Todos os funcionários do departamento financeiro da Fundação Santo André cederam, em conjunto, uma entrevista ontem à tarde relatando casos de assédio moral e ameaças de demissão por conta da divulgação de um dossiê que compromete o presidente da entidade, Odair Bermelho. No relato, eles explicam o funcionamento do departamento e garantem que não pode ter havido fraudes em notas fiscais naquele setor - como sugeriu o reitor em entrevista publicada no último domingo.
Bermelho é investigado pelo Gaerco (Grupo de Atuação Especial Regional para a Prevenção e Repressão ao Crime Organizado) do Ministério Público Estadual sob suspeita de ter falsificado e adulterado notas fiscais para obter reembolsos de despesas maiores do que o devido. Em entrevista publicada pelo Diário, o reitor negou que tenha cometido esses crimes e afirmou que, se eles ocorreram, havia sido no departamento financeiro.
Os funcionários sabem que colocam o emprego em risco dando entrevista. Mas concordaram em falar, afirmando que não suportam mais as pressões que têm sofrido.
"Não queremos acusar ninguém. Mas resolvemos nos manifestar por conta dessa declaração", disse o gerente do departamento, Paulo Lacorte, acompanhado dos analistas financeiros José Carlos de Jesus e Elaine de Morais Veira, da auxiliar contábil Cristiane Pucci e de um advogado da Fundação. Eles garantem que não seria possível ao departamento cometer tais adulterações, uma vez que aquele setor apenas cumpre determinações de outros setores.
A mecânica de pagamentos seria a seguinte: se um funcionário faz uma viagem pela Fundação, ele mesmo faz uma planilha de gastos quando volta. Isso serve como uma prestação de contas. Então, anexa as notas fiscais ao documento e o encaminha ao departamento financeiro. O departamento faz o cheque referente ao reembolso e o passa ao auditor da Fundação. O auditor analisa os gastos. Se tudo estiver correto, a prestação de contas (já assinada) e o cheque voltam ao departamento financeiro - que envia o pagamento à pessoa que viajou.
Ao receber o cheque, a pessoa deve, ainda, assinar um recibo. Segundo os funcionários, todo o processo leva, no máximo, dois dias. Raramente o departamento faz depósitos - isso é função do beneficiário do cheque, que pode mandar um office-boy ao banco, se preferir.
Explicando este sistema, os funcionários desmentem a versão dada por Bermelho para o recebimento das notas. Na entrevista, o reitor disse que faria a prestação de contas e aguardaria os depósitos, mas que "não ficava conferindo" se eles realmente eram feitos.
Apesar da afirmação que não tinham poder de fiscalização, os funcionários garantem que procuravam a reitoria para falar de alguns gastos. "A situação chegou no limite, sem termos o que fazer. Nunca vi isso na história da Fundação", diz Lacorte, que trabalha na instituição há 30 anos.
O reitor afirma que viajou para o Maranhão acompanhado do auditor da entidade, Afonso de David. Assim, no caso específico desta viagem, o auditor analisou as contas dele mesmo, segundo as informações dos funcionários.
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