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FBI investiga conexao brasileira em lavagem de dinheiro
Do Diário do Grande ABC
22/04/2000 | 13:51
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O Brasil é uma das principais rotas de intermediaçao da cocaína que deixa o Planalto Andino com destino aos Estados Unidos. Mesmo assim, ainda há poucas informaçoes sobre a participaçao brasileira no narconegócio - tanto o FBI quanto o Departamento de Combate às Drogas (DEA) americanos dispoem de dados limitados sobre o Brasil e a lavagem de recursos das operaçoes com drogas. Os dois brasileiros presos nos Estados Unidos há três semanas foram descobertos pelo FBI justamente durante investigaçoes sobre o narcotráfico colombiano, origem da maior parte dos casos de lavagem de dinheiro que têm os Estados Unidos como destino.

A lavagem do dinheiro obtido com a droga, principalmente a cocaína, é hoje um dos principais alvos da açao policial no sul dos Estados Unidos. Trata-se de um movimento anual de pelo menos US$ 300 bilhoes, segundo estimativas da Organizaçao das Naçoes Unidas (ONU).

Grao de areia - A prisao de Oscar de Barros e José Maria Teixeira Ferraz e o indiciamento do brasileiro naturalizado americano Jamil Degan é um capítulo pequeno se comparado às açoes em andamento na Justiça americana. Acusado de lavar US$ 22 milhoes, o bando foi pego por uma transaçao de apenas US$ 540 mil. É um grao de areia comparado com o valor diariamente apreendido pela açao conjunta da alfândega e do DEA americanos nas fronteiras e nos aeroportos dos Estados Unidos: US$ 1,2 milhao.

A restrita informaçao sobre a participaçao brasileira pode ser verificada no relatório preparado pelo Departamento de Estado sobre as estratégias de controle do narcotráfico no mundo, em 1999, que dedica apenas cinco páginas ao Brasil. Destaca a criaçao da Comissao Parlamentar de Inquérito (CPI), instalada há um ano, e as 115 prisoes efetuadas em conseqüência do trabalho dos deputados, como um dos mais significativos avanços da política brasileira. Lista ainda como progresso importante a atuaçao da Secretaria Nacional Antidrogas.

O documento americano cita números da CPI, que estima em US$ 17 bilhoes o total de dinheiro lavado a cada ano no Brasil - número que pula para US$ 28 bilhoes nas estimativas do Banco Central. O trio de brasileiros apanhado pelo FBI há três semanas atuava com outras duas pessoas ligadas ao tráfico e à lavagem de dinheiro colombiano. É de lá que vêm 70% da cocaína e 65% da heroína consumida, principalmente nos centros urbanos dos EUA.

Ikal - As investigaçoes vêm levando tanto o FBI quanto promotores públicos brasileiros a percorrer caminhos trilhados por uma malha de personagens em diversas capitais do Brasil e dos Estados Unidos, passando pelo Japao e por outros países latino-americanos. Do lado brasileiro, o Ministério Público vê conexoes familiares entre um dos integrantes da quadrilha radicada em Miami, o brasileiro José Maria Teixeira Ferraz, e o irmao dele José Paulo Ferraz - sócio da Ikal, construtora responsável pela obra superfaturada da sede do Tribunal Regional do Trabalho de Sao Paulo (TRT-SP).

Ainda sobre a capital paulista, as investigaçoes do FBI indicam um suposto suborno a autoridades da prefeitura de Celso Pitta por parte da companhia americana MetroRED - braço do fundo de investimentos Fidelity. A operaçao, envolvendo contratos de instalaçao de redes de fibra ótica no valor de US$ 200 milhoes, teria sido mediado pelo brasileiro Oscar de Barros. Tal ato é vetado pela legislaçao americana por meio do Foreign Corruption Act.

Dossiê - Provocado pela Polícia Federal do Brasil, o FBI esbarrou nessas irregularidades ainda em 1998. O entao diretor-geral da PF, Vicente Chelotti, pediu a cooperaçao do órgao americano e do Departamento de Justiça, na investigaçao dos supostos autores do dossiê Cayman. Chelotti apontou Barros, Ferraz e Degan como possíveis divulgadores dos papéis atribuindo ao presidente Fernando Henrique Cardoso e a parte da cúpula do tucanato a titularidade de uma conta de US$ 368 milhoes nas Ilhas Cayman.

Em março, pela primeira vez na história, 36 bancos offshore - em que banco e correntistas estao isentos de impostos - instalados em Cayman foram ameaçados pelos governos das maiores economias industriais do mundo, o G-8, de ir para uma lista negra do mercado financeiro mundial. Com isso, o paraíso fiscal caribenho correria o risco de perder privilégios fiscais hoje franqueados a investidores ávidos pelo anonimato nas aplicaçoes. Um dos centros bancários do mundo, a pequena Cayman tem 590 bancos e mais de US$ 500 bilhoes em aplicaçoes.

Tempo - "Ainda vai demorar muito para sustar os mecanismos de legalizaçao dos bilhoes de dólares gerados pelas indústrias de prostituiçao, drogas, jogo e tráfico de escravos que caracterizam as origens da lavagem de dinheiro", admite Sandro Tucci, encarregado do programa das Naçoes Unidas para o controle de drogas e prevençao do crime no mundo.

A venda de drogas e o contrabando geram notas de valor baixo, que precisam ser trocadas por notas mais altas para facilitar o transporte. Foi o que aconteceu com a quadrilha brasileira. "É um caso clássico", definiu o porta-voz do DEA em Miami, Brent Eaton.

O processo envolvendo a quadrilha descreve tentativas de transferências de US$ 10 mil a US$ 15 mil de uma conta para outra. O método é conhecido como 'starburst', por espalhar o dinheiro como 'estrelas no céu' em várias contas bancárias.




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