A secretária de Estado americana, Condoleezza Rice, e o presidente palestino, Mahmud Abbas, se separaram na manhã deste domingo, sem chegar a uma posição comum sobre os meios de ressuscitar o moribundo processo de paz com Israel.
De um lado, a chefe da diplomacia americana reafirmou a necessidade "de acelerar o processo de paz", enquanto por outro Abbas rejeitou "as soluções temporárias", em alusão às propostas israelenses de criar um Estado palestino com fronteiras provisórias com a finalidade de se chegar a uma solução definitiva.
"Eu me oponho a soluções temporárias, pois penso que não são viáveis (...). É preciso pensar o papel de todas as partes internacionais", disse Abbas em entrevista coletiva com Condoleezza Rice, que deseja reativar o Mapa do Caminho, um plano internacional de paz que prevê a criação de um Estado palestino ao lado do de Israel, e que está parado desde 2003. Enquanto os Estados Unidos rejeitam as propostas européias e árabes de uma conferência internacional de paz para o Oriente Médio, o presidente palestino pede para "reativar o papel que desempenham todas as partes internacionais" neste conflito.
Apesar das divergências, Rice assegurou que os "Estados Unidos estão absolutamente comprometidos em favorecer uma solução para o conflito e com os esforços para encontrar os meios para acelerar os progressos do Mapa do Caminho".
O encontro na cidade de Ramallah (Cisjordânia) foi antecedido de uma série de conversações, no sábado, entre Rice e altos funcionários israelenses sobre a forma de relançar o plano de paz.
"Nós discutiremos (...) a forma de acelerar o Mapa do Caminho, bem como de trabalhar rumo a um horizonte político", disse Rice depois da reunião, no sábado, com a ministra das Relações Exteriores israelense, Tzipi Livni. "Porque eu acho que ambos compreendemos plenamente que tanto para o povo palestino quanto para o israelense, dois Estados vivendo um ao lado do outro não é apenas um sonho, é algo que devemos transformar em realidade", acrescentou.
A secretária de Estado americana havia reconhecido que não tinha um plano concreto para o conflito israelense-palestino, que já dura décadas, mas que suas conversações estariam centradas em tentar reativar o Mapa do Caminho. "Não venho com uma proposta, com um plano", havia declarado Rice aos jornalistas que a acompanhavam no vôo que a levou a Israel. "E eu acho que nenhum plano de ser 'Made in America'", acrescentou na ocasião. "Há muitos atores importantes envolvidos e qualquer progresso na questão israelense-palestino vai implicar todas as partes", ressaltou.
Os palestinos esperam que a visita de Rice impulsione o Mapa do Caminho. "Nós esperamos que sua visita seja o começo do renascimento do processo de paz na nossa região e que conduza à aplicação do Mapa do Caminho", declarou o chefe das negociações palestinas, Saeb Erakat.
Fontes diplomáticas em Jerusalém sugeriram que Rice poderia não estar pressionando para que se aplique um plano de paz devido à fragilidade política de Olmert e Abbas.
Olmert, cuja popularidade caiu 14% nas pesquisas, é alvo de uma investigação criminal por suposto crime de tráfico de informação econômica privilegiada. Abbas, por sua vez, trava uma luta pelo poder com o Movimento de Resistência Islâmica palestino (cujo acrônimo em árabe é Hamas), no poder, que gerou enfrentamentos armados em Gaza nos quais morreram 30 pessoas no último mês.
Os Estados Unidos continuam boicotando o governo do Hamas, ao qual consideram um grupo terrorista. O presidente da Autoridade Palestina pediu a Israel "para pôr um fim a suas atividades de ocupação, a libertar prisioneiros e a pôr um fim aos castigos coletivos, como sua última incursão em Ramallah".
Também disse que os palestinos estão decididos a preservar o cessar-fogo na Faixa de Gaza, acertado em 26 de novembro entre os grupos armados e Israel. "Deslocaremos todos os esforços possíveis para impor a lei e a ordem e para reforçar nossos serviços de segurança", assegurou neste domingo, em um momento em que a administração americana busca obter a aprovação do Congresso para uma liberação de 86 milhões de dólares de ajuda às suas forças de segurança. "Estejam certos de que não utilizaremos para uma causa ruim a ajuda que recebemos, de qualquer parte que venha", afirmou. O Hamas protestou contra esta iniciativa americana, acusando Washington de empurrar os palestinos para uma guerra civil.
A viagem regional de Rice também a levará a várias capitais árabes, onde ela espera obter apoio para a nova estratégia americana no Iraque e contrabalançar a suposta ingerência iraniana neste país, devastado pela guerra.
Neste domingo, Rice viajará para Amã para se encontrar com o rei Abdullah II, da Jordânia, e depois seguirá para Jerusalém, para se reunir na segunda-feira com o primeiro-ministro israelense, Ehud Olmert. Depois de Israel e dos territórios palestinos, Rice seguirá para Egito, Arábia Saudita, Kuwait, Alemanha e Grã-Bretanha.
Ela ressaltou que sua viagem está destinada a fortalecer os moderados na região. "Nós estamos decididos a resistir aos esforços (dos extremistas) e também a fortalecer aqueles que quiserem resistir a seus esforços, porque eu acho que a maior parte do povo no Oriente Médio quer viver em um lugar onde seus filhos possam crescer em paz", afirmou a secretária de Estado americana no sábado.
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