agora, toda vez que ouço, fico emocionada.”
Com tanto tempo de comércio na Vila Vitória, Creuza foi assaltada apenas uma vez. “ O fato de conhecer os moradores do bairro me ajuda bastante até no quesito de segurança. Um rapaz me assaltou e alguns anos depois me procurou e pediu desculpas. Atualmente, esse rapaz frequenta a minha loja e deposito a minha confiança nele”, garantiu.
Pedreiro é um dos fundadores do bairro
Um dos fundadores da Vila Vitória é o pedreiro Onofre Patrício dos Santos, 63 anos. Nascido no interior de São Paulo, em Andradina, a aproximadamente 680 quilômetros de São Bernardo, foi caseiro da chácara da família Braido. Veio para a cidade em 1976 e, desde então, não saiu mais, participando da construção do bairro.
Foi em 1989 que surgiu o primeiro loteamento na Vila Vitória. O pedreiro conta as mudanças que aconteceram de lá para cá. “Aqui era só mato. Depois que chegou asfalto, água, luz e o restante da infraestrutura, as condições de vida melhoraram.”
Por ser o morador mais antigo, Santos é conhecido na comunidade. “Isso é bom. Respeito os outros e eles me respeitam.”
O pedreiro é hoje o presidente da associação de moradores e, por isso, faz as vezes de ‘quebra-galho’ para a vizinhança. “Certa vez, estava trabalhando e um morador me ligou desesperado. Ajudei-o a assinar um documento de venda da casa, já que ele havia escrito o nome errado.”
Santos considera a sua relação com o bairro muito boa. “Somos uma família.”
O pedreiro participou da construção de várias das casas que ainda hoje existem no local. “No início, todo fim de semana tínhamos equipe de 25 pessoas que ajudava a encher as lajes das residências.”
Questionado sobre o que sente em relação à comunidade da qual faz parte e que ajudou a criar, a palavra é uma só: alegria. “Sou o fundador. Sou respeitado. A maioria dos moradores gosta de mim e acha que represento bem seus interesses.”
Quando ele retorna para a cidade natal para visitar os parentes, sente falta do movimento de São Bernardo. “O Interior é muito parado. Gosto da vida daqui.”
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